segunda-feira, 8 de novembro de 2010
ANTONIO IMBASSAHY
Por Evilásio Jr., Rafael Rodrigues e Evandro Matos
Bahia Notícias – Nas eleições deste ano muitas surpresas aconteceram, inclusive dentro do PSDB, onde você conseguiu mais votos do que Jutahy Magalhães Jr., com 112.630 votos, e João Almeida ficou de fora. Como você avalia a campanha feita pelo partido aqui na Bahia?
Antonio Imbassahy – Nós trabalhamos para eleger três deputados federais e, no caso específico, os que tinham mais possibilidade de vitória eram os dois deputados com mandato, Jutahy e João Almeida, e eu, pela minha biografia, de ter sido prefeito aqui da capital e pelos outros cargos que ocupei. Então, para mim também foi surpresa me posicionar ligeiramente superior ao deputado Jutahy, que tem, efetivamente, uma gama de serviços prestados à Bahia e ao Brasil. É um deputado conceituado, que dignifica o Congresso Nacional, e, de qualquer maneira, o que importa é que nós nos elegemos. Lamento profundamente a não eleição de João Almeida, que teve uma votação muito expressiva, superior a 80 mil votos, merecia estar no Congresso, pelo seu caráter de enfrentamento, de luta, o que mostra também que o sistema eleitoral brasileiro precisa ser melhor ajustado, para que essas situações não se repitam pelo Brasil afora.
BN – A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) afirmou, logo após as eleições, que o PT e o PSDB precisam dialogar. Depois da redemocratização, estes foram os partidos que polarizaram a política no Brasil. É possível pensar em um governo de Dilma com a colaboração do PSDB?
AI – Dialogar é fundamental para o sistema democrático, como também é fundamental você ter oposição em uma democracia. O PSDB se colocará como oposição ao governo federal, de uma maneira muito clara, mas não uma oposição irresponsável. Será uma oposição construtiva, colaborativa, para que o sucesso do governo da presidente Dilma Rousseff seja efetivado. O sucesso da presidente será o sucesso do povo brasileiro. A gente quer isso, mas na posição crítica da oposição, colaborando com o regime democrático.
BN – O José Serra, quando terminou a eleição, disse um “até logo”, ao sinalizar que vai continuar na disputa. É voz geral dentro do partido que Aécio Neves é um nome para 2014. O PSDB também sinaliza para uma mudança de comando e renovação das candidaturas. Como é que o PSDB administrará essa situação, de uma possível candidatura de Serra e esse sonho, esse projeto novo, de Aécio?
AI – O Serra conquistou 44% dos votos do eleitorado brasileiro. Não é pouca coisa. Nós tivemos, com ele, a eleição de 10 governadores, incluindo aí dois dos Democratas, e o PSDB elegeu governadores nos principais estados brasileiros, como Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná, Pará e outros estados do Brasil. Então, é um patrimônio eleitoral que ele realizou que não pode ser, de maneira nenhuma, deixado de lado. E na hora que ele diz que quer permanecer na vida pública, eu acho que é uma coisa muito boa para o Brasil, pois ele é um líder. Eu fiquei muito feliz na hora que ele deu aquele “até logo”, pois quero vê-lo ao nosso lado, ajudando na construção de um Brasil melhor.
“A nossa posição aqui na Bahia é permanecer, de forma clara, como contradição ao governo do PT”
BN – Serra começou a campanha na liderança e depois foi ultrapassado pela Dilma Rousseff. Embora tenha conseguido quase 44 milhões de votos, foi derrotado. O senhor considera a campanha mais acertada ou equivocada. Quais foram os principais erros?
AI – Quando você perde uma eleição é muito fácil localizar erros. Erros pessoais, erros de argumentação, erros de marketing, erros nos debates. O que se tem que olhar também é o esforço do candidato, físico, mental, intelectual, que deve merecer a atenção do povo brasileiro. Eu acho que ele cumpriu com o dever dele e eu sou uma pessoa que tenho uma ligação muito grande com ele, relação que começou em 1995, quando eu era presidente da Eletrobras e ele era ministro do Planejamento. Tivemos uma relação de trabalho e depois pessoal. Tenho certeza que as falhas que foram cometidas, do lado do PSDB e aliados, não seriam compensadas com os acertos, porque havia uma vontade majoritária do povo brasileiro em permanecer com a política atual. Por outro lado também, nessa vontade majoritária do povo brasileiro na eleição da Dilma Rousseff, a distância foi pequena, o que mostra que o Brasil, até certo ponto, está dividido entre dois projetos: aqueles que querem, e manifestaram-se na vitória da Dilma, a manutenção do projeto atual e aqueles que querem a modificação nos rumos. Serra teve 44%, quase a metade dos votos.
