terça-feira, 26 de outubro de 2010
Atrás nas pesquisas, Serra adota tom combativo em debate na TV
Atrás nas pesquisas de intenção de voto, o candidato José Serra (PSDB) saiu do tom moderado e adotou uma postura mais combativa contra a adversária na disputa presidencial, Dilma Rousseff (PT), no debate da TV Record.
Mais sério do que em debates anteriores, o tucano foi ao ataque usando os escândalos na Casa Civil, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), e tentou inverter os ataques feitos a ele pela campanha petista, que o acusa de defender a privatização. Nos temas da banda larga e da Petrobras, sugeriu que quem trabalhou pela privatização foi Dilma.
Em debate, Dilma e Serra trocam críticas e acusações sobre infraestrutura e escândalos
Privatização da Petrobras e do pré-sal domina segundo bloco de debate
A candidata petista rebateu os ataques e, em geral, contra-atacou. Quando o assunto foi a Casa Civil e Erenice Guerra, Dilma trouxe novamente à tona as acusações envolvendo o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto. Insistiu no assunto por três vezes.
ESCÂNDALOS
Serra foi o primeiro a abordar a temática dos escândalos, e citou a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que hoje prestou depoimento à Polícia Federal no caso em que é acusada de tráfico da influência.
Dilma se apressou em responder com um argumento já usado em outros debates, e partiu para o contra-ataque, ao tratar de Paulo Preto.
"A seis dias da eleição nós temos um fato importante. A ex-ministra depôs na Polícia Federal. O que dizer do Paulo Preto, que quando te ameaça vocês escondem o que ele faz? Ele está envolvido na operação Castelo de Areia por desvio de recursos", disse a candidata petista.
Serra rebateu afirmando que a campanha petista inventa "um rosário de mentiras" sobre ele.
"Vocês inventam uma coisa de que teria havido uma contribuição que eu não teria recebido e ele teria recebido. Primeiro que eu seria a vítima. Quem tem que investigar é a Polícia Federal. Ele sequer foi chamado para depor"
Dilma insistiu no assunto Paulo Preto.
"A Polícia Civil de São Paulo poderia investigar o fato de que ele foi preso por receptação de joia roubada. Além disso, vocês poderiam pelo menos ter aberto uma sindicância para investigar esses malfeitos. Tem gente que investiga e pune, tem gente que acoberta e considera a pessoa que fez o malfeito competente e séria".
Serra, então, recorreu aos escândalos na Casa Civil novamente.
"Ela [Dilma] teve como braço direito uma mulher que montou um esquema amplo de corrupção. Aliás, foi a mulher que a Dilma deixou pra ocupar o lugar dela".
A petista fez graça quando Serra usou novamente a expressão "trololó".
"O candidato Serra quando está pressionado inventa essa historia de trololó. É muito importante que responda pelo senhor Paulo Preto. É braço direito, esquerdo e se duvidar é a cabeça também."
PRIVATIZAÇÃO
Nas quatro perguntas do segundo bloco, o assunto privatização foi debatido ou citado pelos presidenciáveis com os mesmos argumentos usados na propaganda eleitoral.
Serra acusou Dilma de "mentirosamente" dizer que ele quer privatizar o pré-sal. No entanto, segundo o tucano, a petista --como presidente do Conselho de Administração da Petrobras-- entregou a exploração do petróleo brasileiro para 108 empresas privadas, "metade para estrangeiras e metade nacionais".
Segundo Dilma, as concessões foram dadas antes da descoberta do pré-sal, um "bilhete premiado".
"Você está misturando um momento quando não existia o pré-sal, com o momento que existia."
Ela ainda citou a entrevista do deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES) à Folha desta segunda-feira na qual afirma que a Petrobras não tem como explorar sozinha o pré-sal.
"Uma pessoa importante do PSDB declarou que está errado esse modelo de operar a Petrobras", afirmou a petista.
Em sua resposta, Serra afirmou que favoreceu até para uma multinacional White Martins.
"Tínhamos uma regra do jogo. essa regra valia para esse petróleo de baixa qualidade. quando a gente viu que havia um bilhete premiado, nós mudamos o modelo", rebateu Dilma.
