quarta-feira, 28 de abril de 2010
Governo Tarcízio comete três erros, em denúncia contra Falcão
O governo Tarcízio Pimenta cometeu três erros políticos, recentemente, em uma só medida, a distribuição de cópia, para a imprensa, de um decreto, do ex-prefeito José Falcão, autorizando reajuste da tarifa de ônibus em Feira de Santana. O documento é de agosto de 1997. A cópia foi entregue a alguns profissionais de imprensa na apresentação do espaço Secom Mídia, o núcleo de comunicação estruturado para receber os jornalistas na Micareta.
O documento foi levantado pela assessoria do prefeito com o objetivo de mostrar que o ex-prefeito teria reajustado a tarifa de ônibus em pleno leito de hospital. A publicação em jornal ocorreu dia 5 de agosto, mesmo dia da morte de Falcão.
Com a denúncia, o governo Tarcízio Pimenta, criticado por ter agendado uma reunião do Conselho Municipal de Transportes para definir percentual de majoração da passagem de ônibus na véspera da abertura da Micareta – quando os diversos segmentos da sociedade estão desmobilizados – demonstraria que fato estranho, mesmo, teria ocorrido no governo Falcão, quando um decreto teria sido assinado mesmo com o prefeito em uma UTI, entre a vida e a morte.
Ao trazer este suposto fato à tona o governo teria como meta diminuir o ímpeto de vereadores de oposição, que atacam a forma como Tarcízio vem tratando o reajuste da passagem de ônibus – no ano passado, a convocação do Conselho também ocorreu às vésperas da Micareta. O mais atingido com o ataque a Falcão seria o filho adotivo do ex-prefeito, o vereador Roberto Tourinho, um dos mais agressivos da mobilização política contra o governo e o Sincol.
Mas a estratégia do governo Tarcízio Pimenta é equivocada e comete pelo menos três erros bem visíveis, sob o aspecto político. Um dos principais é o ataque a um ex-prefeito que já morreu e, portanto, não pode se defender. É uma agressão a um ex-gestor cuja memória é reverenciada por muitos feirenses e que foi eleito para governar a cidade por três mandatos em décadas diferentes – anos 70, 80 e 90.
Outro equívoco é atacar a honra de um ex-prefeito já falecido para tentar fazer com que a denúncia possa respingar em vereadores oposicionistas, especialmente o filho deste antigo gestor, Roberto Tourinho. Mesmo que Falcão tivesse procedido como está sendo denunciado, ninguém mais além dele e quem mais tenha assinado o decreto poderia ser responsabilizado.
Finalmente, há que se lamentar a iniciativa do governo Tarcízio Pimenta, ainda, pelo fato de que a denúncia contra o ex-prefeito sepultado há 13 anos, até prova em contrário, é infundada. Afinal, pelo que apurou o Tribuna Feirense, o decreto de reajuste da tarifa de ônibus não foi assinado por Falcão no “leito de morte”, como tentou impingir-lhe o governo atual. Conforme esclareceu Roberto Tourinho, o ex-prefeito encontrava-se lúcido, e em casa, até 15h do dia 5 de agosto, data da publicação do decreto em jornal, uma terça-feira.
Se o decreto é datado de 5 de agosto, para que fosse publicado em jornal na manhã daquela data, teria que ter sido assinado na véspera, dia 4. Afinal, como todos têm conhecimento, jornais publicam conteúdo que recebem na véspera de cada edição. Não há como o prefeito assinar um decreto hoje, terça, e o jornal publicar no mesmo dia.
No dia 4 de agosto, quando possivelmente assinou o decreto e o encaminhou ao jornal para veiculação, o então prefeito se encontrava em sua residência, muito antes de ocupar um “leito de morte”. Realizou, inclusive, uma longa reunião com vereadores de sua bancada, entre 20h da segunda-feira, dia 4, e 1h da madrugada da terça, dia 5, da qual participou o atual presidente da Câmara, Carlito do Peixe. Apenas foi internado por volta das 17h30min, em um hospital de Salvador, falecendo em torno da meia-noite.
Essa versão, que até aqui é reconhecida como verdadeira, desqualifica completamente a denúncia do governo Tarcízio Pimenta, de que Falcão teria assinado o decreto do reajuste da tarifa em seu “leito de morte”. Quem passou o documento para o prefeito não se atentou para esses detalhes e Tarcízio acabou embarcando em uma denúncia que, além de infeliz por envolver um ex-prefeito já sepultado, não procede.
É um erro grave recorrer a esse tipo de expediente, para defender-se de críticas, quaisquer que sejam, de quem quer que seja, fundamentadas ou não. Utiliza-se de um recurso que não condiz com uma administração que quer manter o debate político em uma boa estatura.
Tourinho reagiu, em discurso na Câmara, com duas ações. De forma competente, esclareceu e desqualificou a denúncia, com as informações sobre como foram as últimas horas de Falcão. Com o testemunho de Carlito do Peixe, ele provou que o decreto do reajuste da tarifa não foi assinado em leito de morte.
O complemento é que ocorreu de maneira destemperada, com ofensas ao prefeito, chamado por ele de "mentiroso" e "covarde". Disse também que para falar de Falcão, o prefeito deveria "lavar a boca com creolina", entre outras coisas. Não são termos para se empregar em um debate político. Poderia ter encontrado termos e frases de efeito de outro nível, por mais grave que tenha sido a provocação - e nesse caso, foi muito grave, realmente.
Seu erro de reação, no entanto, é de proporção bem menor que os que foram cometidos pelo governo Tarcízio Pimenta neste episódio. O nível da provocação, de certo modo, até justifica sua indignação. Está na hora de o governo parar com essa "caça" ao vereador Roberto Tourinho. Ela não está lhe rendendo frutos. Ao contrário, vem sendo verdadeiro tiro no pé.
FOTO:JORNALISTA VALDOMIRO silva e prefeito Tarcizio pimenta