BN – Em nível nacional há essa polarização maior, entre PT e PSDB. Aqui na Bahia, por outro lado, o PT e o PSDB eram aliados. O governador Jaques Wagner chegou a declarar apoio à sua candidatura a prefeito no primeiro turno, em 2008. Contudo, a aliança do PSDB com o DEM é recente, surgiu para essa última eleição, e teve contratempos. O próprio governador declarou que, na próxima gestão, o único partido que ele não conversará é o PMDB, mas que tem uma relação amigável com todos os outros. Politicamente é possível a repactuação do PSDB com a base governista na Bahia?
AI – Não. A nossa posição aqui na Bahia é permanecer, de forma clara, como contradição ao governo do PT. É um alinhamento que a gente tem nacionalmente e também na esfera estadual. Nós queremos para a Bahia um governo que dê certo, desejamos sorte e sucesso ao governo Wagner, mas nós reconhecemos que, no primeiro mandato, houve falhas, sobretudo na política da segurança pública, saúde e captação de investimentos. Essas coisas têm que melhorar. Nós estaremos na oposição, fazendo críticas e apontando caminhos, para que possamos sugerir uma melhor performance para a administração estadual.
BN – Mas essa aliança com o DEM na Bahia tem futuro, ou o PSDB seguirá seu rumo e o DEM o seu?
AI – O PSDB vai manter a sua identidade histórica, no Brasil e na Bahia, e, pelo que eu tenho notícia, os Democratas farão também avaliações e revisões de prosseguimentos, de políticas e de propostas para ter uma performance melhor no país. Nós queremos manter essa boa relação, agora, é claro, guardando a nossa identidade própria.
“(Adolfo Viana e Augusto Castro) garantiram que vão ficar na trincheira da oposição. Essa é a posição da direção do PSDB na Bahia”
BN – Exceto a sua atuação e a de João Almeida, percebemos que a relação DEM-PSDB na Bahia não “deu liga”, principalmente na participação de Jutahy, que ficou muito distante de Paulo Souto. Ele, praticamente, só aparecia nos palanques quando Serra vinha à Bahia. O que faltou para haver um melhor entrosamento?
AI – Eu tive a oportunidade de viajar com Paulo Souto, com toda a chapa majoritária, e o deputado Jutahy esteve em diversos municípios, mesmo sem a presença do candidato Serra. Muitas vezes nós fizemos isso, sempre em um ambiente muito cordial, amistoso e de convergência. Evidentemente que se pode considerar que, em determinados municípios, por uma situação pessoal, pela história do deputado Jutahy, e pela história de alguns municípios,pode ter acontecido alguma dificuldade. Mas isso aconteceu com várias personalidade da política aqui da Bahia, e do Brasil também, e não vai acabar tão cedo. Eu só acho que ele deu uma grande contribuição, mas o fato é que a população fez uma escolha clara: preferiu o governador Wagner, que acho que foi muito alavancado pela propaganda de governo dele, e uma propaganda também durante o processo eleitoral, muito bem elaborada. Além de ter uma base política de sustentação extraordinária e a máquina do governo que, de uma forma ou de outra, acaba operando favoravelmente. Wagner também foi muito beneficiado pela vinculação que fez ao presidente Lula, com as ações do governo federal, confundindo os benefícios do governo federal com as ações próprias do seu governo do Estado. O Paulo Souto, nesse aspecto, foi muito aquém das possibilidades concretas dele como candidato. Uma pessoa que tem serviços prestados à Bahia, foi um grande governador, grande senador da República, um homem digno, um homem que se dedicou bastante, procurou dar tudo de si e se mostrar como alternativa. Mas na democracia é assim, você ganha e você perde.
BN – Aqui na Assembleia Legislativa teremos dois novos personagem do PSDB, o Augusto Castro e o Adolfo Viana. O senhor, enquanto presidente do PSDB, acha que o partido está bem representado na Casa? Já há informações de bastidores de que os dois estão fechados com Marcelo Nilo (PDT) para presidente da Assembleia no próximo ano. Inclusive, há especulações de que Viana migraria para a base governista, pois é filho do conselheiro Antônio Honorato, do Tribunal de Contas do Estado, que teria uma simpatia por Jaques Wagner.
