quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Dom Itamar cobra de Wagner prioridade para segurança em Feira: "pouco ou nada se faz"
O arcebispo metropolitano de Feira de Santana, dom Itamar Vian, é o entrevistado desta semana na edição impressa do Tribuna Feirense. Algumas informações não foram publicadas no jornal, que se encontra nas bancas. Dom Itamar anuncia, por exemplo, as transferências de padres neste início de ano. Reclama que a Fazenda Esperança e a casa de acolhimento que a Arquidiocese mantém para pessoas infectadas pelo vírus HIV não têm apoio financeiro de qualquer instituição pública. E fala, ainda, dos danos causados à juventude, em especial, por novelas, programas como o BBB e as músicas de conteúdo que incitam a sexualidade das pessoas. A seguir, o complemento da entrevista com o arcebispo.
Pergunta - A Fazenda Esperança e a casa de acolhimento a pessoas com AIDS têm recebido apoio financeiro de órgãos públicos?
Resposta - Infelizmente, devo dizer que deveríamos ter muito mais apoio. A Fazenda da Esperança não é auto-suficiente, como queremos. Todos os que estão lá trabalham muito internamente. Mas não recebemos nenhum recurso de apoio do governo ou de qualquer entidade. Há outras instituições, como o próprio presídio, onde cada preso custa mais de R$1200,00, e nem sempre recupera as pessoas. Mas o nosso trabalho, que comprovadamente recupera dependentes químicos, e no nosso caso, ajuda pessoas com HIV, não recebe nenhum tipo de apoio do próprio governo e de instituições.
P - Anualmente a Igreja Católica passa por mudança de postos, de titulares de paróquias. Para 2010 já estão programadas estas mudanças?
R - É verdade que em todas as dioceses e congregações religiosas do mundo acontecem transferências. O nosso costume, em princípio, é fazermos transferências no final ou no início de cada ano. Este ano temos somente dez transferências. Em comparação ao ano passado, quando fizemos 18, são poucas. Cinco delas referem-se a diáconos permanentes. As outras são de sacerdotes. Padre Evangivaldo, da paróquia do Cruzeiro, aqui de Feira, vai para Coração de Maria. O padre Jair, de Coração de Maria, vai para Jaguara. O padre Pedro, da paróquia do Caseb, vai para a paródia do Cruzeiro. No fim de 2010 serão mais de 15 transferências.
P - Vivemos uma época em que a mídia, em especial a televisão, explora produtos com conteúdo duvidoso. Até que ponto a sociedade, principalmente os jovens, pode ser prejudicada com novelas e programas como o Big Brother Brasil?
R - Usaria algumas palavras um pouco pesadas. Esse tipo de programação é péssima, horrível, é como jogar lixo dentro das nossas casas, para as famílias.E impressiona como eles têm audiência. A resposta dos empresários é que é dado ao povo o que o povo quer. Se as pessoas assistem, estão se prejudicando. Estava acompanhando uma pesquisa e vi que somente uma rede de televisão, em 24 horas de programação, está colocando 312 cenas de violência no ar, entre anúncios, novelas e notícias. E outra pesquisa mostra que os jovens passam mais tempo à frente da televisão do que nas salas de aula. Queremos combater a violência, mas incentivamos jovens a assistirem tv. Com isso eles são incentivados a praticar atos de violência.
P - E em relação à musicalidade? O rádio toca músicas com letras de dupla conotação, que além de propor danças muito sensuais, têm uma letra que incita a sexualidade. Qual a sua opinião sobre esses movimentos musicais?
R - Sem dúvida nenhuma, a música é uma influência determinante no caráter, na personalidade e na vida das pessoas. Por isso as igrejas utilizam muitas músicas nas missas, nas reuniões, pois é um instrumento de comunicação que penetra nas pessoas. Essas letras de má qualidade levam o jovem a uma irresponsabilidade, diante da vida, da família, do matrimônio, dos amigos, de compromissos sociais. São jovens dentro de uma provisoriedade, ou seja, a filosofia é: “tudo passa, vamos aproveitar o que tem porque não sabemos como será o futuro”. Esta é uma ideologia que deseduca.
P - O senhor sempre demonstra grande preocupação com a segurança pública. Como o senhor vê o trabalho do Estado neste âmbito? Porque cresce tanto a violência em nossa cidade?
R - Durante esses três anos do governo Jaques Wagner tivemos muitas audiências com ele. Sempre tratamos assuntos diversos, e em todas as ocasiões abordamos essa questão. Quando completei 25 anos de bispo, tive a alegria de receber em minha residência a visita dele e da primeira-dama, dona Fátima, e na oportunidade insisti sobre essa situação grave. Ele precisa priorizar mais essa questão em Feira. Em 2008 foram assassinadas mais de 300 pessoas e em 2009 mais de 350. Precisamos buscar as causas disso e combatê-las. Noto que, em geral, todos têm preocupação grande com os efeitos da violência, pois todos temos medo de assalto, seqüestro e tudo mais. Mas pouco ou nada se faz para combater a causa disso.
P - A Arquidiocese planeja alguma ação para melhorar esse quadro em Feira de Santana?
R - Queremos em 2010 desenvolver um trabalho intenso nas escolas Acreditamos que o combate à violência deve envolver a família, as instituições de ensino, e a comunidade organizada. A segurança é um dever do Estado, mas também é dever e direito de todos. Queremos ajudar a reduzir a violência doméstica e vamos incluir a Pastoral Familiar nisto. Temos em Feira cerca de três mil casas que já fizeram Encontro de Casais com Cristo, Cursilho, e outros tipos de encontros organizados pela Igreja. Todos poderiam assumir mais a missão de ajudar as famílias a erradicarem a violência. Esse é o nosso objetivo. A nossa campanha da fraternidade desse ano vai retomar essa questão do cuidado com a vida.