sábado, 31 de outubro de 2009
Duas mulheres são mortas em menos de 72 horas por ex-companheiros
Em menos de 72 horas duas mulheres foram mortas, em Salvador, por homens com quem conviveram. No caso mais recente, quinta-feira à noite, Joice Quele Santos dos Santos – que completaria 21 anos no próximo dia 14 – foi assassinada a tiros em casa, em Mussurunga, na presença da filha de 2 anos. A vendedora vinha sendo perseguida há três meses pelo ex-marido, o vendedor Leonardo dos Santos, 23, que cometeu suicídio logo após o crime.
A mulher chegou a mudar-se e prestar uma queixa de ameaça de morte na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), na tentativa de livrar-se das perseguições e agressões físicas. Ela é a sétima vítima de assassinatos praticados por ex-maridos, ex-namorados ou ex-companheiros, desde o início do ano, na capital baiana.
O caso anterior ao de Joice foi o da adolescente Estefane Barbosa Rodrigues, 16, estrangulada pelo ex-namorado Renato Santos, 25, na residência da jovem, no bairro de Dom Avelar, na última terça-feira. Os dois assassinatos foram de mulheres vítimas de homens inconformados com o fim dos relacionamentos.
Nesta sexta pela manhã, no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), familiares de Joice Quele contaram que a vítima mudou-se há três meses para a residência no Setor F, no bairro de Mussurunga, depois do ex-companheiro tê-la ameaçado. “Ele disse ao padrasto da jovem que se Joice não aceitasse uma reconciliação não viveria”, lembrou a tia de Joice Quele, Silvana Santos, 39.
Os pais da comerciária a acompanharam à Deam, onde ela prestou queixa em 11 de agosto último. “Nunca a polícia chamou ele para conversar, o que poderia ter evitado essa tragédia”, reclamou Luciana Pires, amiga da vítima.
Mas os esforços dos pais da jovem foram em vão. Anteontem, Leonardo armou-se de um revólver calibre 38 e seguiu a vítima do seu trabalho, em um shopping de Salvador, até a casa dela. Assim que abriu o portão, ela foi abordada, sendo obrigada a permitir a entrada do agressor. Os momentos que se seguiram foram de desespero para os familiares de Joice.
Antes mesmo que chegasse à sala, Leonardo discutiu com a ex-companheira e disparou a primeira vez contra a cabeça dela. Com o som do tiro, a avó da jovem correu até o portão, seguida pela mãe e padastro de Joice Quele. Desesperada, a avó tomou a neta nos braços e agarrou-se também à bisneta, que presenciou o assassinato.
Tragédia - O padrasto e mãe da comerciária presenciaram Leonardo atirar outras duas vezes contra a cabeça da vítima e, em seguida, se matar com um disparo na boca. “Foi uma tragédia. Minha mãe não consegue esquecer da cena vivida ontem (anteontem) à noite”, lamentou a tia da vítima. O padrasto ainda chegou a socorrer a jovem, mas ela morreu a caminho do hospital.
Vizinhos contaram que Joice Quele era simpática e costumava ficar muito tempo em casa, com a filha. “Mas ele não cansava de acusá-la de traição”, afirmou o primo da vítima, um adolescente de 15 anos. A tragédia foi registrada na 12ª CP, em Itapuã.
A denúncia de Joice era acompanhada em inquérito pela delegada Aydil Carvalho Silva, plantonista da Deam. Ontem, a delegada informou que Joice prestara depoimento em 23 de agosto, quando foi orientada a apresentar as testemunhas para o andamento do inquérito.
Aydil Carvalho confirmou que uma intimação foi entregue a Leonardo para que ele se apresentasse para depor – o agressor jamais compareceu. “Nem mesmo a vítima retornou com testemunhas, apesar de cientificada de que não poderia desistir do feito”, salientou a delegada.