AI – Primeiro eu lamento a não eleição do deputado Sérgio Passos, um deputado de grande valor, médico conceituado na região de Jacobina, um homem digno. Agora, os dois deputados novos eleitos são figuras excepcionais, tanto o Augusto Castro quanto o Adolfo Viana, e os dois estarão na oposição. Eu já conversei inclusive com os dois sobre esta situação e eles garantiram que vão ficar na trincheira da oposição. Essa é a posição da direção do PSDB na Bahia.
BN – O episódio na última semana, em que a estudante Mayara Petruso protagonizou um ato de intolerância contra os nordestinos, com a adesão de eleitores de Serra, não pega mal para o PSDB?
AI – Esse fato é um caso isolado. São pessoas que em um momento de ira fazem uma manifestação dessa e que merecem o repúdio de todos nós. Jamais será o eleitor do Serra uma pessoa com esse pensamento. Conheço o Serra. Ele, quando foi ministro do Planejamento, fez grandes benefício para o nordeste brasileiro, a Bahia em especial, com estradas, sistema de abastecimento de água, esgotamento sanitário e aeroportos. Quando ministro da Saúde, ele ajudou na reforma e ampliação de 80 hospitais aqui na Bahia e dobrou os recursos que eram repassados à Bahia, de R$ 500 milhões para mais de R$ 1 bilhão.
BN – O deputado Marcelo Nilo declarou recentemente ao Bahia Notícias que 22 prefeitos do PSDB apoiariam a eleição de Dilma Rousseff. Entretanto, ele questionou que o senhor quis punir apenas o prefeito Eduardo Vasconcelos, de Brumado. Por que isso? O PSDB pretende punir os demais também?
AI – No caso específico do prefeito de Brumado, essa é uma manifestação que nasce no próprio município, pelos nossos correligionários do PSDB, que ficaram indignados com a posição do prefeito Eduardo. Ele sempre teve uma atenção muito grande e uma posição muito respeitosa a todos da direção estadual e nacional do partido. Portanto, esse é um processo que está sendo movido nas bases lá de Brumado. Com relação aos demais, de uma maneira mais ampla, nós estamos fazendo uma revisão geral do resultado das eleições em cada município. Não apenas do primeiro e segundo turnos, mas também resultados anteriores a esta eleição, por exemplo 2006 e 2008. A performance da eleição de deputado estadual, federal, senador, governador, presidente. Então, vamos tomar uma decisão, que não será minha, pessoal, mas será uma decisão do partido. O partido tem uma executiva que se reúne e vai fazer a avaliação de cada município, procurando colocar com muita nitidez que a nossa posição aqui na Bahia é de oposição ao PT.
BN – Mas será feito algum questionamento aos “infieis”?
AI – No caso de Brumado já é uma decisão tomada, e vamos fazer agora uma avaliação dos demais municípios da Bahia. Não apenas uma questão do prefeito ou do vice-prefeito, ou do vereador, ou da própria comissão ou do diretório. Vamos fazer uma avaliação muito mais ampliada.
“Nós vivemos em um sistema de representação política e o Congresso que foi eleito representa bem a sociedade”
BN – O senhor estava afastado da vida pública desde 2005, quando terminou o segundo mandato como prefeito de Salvador, e a retoma agora em Brasília, no Congresso Nacional, em que, apesar da sua trajetória política, é uma experiência nova. Quais serão as principais bandeiras de Antonio Imbassahy na Câmara dos Deputados?
AI – Eu vou me dedicar muito à questão da educação, que eu acho fundamental, e oportunidades para jovens, através do sistema educacional e do mercado de trabalho. Agora, o que eu quero, na verdade, é ajudar a Bahia, Salvador, a Região Metropolitana, e o Brasil. Esse é o meu projeto. Vamos aguardar as propostas que serão colocadas pela presidente da República eleita para nos posicionarmos.
BN – Acredita que esse Congresso, com Tiririca, com Maluf, se conseguir se livrar do julgamento, dá para discutir a reforma política?
AI – Olha, o Congresso é a representação da sociedade. Nós vivemos em um sistema de representação política e o Congresso que foi eleito representa bem a sociedade, os segmentos mais diversos da sociedade brasileira. Então, estará sempre compatível com o pensamento médio da sociedade. Eu acho que temos que fazer uma reforma política, assim como uma reforma tributária, os municípios não podem continuar nessa penúria que estão, cada vez menos recursos, cada vez mais encargos. Temos que fazer reformas também nos sistemas de saúde, trabalhista e judiciário. Tem muita coisa para se fazer, e eu acho que em oito anos do presidente Lula ele perdeu a oportunidade de fazer reformas profundas, como fizemos no passado quando o governo era do PSDB.
