Às vésperas do Dia das Mães, a dona de casa Alaíde Abade recebeu a notícia que nenhuma mãe gostaria de receber: a morte da filha Irislene Abade da Silva, de 18 anos. A jovem, que morreu na última terça-feira, no Hospital Ernesto Simões, no Pau Miúdo, e foi sepultada ontem à tarde no Cemitério Quinta dos Lázaros, é a 26ª vítima fatal da meningite meningocócica no estado e a terceira vítima fatal da doença em apenas quatro dias. Uma vizinha da vítima, que morava em Fazenda Grande do Retiro, também está internada com a doença no Hospital Couto Maia (HCM) e, segundo moradores do bairro, outros dois jovens foram internados ontem com sintomas da doença.
Conforme relata a mãe de Irislene, ontem a filha saiu bem cedo para trabalhar e às 11 horas manifestou uma forte dor de cabeça, acompanhada de rigidez na nuca, vômitos, febre e diarreia intensa e voltou para casa. Por imaginar que se tratava de uma virose, a mãe a levou para a emergência de um posto de saúde da região, mas a unidade médica estava lotada e ela seguiu com a filha para o Hospital Ernesto Simões.
A dona de casa relatou que quando chegou ao hospital foi informada pelos atendentes que o atendimento estava sendo realizado de cinco em cinco horas e que na unidade não havia disponível nenhuma maca e nem oxigênio para a vítima, que já apresentava falta de ar e muita dor no corpo. “Eu mendiguei atendimento e os funcionários nada faziam. Resultado: minha filha faleceu, em meus braços, porque não tinha onde ela se encostar”, indignou-se.
A irmã de Irislene, Leila Silva, alega que além do sofrimento, ainda teve que saber lidar com o desdém do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, que informou que a política da Instituição não permite instalar pessoas infectadas com a meningite. “Devido à recusa, minha irmã ficou o tempo todo no Ernesto Simões, onde foi feito um exame através do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen- BA), que confirmou ontem à tarde que ela havia morrido com a meningite bacteriana”, disse. Ainda segundo a irmã, os maqueiros do hospital se recusaram a transferir a jovem para o caixão.
OUTRO CASO - Mas as queixas dos moradores não acabam por aí. De acordo com Maria Amélia, vizinha de Ana Cláudia de Jesus Santos (30) – vizinha de Irislene que está internada no HCM desde o último domingo -, custou muito para o Ernestos Simões identificar a doença. “ Meu marido levou Cláudia várias vezes no Ernesto Simões, na terceira vez a meningite C foi diagnosticada e assim ela felizmente foi transferida para o Couto Maia. Sinto que a equipe médica do Ernesto Simões está esquecida que lida diariamente com vidas preciosas. Digo isso porque eles alegavam o tempo todo que Cláudia apresentava um estado de virose intenso. Hoje ela já saiu da UTI e foi para enfermaria. Infelizmente, o mesmo não aconteceu com Irislene”, lamentou.
Depois da morte da jovem, uma equipe da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde esteve no bairro e disponibilizou antibiótico para pessoas que conviveram com Irislene e Ana Cláudia, que continua internada. Mas a presença dos profissionais não tranquilizou a população, que segue preocupada com o alastramento da doença.