Ao ser questionado pela adversária sobre a criação de empregos, Serra voltou a falar do petróleo.
"Eu duvido que alguém tenha entendido o que a Dilma explicou", afirmou o tucano. Segundo ele, a petista foi a pessoa que mais entregou a exploração de petróleo para empresas privadas no mundo.
"O que eu quero fazer é restatizar a Petrobras", afirmou Serra.
"Você ficou caladinho quando quiseram mudar a Petrobras para Petrobrax", respondeu Dilma sobre a ideia surgida no governo Fernando Henrique Cardoso.
"O diretor de marketing teve uma ideia ao meu ver tola", disse o tucano sobre a questão.
O presidenciável ainda afirmou que o governo entregou parte da Petrobras para o comando do ex-presidente Fernando Collor. Na sua última fala, no terceiro bloco, Serra afirmou que houve também na administração Dilma na Petrobras privatização do pré-sal.
Outro assunto debatido no bloco foi a segurança com os candidatos apresentando propostas já ditas durante a campanha.
Na quarta pergunta, Dilma questionou Serra sobre o desmatamento. Na discussão, a petista defendeu as metas fixadas pelo governo Lula para reduzir em 39% as emissões de gás carbônico do país até 2020. Segundo ela, isso inclui reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia e em 40% no cerrado.
"Temos um compromisso claro com essas metas", afirmou. Ao tréplica, Serra prometeu fazer o "desmatamento zero" na Amazônia. O tucano disse ainda que, enquanto Dilma no governo, se posicionou contra o Fundo Internacional do Meio Ambiente.
PAC
Questionado por Dilma sobre o PAC e projetos de investimento para o Nordeste, Serra disparou contra o programa e afirmou que não há "planejamento" nem "entrosamento" entre as obras.
"Teve um índice de realização pequeno. Talvez um sétimo foi de fato realizado", disse. "Há muito mais saliva, muito mais propaganda do que realização".
O tucano criticou também a lentidão nas obras da Transnordestina e da ferrovia norte-sul.
Dilma rebateu, e acusou Serra de estar "colando" os programas do governo federal.
"No seu programa de TV você fala que vai fazer justamente as obras do PAC. Nós tiramos do papel e estamos fiscalizando".
MST
No último bloco, Serra questionou Dilma sobre o MST, que, segundo ele, "é um movimento político, que usa a reforma agrária como pretexto". O tucano disse estar preocupado com o fato de que o governo "tem dado dinheiro" ao movimento.
"O MST tem a sua política e o governo federal sempre teve a dele. Não tratamos movimentos sociais nem com cassetete nem com repressão. Eventos como aquele dramático que foi a morte de vários agricultores em Eldorado dos Carajás. As invasões de terra diminuíram no governo do presidente Lula e certamente diminuirão no nosso. O MST é uma coisa, nós somos outra. Em vários momentos tivemos conflito, mas em outros estabelecemos diálogo", devolveu Dilma.
Serra lembrou de um episódio em que Dilma vestiu o boné do movimento e depois disse que jamais voltaria a vesti-lo. O tucano rebateu as falas de Dilma de que o governo Lula assentou mais pessoas do que o governo FHC e de que o número de invasões de terra diminuiu no atual governo.
"As invasões aumentaram com relação ao governo passado. Antes teve 800 por ano. Nesse ano teve 900. E não são só invasões, são também destruições. Uma coisa é reforma agrária, outra é a violência pra quebrar a ordem jurídica", afirmou Serra.
Dilma subiu o tom e acusou o tucano de não cumprir promessas.
"Você me obriga a fazer um comentário. Em matéria de quebrar proposta, você bate qualquer regra. Você prometeu pro eleitor paulista que não sairia candidato quando era prefeito, registrou em cartório e infelizmente você rasgou uma proposta que você registrou em cartório. Eu não concordo com tudo o que o MST faz. Nós sempre deixamos claro que éramos pela legalidade. Agora, o que não esta certo é você achar que o MST é questão de policia, e não de política social."