quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Dilma e Serra disputam os votos dos evangélicos
Eles já representam quase 30% da população brasileira, segundo estimativas do IBGE, e o apoio deles para o segundo turno das eleições presidenciais vem sendo altamente cobiçado pelos dois candidatos. Tanto Dilma Rousseff (PT) como José Serra (PSDB) sabem que o apoio dos evangélicos foi um dos fatores que deu 19% de votos a Marina Silva (PV) no primeiro turno (ela é membro da Igreja Assembleia de Deus) e pretendem atrair para si essa fatia do eleitorado.
No último Censo do IBGE, feito no ano 2000, foram contabilizados 26,1 milhões de evangélicos (15,4% da população brasileira). A estimativa é que, neste ano, quando está sendo feito um novo Censo, eles cheguem a 55 milhões de brasileiros (28,7%).
Junto ao crescimento populacional, a representação política dos evangélicos também cresceu bastante, ao ponto de ter sido criada na Câmara dos Deputados uma Frente Parlamentar Evangélica, em 2003. “Temos uma disciplina, diferente de outras religiões, que não conseguem coesão em torno de um candidato”, explica o vereador Sidelvan Nóbrega (PRB), ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus.
Apesar dessa disciplina, no momento os evangélicos estão divididos, dizem as lideranças políticas próximas a esse eleitorado. Embora o consenso em torno do nome de Marina Silva fosse grande, principalmente dentro da Assembleia de Deus, agora não há mais unanimidade.
Dilma vem sofrendo uma forte anti-propaganda por causa das posições do PT favoráveis ao aborto e perdeu votos neste segmento, de acordo com as pesquisas de opinião feitas no primeiro turno, enquanto Serra se fortaleceu e está explorando bem o assunto a seu favor.
“Esse assunto (o aborto) realmente preocupa o pessoal. A campanha de Dilma vai ter que mostrar um posicionamento diferente para poder conquistar esses eleitores”, analisa o vereador Erivelton Santana (PSC), eleito deputado federal. Ele é membro da Assembleia de Deus.
Em pesquisa Ibope divulgada no final de setembro, Dilma possuía 42% das intenções de voto entre os evangélicos, apesar de ter registrado 50% das intenções de votos totais na pesquisa. Serra obteve 31% nesse segmento, enquanto Marina registrou 18%. Os percentuais de ambos entre os evangélicos foram superiores ao desempenho total, de 28% para Serra e 12% para Marina.
Diversos cientistas políticos têm creditado o bom resultado de Marina nas urnas ao voto evangélico. Foi esse segmento que a aproximou do eleitorado de baixa renda. A sua candidatura, em maior parte, recebeu apoio de eleitores com altos níveis de escolaridade e alta renda.
Difundida por meio de uma técnica conhecida como marketing viral, a ideia de que Dilma é favorável ao aborto e ao casamento gay encheu os e-mails de evangélicos nos últimos meses. Não só isso: o comentário também chegou a ser feito nas igrejas, onde os fiéis recebem uma orientação política.
Sem reação - Neste ponto, a máquina petista de propaganda tem sido menos eficiente, porque não está conseguindo explorar a mesma fraqueza de seu adversário. Serra, quando era ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso, assinou norma para a realização de aborto no Sistema Único da Saúde em casos de risco de vida para a grávida ou gravidez após estupro.
Nesta campanha, entretanto, ele tem se posicionado contra o aborto. Dilma também tem dito que é contrária, mas defende atendimento de saúde pública para mulheres que recorrem ao método.