BN – Já tem conversado com as lideranças nacionais do PSDB para ver qual será o seu posicionamento dentro da Câmara? Pensa em ser líder do partido?
AI – Não me sinto, sinceramente, habilitado para exercer nenhum tipo de liderança no Congresso Nacional. Estou chegando agora. Este é o meu primeiro mandato como deputado federal. Eu quero ajudar. O papel que para mim for destinado, eu quero me aplicar com muita dedicação. Esta semana eu faço uma viagem a Brasília e São Paulo, onde pretendo conversar com nossos candidatos, com o Serra, que é uma grande liderança, a quem estarei sempre ao lado, vou conversar também com o ex-presidente Fernando Henrique, com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que eu tenho grande afinidade. Quero conversar com todas as lideranças do PSDB para me incorporar ao projeto nacional. Eu quero ser uma peça que construa e que esteja compatível com o pensamento do partido.
“Nós queremos ampliar o nosso espectro de alianças, não apenas com o Democratas, mas também com o próprio PMDB”
BN – Em relação à eleição de 2012, o partido não tem muita tradição de disputar o poder Executivo, hoje tem menos de 25 prefeituras na Bahia, mas obviamente pensa em crescer mais. Qual será a tônica do partido nessa eleição? Lançar candidatos em todos os municípios, fazer aliança com o DEM?
AI – Essa decisão não é minha, pessoal, é uma decisão da executiva, que tem se reunido e feito esta avaliação. Agora eu posso dizer que tem muita gente qualificada, da política e fora dela, que deseja entrar no PSDB. Essa eleição motivou muita gente a entrar no PSDB. Nós examinaremos isso aí oportunamente e tenho certeza que muitas dessas pessoas poderão participar do processo eleitoral para alguns municípios na Bahia.
BN – O senhor acredita que o parceiro DEM está em decadência e este seria o campo para o PSDB crescer?
AI – Não. O DEM nacionalmente conquistou dois governos, no Rio Grande do Norte (Rosalba Ciarlini) e em Santa Catarina (Raimundo Colombo), que são dois estados importantes. Tem excelentes quadros que foram eleitos e outros que não tiveram a sorte da reeleição, como aqui na Bahia, o Jorge Khoury, Luís Carreira, Clóvis Ferraz, Heraldo Rocha, Carlos Gaban, Júnior Magalhães, enfim, tantos nomes que não conseguiram lograr êxito, mas são personalidades públicas que estarão aí contribuindo para o desenvolvimento da política estadual. Nós queremos ter sempre essa proximidade, mas mantendo a nossa identidade.
BN – Então, esse campo deixado pelo DEM não é vislumbrado pelo PSDB?
AI – O PSDB é um partido que tem uma força nacional muito grande e uma força que, aqui na Bahia, a gente pretende ampliar cada vez mais. Mas está mais do que provado que ninguém sozinho conquista o poder. Nós queremos ampliar o nosso espectro de alianças, não apenas com o Democratas, mas também com o próprio PMDB, que é um partido que fez um esforço muito grande de crescimento e que nós podemos ter também uma aproximação.
“O PSDB deverá apresentar candidatos nas principais cidades da Bahia, inclusive na capital”
BN – Na Assembleia, inclusive, tanto o PMDB quanto o PSDB devem crescer na oposição, já que a bancada do DEM diminuiu muito. Já há esse diálogo com o PMDB em termos de oposição?
AI – Não tivemos ainda uma conversa mais efetiva, mas certamente essa conversa acontecerá.
BN – O senhor foi prefeito de Salvador duas vezes, depois se candidatou novamente e perdeu em 2008. Agora, com o mandato de deputado federal, em 2012 haverá uma nova campanha. Será candidato a prefeito de Salvador de novo?
AI – Pela expressão do PSDB, o partido deverá ter candidato a prefeito na capital, mas eu não penso, de maneira nenhuma, nessa hipótese. Estou pensando, nesse momento, em fazer um grande mandato e corresponder aos votos que recebi. O meu voto foi muito pessoal, de opinião, de reconhecimento, de pessoas que sabem e confiam no meu trabalho. Quero ser um dos melhores deputados do Brasil.
BN – Se o deputado ACM Neto aceitar disputar a prefeitura de Salvador, e o PSDB não tiver candidato, poderia ser um bom nome para o partido apoiar?
AI – ACM Neto é um político de valor. Nós fizemos aliança em 2010 e nada impede que possamos fazer alianças no futuro, mas o PSDB deverá apresentar candidatos nas principais cidades da Bahia, inclusive na capital.