domingo, 2 de janeiro de 2011
“prefiro uma imprensa crítica ao silêncio das ditaduras”
Muito distante do clima emocional da primeira posse de Lula, a entronização de Dilma Rousseff no poder da República também foi um ato grandioso permeado de emoções, principalmente envolvendo a nova presidente. O Brasil está a assistir a uma mudança monumental de estilos e convém ficar atento a esta questão: a ascensão de Dilma e a belíssima despedida de Lula, no seu jeito de ser, ao quebrar o protocolo e ir chorar com a multidão em frente ao Palácio do Planalto demonstra, inequivocamente, que saiu o mito e entrou o enigma. A não ser que retorne, demorará muito, ou talvez um momento semelhante nunca se repita nesta República: o Brasil ser governado por um presidente que cultivou a popularidade e o misticismo como essência do poder. Um andarilho fascinado pelo palanque, enfim, uma alma do povo. Dilma é o inverso. É a razão, o resultado, a conseqüência, a gerência, a cobrança. Os dois discursos que pronunciou, na Câmara dos Deputados e no parlatório do Palácio do Planalto, no meu entendimento, foram impecáveis. Falou em continuidade, em reformas (tributária e política, dentre outras), na ênfase ao combate à violência, no combate à miséria, no não deixar roubar (como aconteceu à larga no governo Lula), na união dos povos, nos direitos humanos, no lembrar do seu passado sem que guarde ressentimento, nos companheiros que morreram no combate à ditadura, no republicanismo, no fortalecimento federativo, na economia, no social e nas desigualdades, nas reformas em caráter definitivo para receber a Copa e as Olimpíadas, nos direitos humanos, na defesa da liberdade de imprensa (“prefiro uma imprensa crítica ao silêncio das ditaduras”), no Judiciário, cuja lentidão da justiça se transformou num dos problemas para este país; soube agradecer emotivamente a Lula e se referiu com carinho a José Alencar. Enfim, foram dois discursos que me tranqüilizaram. Houve críticas, alguns acharam que houve muito enunciado sobre as questões a serem tocadas, mas sem detalhá-los. Discordo. Seria impossível fazê-lo a não ser que fizesse um discurso de 15 horas, ao estilo Fidel Castro. Resta aguardar os desdobramentos e esperar o que, na prática, acontecerá, para que haja a crítica serena, ou não, jamais o elogio gratuito porque se ela anunciou sob juramento após a posse, é da obrigação da presidente Dilma Rousseff cumprir o prometido. Torço para que dê seqüência aos quatro últimos períodos de governo, marcadamente o primeiro do período de FHC e o segundo de Lula. Enfim, a sucessão desperta esperança. Lula será sempre lembrado. É homem da História, como o foram Getúlio Vargas e JK. Agora, que o mito se despediu do poder, fica o enigma que, no entanto, foi por Dilma um pouco decifrado nos seus discursos. Emotivos e racionais o que faz uma belíssima mistura.