domingo, 4 de abril de 2010
LEIA ENTREVISTA COM OTTO ALENCAR
Por Rafael Rodrigues
Bahia Notícias: Como acha que pode contribuir, tanto eleitoralmente, como na gestão, se for eleito, na chapa do governador Jaques Wagner (PT)?
Otto Alencar: Naturalmente, estou no Partido Progressista, um partido forte e tem vários deputados, vários prefeitos, e eu entro para somar, para contribuir. O partido em si já vem colaborando com o governador Jaques Wagner a já algum tempo e eu posso, nesse trabalho, contribuir com mais forças políticas, que sempre estiveram no passado ao meu lado e podem vir agora para formar essa aliança conosco. Eu acho que isso pode contribuir. No governo, quem determina é o governador, eu vou ser vice-governador, eu espero que possamos ganhar, e quem determina é o governador. Não posso escolher cargos. Sou vice-governador e poderia ficar nessa função que me honra muito, não tem nenhum problema.
BN: O senador Antônio Carlos Magalhães Jr. (DEM), em entrevista à Terra Magazine, disse que os oposicionistas que estão se aproximando do governador Jaques Wagner (PT), o fazem para "manter em suas posições de poder". Em sua avaliação, estas alianças podem ser "prejudiciais", pois a população observará que se tratam de "posições ideológicas absolutamente diferentes".
OA: Não prejudica nada. A vinda do senador César Borges ajuda muito e não prejudica em absolutamente nada. Isso é uma declaração até extemporânea, fora do contexto da política atual. Acredito que o senador tenha a opinião dele, mas não existe de dar prejuízo. Pode contribuir. É soma, é união, é conjunto de forças que estão se agregando agora. Quem me colocou pela primeira vez para votar no Lula e fazer aliança com o PT foi o pai dele, o senador Antônio Carlos Magalhães em 2002. Eu era governador apoiando Ciro Gomes no primeiro turno e no segundo turno apoiando Lula. Eu votei no Lula, não sei se o Júnior votou, mas eu votei. O senador pediu, eu votei e trabalhei pelo Lula, contra o José Serra. Então essas composições acontecem. O senador ACM foi um senador importante, ministro importante, homem que contribuiu muito para a Bahia. Mas quando ele via que tinha que fazer as alianças ele fazia, de acordo com o momento, mas também da necessidade da Bahia e do Brasil. Ele se aliou a Tancredo Neves e a vida inteira foi aliado dos militares. São coisas que acontecem e ninguém deve ignorar uma coisa dessa. O senador ACM Jr., por nós estamos nos aliando a um adversário dele, dá essa opinião, mas opinião de quem é adversário é sempre suspeita. É uma declaração infantil.
BN: O que o senhor pode dizer que tirou de aprendizado em sua vida na caminhada política ao lado do senador Antônio Carlos?
OA: Eu me elegi em 1986 deputado estadual pela primeira vez. Fiquei na oposição em um primeiro momento, no governo de Waldir Pires, e de Nilo Coelho. E depois exerci vários cargos na Bahia pela indicação do senador Antônio Carlos. De secretário da Saúde a governador. Disputei três eleições de deputado e fui o mais votado duas vezes. Em 1990 e em 1994. Em 90 tive 36 mil votos, e em 94 tive 104 mil votos. Votação expressiva na época. Depois fui vice-governador e fui até convidado para ser vice-governador na época de Luis Eduardo Magalhães, no passamento dele, César Borges era o governador e eu fiquei vice de César Borges. Depois fiz a sucessão e saí da política. Agora não quero dizer que o senador ACM Jr. deve saber que quando o senador Antônio Carlos, pai dele, foi político, eu sempre estive ao lado dele, com lealdade, com fidelidade, com trabalho e cumpri bem, dentro do contexto da época, dentro das minhas possibilidades, todo mundo tem dificuldades, cumpri bem a minha missão. Enquanto ele esteve vivo eu não tive nenhum momento em que pudesse ficar contra a posição dele. Eu não deve satisfação a ACM Jr. nem a nenhum outro político, mesmo porque aquele com quem eu tinha compromisso infelizmente, eu gostava muito do senador, não está entre nós mais.
"Sei que se eu fui convidado para ser vice-governador, não fui para ser senador, é porque alguém fora disse
que eu ainda tenho alguma coisa para somar, alguma lembrança do que eu fiz, do que eu realizei"
BN: O senhor está há cerca de oito anos longe da política. Acredita que mesmo com esse hiato, ainda tem capacidade de transferir apoio e votos para o governador?
OA: Não sei. É uma coisa muito difícil de se avaliar. Às vezes até pesquisa erra. Eu não sei qual o meu potencial. Sei que se eu fui convidado para ser vice-governador, não fui para ser senador, é porque alguém fora disse que eu ainda tenho alguma coisa para somar, alguma lembrança do que eu fiz, do que eu realizei. Acho que é por aí. Eu trabalhei na Bahia toda. Além da militância política, eu tenho uma carreira de médico, de 37 anos de formado. Fui professor da Universidade Federal da Bahia, fui professor assistente, e quando todo mundo pensava em dinheiro eu passei mais de seis anos trabalhando no Hospital Irmã Dulce, toda quinta-feira de manhã, operava de tarde. Remuneração zero. Não era porque queria ser político. Trabalhei no Hospital das Clinicas, no pronto-socorro, tenho muitas cirurgias feitas, tenho uma história de vida. Às vezes vou em alguns municípios e me conhecem mais como médico do que como político. Operei muitas pessoas do interior e da capital também, sou ortopedista. Então é aquela coisa. A gente trabalha muito e o trabalho tem algum efeito. Ninguém esquece o trabalho.
