segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Os louros da vitória
Se, como tudo parece indicar, as pesquisas estiverem certas, a noite de domingo será noite de festa nas hostes petistas. Rodeado de amigos, entre foguetes e libações, o Presidente Lula comemorará a vitória. Estará, por certo, orgulhoso e eufórico. Terá dado, ao país e ao mundo, uma prova maiúscula de sua popularidade. Graças a ele uma candidata quase desconhecida, gorducha e inábil, dura e antipática, atingida por um escândalo comprovado de corrupção diretamente na sua esfera imediata de influência, uma candidata que, por seus próprios méritos, não se elegeria talvez nem vereadora, terá recebido o voto de mais de metade dos brasileiros.
Não será, é certo, uma maioria tão significativa como talvez, em momentos de euforia, o Presidente tivesse sonhado. Mas será, ninguém pode negar, uma vitória. Uma vitória pessoal. Lula terá conseguido transferir popularidade suficiente para eleger sua sucessora.
E o Presidente irá dormir feliz, aplaudido e consagrado, ostentando a coroa de louros de vencedor.
Mas talvez, já no dia seguinte, Lula comece a pensar que, se a vitória só foi possível por sua atuação, os respectivos frutos beneficiarão diretamente a outros, não a ele. Em janeiro, Dilma, não ele, será presidente – ou presidenta – do Brasil e será ela, não ele, que terá o comando dos itinerários da aeronave, hoje batizada Aerolula. Quem sabe passe a chamar-se o Vassourão… Será ela, não ele quem assinará decretos e promulgará leis, quem será recebida como chefe dos brasileiros, por reis e rainhas, por Barack Obama e Ahmadinejad.
Também o PMDB será consagrado vencedor. Talvez que a popularidade do Presidente, por si só, não tivesse sido bastante para que Dilma Roussef batesse José Serra. Decisivo ou não, ninguém em sã consciência poderá negar que o apoio maciço de um grande partido organizado, com bases por todo Brasil, foi peça fundamental da aliança vitoriosa. E as contas serão apresentadas: Jáder Barbalho, José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, também estarão em festa e, já no dia seguinte, irão por certo reivindicar a recompensa de seus esforços.
Mais discreto, contido e sóbrio como um bom jogador de xadrez, José Dirceu prosseguirá suas manobras, agora com muito mais cacife. Seu amplo projeto de poder, do qual o incidente do mensalão foi apenas um pequeno desvio, prossegue firme, impregnando a República como um litro de água derramado impregna uma almofada de sofá
Que será de Lula, quando virar ex-presidente? Ele, o vencedor, ele o líder, conformar-se-á a ser um nome sem cargo, não mais em um palácio, mas em um apartamento de classe média em Santo Bernardo do Campo, aguardando quatro anos para a volta ao poder, sem verbas públicas para lhe pagar os ternos bem cortados de tecido italiano e os vestidos de D. Mariza, sem um avião à sua espera, sem telefonemas cotidianos de chefes de estado, sem hordas de repórteres todo tempo à sua volta?
Alguma coisa o nosso atual presidente planeja para quando for apenas um ex-presidente. Que será? Se Serra fosse eleito, talvez fosse melhor: ele seria o destacado comandante de uma oposição ferrenha. Mas, vencedor, há de ter outros planos: não lhe bastará, por certo, lançar-se desde logo candidato à volta ao poder em 2014.
Que pleiteará então? Fazer conferências bem remuneradas a caminho de uma velhice tranqüila? Não parece ser o gênero. Candidatar-se a Secretário Geral da ONU? Talvez seja uma cogitação; mas dúvidas ponderáveis quanto à possibilidade de sucesso, por certo, não encorajam a tentativa. Ocupar a chefia da Casa Civil da Presidenta Dilma para, de fato, continuar indiretamente comandando o país? Talvez fosse uma boa. Mas, creio ser pouco provável que a própria Dilma concorde em ser tutelada.
O que, então? Não sei.
O desfecho lógico seria fundar um novo partido, o PLPB, Partido Lulista do Povo Brasileiro. e sair em pregação, Brasil afora, defendendo uma nova Constituição, talhada sob medida para consagrar o caudilhismo personalista.
Quem viver verá.
FONTE:BLOG DA LUCIA HIPPOLITO