terça-feira, 6 de julho de 2010
Após debate de ideias, campanha deve descambar para "denuncismo", dizem especialistas
Com início oficial nesta terça-feira (6), a campanha eleitoral de 2010 deve começar em um tom mais propositivo para, em seguida, descambar para a troca de acusações e o "denuncismo", ao menos no que diz respeito à disputa pela Presidência da República, avaliam especialistas ouvidos pelo UOL Eleições.
Influenciada pela tática governista de comparar os governos Lula e FHC para que a candidata Dilma Rousseff (PT) aproveite a popularidade do presidente, a disputa deve ter, em princípío, "um confronto de ideias", segundo a cientista política Maria do Socorro Braga, da UFScar (Universidade Federal de São Carlos).
"José Serra [candidato do PSDB à Presidência] não tem muita saída hoje. Se ele e Marina Silva [candidata do PV à Presidência] não lançarem alternativas, quem ganha é a Dilma", afirma.
"Dilma e o PT querem continuar nesta tese de comparar os governos de Lula e FHC e jogar contra o Serra que ele vai repetir tudo que FHC fez de errado. A situação do Serra é complicada", diz David Fleischer, cientista político da UnB (Universidade de Brasília).
A partir desta terça-feira, a Lei 9504 permite propaganda eleitoral em carros de som pelas ruas e alto-falantes nas sedes do partidos entre as 8h e as 22h. Comícios poderão ser realizados pelos partidos e coligações entre as 8h e as 24h. Além disso, também está liberada a a propaganda na internet.
A propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV, por sua vez, será realizada entre os dias 17 de agosto e 30 de setembro para o primeiro turno. No segundo turno, irá ao ar entre 16 e 29 de outubro.
Segunda fase
Em um segundo momento, a corrida eleitoral deve passar a conviver com ataques mútuos entre os postulantes. "Em toda campanha vão lançar os aspectos negativos dos candidatos, é necessário para se defender", diz o cientista político Ricardo Caldas, também da UnB. "Essa coisa de dizer que a campanha vai ser 100% limpa eu acho muito idealista", afirma. "A campanha pode cair no denuncismo, cada um tem rabo para se pisar", complementa Fleischer.
"Todo publicitário tem que ter um saquinho de maldades. Não quer dizer que vá usá-lo, mas tem que ter. Se a outra parte usar, você usa também. E essa saquinho de maldade tem níveis diferentes", afirma Ricardo Amaral.
Para Maria do Socorro, da UFScar, se houver uma "campanha denuncista, nenhum desses partidos conseguirá se manter de pé. Isso vai vir, mas não com a força de ser um trunfo na campanha", opina.
Líder do PSDB na Câmara, o deputado João Almeida admite que, durante a disputa, "chega uma hora em que os candidatos não se aguentam e pode haver um arremesso (ataque)". Ainda assim, diz, "essa campanha vai ser mais propositiva".
A tese da troca de ataques, porém, não encontra respaldo na avaliação do senador gaúcho. "Dilma e Serra têm um histórico de oito anos de governo cada, com Lula e FHC, e os dois têm oito anos de oposição; se você reparar, o que eles têm a dizer um do outro é quase a mesma coisa", afirma. "Na TV não vai ser um bota para fora porque complica os dois lados", diz.
Lula
Com 78% de aprovação popular segundo esquisa Datafolha divulgada no início deste mês, o presidente Lula deve ser o principal cabo eleitoral desta disputa, concordam os especialistas consultados por UOL Eleições.
Além disso, de acordo com a análise de Maria do Socorro, a transferência de votos de Lula para Dilma Rousseff deve se aprofundar. "Ele vai colar na Dilma principalmente na região Sul, onde a votação dela é menor que a do Serra", diz. Segundo levantamento divulgado no último sábado (3) pelo Ibope, Dilma e Serra estão empatados com 39% das intenções de voto cada um.
"Se Dilma chegar a 43% nas próximas pesquisas, ela praticamente já ganhou no primeiro turno", afirma David Fleischer. "Ela não está lá ainda, mas está bem perto de faturar no primeiro turno, se Serra e Marina continuarem como estão", diz.
"Como a Dilma está crescendo muito, talvez nem seja necessário o Lula tirar licença para fazer campanha", afirma Ricardo Caldas. "Esse foi um dos motivos pelo qual o José Alencar [vice-presidente da República] teria desistido de se candidatar ao Senado".
Perdedores e vencedores
Os especialistas avaliam que, ao fim do processo eleitoral, o PMDB deve manter o maior número de parlamentares no Congresso Nacional, enquanto o DEM deve encolher e o PT aumentar sua bancada, ao passo em que o desempenho do PSDB estará diretamente ligado ao sucesso da candidatura de José Serra à Presidência.
"O PMDB vai continuar como fiel da balança, independente de quem vença", diz Ricardo Caldas, da UnB. "O PMDB é interessante: não depende de uma candidatura presidencial própria para se manter nos legislativos", afirma Maria do Socorro.
Para o cientista político David Fleischer, "o DEM não vai conseguir eleger nem 50 deputados, e o PSDB tem que se cuidar porque vem caindo em número de prefeitos e vereadores - não deve passar de 60 deputados". Já o crescimento do PT, na avaliação da especialista da UFScar, deve se dar "principalmente no Nordeste, onde o DEM era mais forte". "Mas não temos a dimensão", pondera.
Estados
Em relação a disputa nos Estados, Fleischer avalia que serão realizados entre 12 a 15 segundos turnos. "Tem alguns pleitos estaduais que vão ser bem aguerridos", afirma.
Com a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de verticalizar as eleições em termos de propaganda, alguns palanques vão se complicar", diz, e referência à decisão do tribunal que impediu que candidatos à presidência aparecessem em peças de candidatos a governador cujas alianças sejam distintas daquelas celebradas em nível nacional. O órgão, no entanto, adiou a decisão final sobre a verticalização para agosto.
O especialista cita o exemplo do candidato a governador do Distrito Federal pelo PSC, Joaquim Roriz. "Roriz não vai poder usar Serra na propaganda porque o PSC fechou nacionalmente com a Dilma", diz.
"O governo federal precisa ter apoio nos Estados para aumentar a governabilidade, por isso eles vão investir para ter partidos da base aliada nos Estados", diz Maria do Socorro. "Quanto maior o numero de parceiros eleitos, maior a tendência de se eleger o candidato à Presidência da República. Há uma supercorrelação dessas eleições todas”, afirma.