terça-feira, 5 de outubro de 2010
Salvador possui o segundo maior índice de jovens que tiveram relação sexual
Dentre as capitais brasileiras, Salvador possui o segundo maior índice de adolescentes frequentando o 9º ano do ensino fundamental que já tiveram relação sexual (37,6%), atrás apenas de Boa Vista, capital de Roraima, com 40,4%, conforme Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizada pelo IBGE. O número mostra que os adolescentes dessa faixa de ensino que têm, em média, 14 anos, começam cedo a vida sexual.
Aos 14 anos, Graciele Passos aguarda a chegada do primeiro filho. Grávida de 8 meses, ela interrompeu os estudos, mas garante que pretende voltar a estudar em breve. “Estudei até o ano passado e fiz até a quarta série”, conta. Graciele é um exemplo de adolescente que não teve aulas de educação sexual na escola onde estudou. Em casa, teve acesso a algumas informações, mas a gravidez sem planejamento não deixou de acontecer. "Minha mãe sempre dizia que era para eu me prevenir, usar camisinha", ela conta.
Transversal – Atualmente, a sexualidade é tida como tema transversal nos parâmetros curriculares nacionais de educação. Deve ser assunto obrigatório para todos os alunos do 6º ao 9º ano. O coordenador de ensino e apoio pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, Manoel Calazans, ressalta, entretanto, que o tema também deve ser discutido nas séries iniciais do ensino fundamental.
O educador comenta que hoje existe um apelo sexual nas mídias que antecipa as discussões em casa e nas ruas, e a escola não deve se manter alheia a tudo isso. No ensino fundamental, ele defende que o tema deve ser tratado sem a complexidade do que acontece da 6ª à 9ª série, quando o tema é abordado de forma atrelada ao conteúdo das ciências naturais. “É preciso apresentar o tema às crianças de uma forma didática, na linguagem delas, ensinar o cuidado com o corpo, trazer a questão de gêneros para discussão, seja nas brincadeiras, nas cores de preferência dos meninos e das meninas”, exemplifica Calazans ressaltando que não se trata de um trabalho fácil, e mesmo na rede pública ainda há resistência de segmentos religiosos e da própria comunidade. Ele afirma que os professores têm sido capacitados para trabalhar com o tema.
A pedagoga Maria Ornélia Marques, coordenadora do curso de formação de professores da Faculdade Social e do Centro de Estudos e Assessoria Pedagógica (Ceap), afirma que a formação do profissional é essencial, tanto na rede pública quanto na privada, para ter bons resultados. Ela defende a existência de políticas públicas tanto para orientar docentes quanto para a formação da juventude dentro de um processo educacional. “Acredito que muitas das gestações não planejadas são influenciadas por uma sociedade que erotiza demais as crianças. A escola tem um papel importante e deve trabalhar desde cedo e sem preconceitos, em conjunto com os pais”, afirma a pedagoga.