Morador do bairro Novo Horizonte, antigo Matadouro, habitado em sua maioria por remanescentes do Quilombo Flor Roxa, na periferia de Serrinha, a 190 km de Salvador, o menino Felipe Ferreira da Silva, de 12 anos, aluno da 5ª série da Escola Estadual Carlos Freitas Mota, não cabia em si de contentamento. Ele foi o primeiro dos 400 alunos da rede pública sorteados na última quarta-feira de um grupo de 1,6 mil inscritos para estudar no Centro de Educação Científica do Semiárido, implantado naquele município do Território do Sisal, cujas aulas começam na próxima segunda-feira (29).
O Centro de Educação Científica do Semiárido foi construído com o apoio da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), com recursos do Programa Estadual de Incentivo à Inovação Tecnológica (Inovatec). O valor total do projeto foi orçado em R$ 5 milhões, para a implantação e operacionalização pelo prazo de 18 meses, já concluídos.
Chamado popularmente de Escola de Ciências de Serrinha, o Centro, instalado no Colégio Estadual André Negreiros, cedido pela Secretaria Estadual da Educação, em regime de comodato e reformado para abrigar o empreendimento, foi concebido nos moldes do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), no Rio Grande do Norte. Ele tem um padrinho de peso e renome internacional, o médico paulista Miguel Nicolelis, um dos mais renomados cientistas da atualidade, coordenador do laboratório de neurociências da Universidade de Duke, nos Estados Unidos e diretor do IINN-ELS.
Na manhã desta quinta-feira (25), a escola recebeu a visita do secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Eduardo Ramos, que foi inspecionar, no local, os preparativos para o início das aulas. Na visita, Ramos conheceu Felipe, que, como outros jovens estudantes carentes de Serrinha, têm na Escola de Ciências a grande oportunidade de estudar numa escola de excelência e construir um futuro melhor.
Pesquisa - O objetivo do Centro é incentivar as atividades de pesquisa e desenvolvimento e a produção e disseminação do conhecimento científico e tecnológico. Para isso, implantará oficinas e laboratórios de Ciência e Tecnologia, Ciência e Meio Ambiente, Ciência e Robótica e Ciência e Arte. A escola vai atender a 400 alunos da 6ª à 8ª séries, num período mínimo de um ano, de 23 escolas da rede estadual e municipal de Serrinha, dez das quais localizadas na zona rural.
Quem também não escondia a alegria com o Centro de Educação Científica do Semiárido, que contará também com o Instituto Internacional de Biotecnologia e Bioprospecção, em Feira de Santana, para dar suporte aos pesquisadores, foi a diretora da escola onde Felipe estuda, Meryone de Oliveira. "Na minha escola foram cinco sorteados, que terão uma grande chance para desenvolver o conhecimento científico e construir uma carreira futura", comemorou Meryone.
Já a professora Viviane Pinheiro também tinha muito o que comemorar, a sobrinha dela, Aires Souza, de 14 anos, aluna da 7ª série Escola Municipal Fernando Climério da Silva, também foi sorteada. Ela conta que a sobrinha vinha apresentando um baixo rendimento escolar, pois não enxergava direito a lousa, até que passou a usar óculos. "Agora, ela vai poder desenvolver melhor o seu potencial, valorizar seu conhecimento e aumentar a auto-estima".
Outro satisfeito era Érico Lima dos Santos, de 14 anos, sorteado entre os alunos da Escola Municipal Rubem Nogueira. "Vou agarrar esta chance de crescer e aprender, como a maior oportunidade em minha vida, até agora" promete. A ansiedade pelo início das aulas é grande também entre os professores. "Não vejo a hora de começar a dar aula", afirmou o coordenador da Oficina de Ciência e Arte, André Sacramento. "Há uma grande expectativa também entre os professores", acrescentou a assistente pedagógica Verônica Prado.
Cientista Miguel Nicolelis é convidado a dar aula magna
Na visita do secretário Eduardo Ramos, ficou acertado que o cientista Miguel Nicolelis dará uma aula magna na Escola de Ciências de Serrinha, na segunda quinzena de abril. Ramos saiu entusiasmado com o projeto pedagógico do Centro e disse que tentará passar a mesma energia para o governador Jaques Wagner. "Com esta escola, o Governo da Bahia cumpre mais uma etapa do compromisso de dar chances iguais para todos, na busca de reduzir as desigualdade sociais na Bahia", ressaltou.
A professora Dora Montenegro disse que os alunos vão aprender a pesquisar, para poder continuar aprendendo, por conta própria, a vida toda e com autonomia. Ela informou que as salas de aula vão abrigar grupos heterogêneos de alunos, meninos e meninas de idades diferentes e escolas diferentes, com o objetivo comum de aprender e fazer ciência. O prefeito de Serrinha, Osni Cardoso, acredita que a Escola de Ciências vai impactar a educação no município, melhorando a qualidade do ensino, e que os alunos do Centro vão influenciar positivamente os colegas de outras escolas.