BN: O cargo de vice tradicionalmente costuma ter pouco destaque político durante o mandato. Tem como fazer diferente, se destacar, em uma função que não tem tanto poder político?
OA: Vice-governador eu conheço perfeitamente, porque já fui. Agora isso depende muito da missão que lhe é dada pelo governador. Depende muito do governador Jaques Wagner. Eu não vou exigir nenhuma posição administrativa ou política dele. Ou seja, eu não vou perguntar o que é que ele tem para me dar. Eu tenho que perguntar para ele o que vai exigir de mim primeiro para ganhar, e depois para governar. Não vai ter nenhuma dificuldade comigo. Não tenho ambição. Sou uma pessoa completamente tranqüila. Não creio que tenha nenhuma dificuldade.
BN: O mal-estar criado na última semana, devido à quebra de acordo sobre a posição que o PP ocuparia na chapa, que inicialmente era o senado, gerou algum desconforto com o senhor e os líderes do partido? Chegou-se a dizer na imprensa que o senhor não queria mais filiar-se ao PP.
OA: Eu nunca disse isso, que para o PP não ia mais. Eu não tiver nenhum problema de maior relevância com o PP, com o presidente, com os deputados. Absolutamente nenhum problema eu tive com eles. O que houve foi o governador falou que eu ia para o senado e acabou indo pra vice. E aí teve o ajuste da chapa, coisa já que se resolveu. Eu tenho admiração grande pelo presidente Mário Negromonte, uma pessoa que eu confio muito. Ele é um grande presidente, e uma pessoa equilibrada, moderada. Só se pode esperar boas ações na presidência de alguém moderado. Os exaltados não podem ser presidentes porque terminam complicando muito as coisas.
BN: Como está a luta do senhor pela sua saúde?
OA: Estou lutando contra o câncer que eu tive, e depois tive problema cardíaco. Mas acho que descobri o remédio para isso tudo que é a política.
BN: Esse remédio não contraria a vontade da família?
OA: Não, minha família é muito estável, que me apóia muito então não tem nenhum problema. Eu acho que eu estando com vontade de fazer uma coisa que me dá alegria, me dá felicidade, todos vão apoiar. Não tem nenhum problema não.
"Eu já vi muita gente vaiando e depois aplaudindo. Isso muda. Às vezes o jogador de futebol
sai vaiado, e em outro dia sai aplaudido. Na política é a mesma coisa"
BN: O governador fala que as últimas 9 pesquisas de consumo interno do PT apontam a vitória no primeiro turno. Acredita que isso pode acontecer?
OA: Ninguém deve falar isso. Ninguém ganha de véspera, você tem que trabalhar, lutar para conquistar o votos das pessoas. Isso aí é uma coisa que o tempo vai dizer. O governador é muito qualificado, está fazendo um governo extremamente positivo, com várias obras importantes na capital e no interior, mas eu acredito também que ele vá disputar a eleição com dois candidatos que tem um currículo substancial. Um é ex-governador, o outro é ex-ministro, então é uma disputa que vai ser renhida. O que eu espero é que seja dentro da ética, do respeito, e eu acredito que será assim, porque os concorrentes têm essa conduta.
BN: A resistência que setores da esquerda, principalmente do PT, têm demonstrado à adesão de ex-carlistas à chapa do governador Wagner, inclusive com vaias ao senador César Borges (PR), pode atrapalhar?
OA: Eu já vi muita gente vaiando e depois aplaudindo. Isso muda. Às vezes o jogador de futebol sai vaiado, e em outro dia sai aplaudido. Na política é a mesma coisa. Amanhã um cara faz um gol contra, vaia, mas se faz a favor, aplaude.
BN: Muito se especulou que o vice-governador da chapa de Wagner estava sendo negociado sob a perspectiva de assumir o mandato por 9 meses, caso eleito, período em que o governador terá que se descompatibilizar para disputar a eleição para o senado em 2014, se assim for a vontade do petista. Projeta esta situação?
OA: Não sei. O que eu posso dizer é o seguinte. Eu aceitei o cargo de vice-governador em uma aliança que tem um governador, que normalmente é quem decide a sucessão, e não o vice. Ele é que decide. Quando estava como vice, quem decidiu foi o governador César Borges e o senador Antônio Carlos. Decidiram me pedir para fazer a sucessão e eu fiz. Amanhã, se Deus nos ajudar e o povo também nos ajudar, a gente ganha às eleições e na sucessão de Wagner ele vai dizer qual a posição que eu vou ocupar, se eu vou fazer a transição, se eu vou para outro cargo. Isso é uma coisa do futuro, e depende muito dos partidos coligados. Estou indo com um grupo político em que a maioria dos partidos são de esquerda. Então eles vão pesar muito essa decisão. Tem o PCdoB, o PSB, o PT, todos pesam muito na decisão. Ninguém se faz sozinho. É um conjunto de forças que estão reunidas para isso. É um momento lá distante ainda. O que temos que fazer agora, que o governador falou, e pediu muito, e é um traço da minha personalidade, é ter humildade, trabalho, luta, sinceridade e buscar o apoio popular. O juiz do político é o povo. Então vamos trabalhar para ter os votos.
fonte:bahia noticias