segunda-feira, 18 de julho de 2011
Mimados e caros: dar tudo o que o filho deseja pesa no bolso e cria um futuro consumista
Quem tem filho pequeno sabe o quanto é caro manter uma criança. Entre despesas com educação, saúde, alimentação, vestuário, lazer e outros custos agregados, muitos pais ainda encontram fôlego (e bolso!) para realizar os caprichos da garotada. E não estamos falando de um simples brinquedinho, mas daquela festa de aniversário dos sonhos num badalado bufê infantil ou da viagem à Disney. Desejos bem distantes da disponibilidade financeira da maioria dos brasileiros, mas que muitas famílias se sacrificam para bancar, mesmo a duras penas.
“Sempre compro quase tudo o que minhas filhas querem, mas com limites e dentro das minhas possibilidades. Faço isso porque elas merecem e valorizam o que recebem. São filhas maravilhosas e tiram ótimas notas”, relata a representante comercial Rose Lemos, 41 anos, mãe de Yasmin, 16, Ingrid, 14, e a pequena Maria Luiza, de 1 ano.
Apesar de dar tudo para as filhas, Rose garante que não é exatamente de mão beijada. “Hoje as mais velhas recebem uma mesada que é para o lanche da escola e para ir ao cinema, shows ou algo que eu não possa ou não queira comprar. Por isso, elas guardam o dinheiro quando querem comprar algo mais caro”, aponta.
Segundo Rose, quando as filhas querem fazer algo mais extravagante, ela parcela no cartão e desconta todo mês da mesada. “Ensino pra elas que tudo é uma conquista. Elas têm roupas boas, mas não é nada extremo. A mais velha fez 15 anos e não fizemos uma festa. Ela teve a formatura do balé, que custa caro, e também ganhou um notebook top de linha”, revela.
Equilíbrio
“Confesso que faço mais vontades do que gostaria de fazer. Acho, por exemplo, que ela tem uma quantidade muito grande de Barbies”, entrega Alan Lima, pai de Alícia, 9 anos, que tem insistido em ganhar um celular, que até agora foi negado. “Ela só quer o celular porque a prima tem um”, acredita. Em casa, ele enfrenta uma forte concorrência na hora de impor limites aos caprichos da pequena. “Toda vez que minha esposa sai compra alguma coisa, seja roupa, sapato. É só pisar no shopping e ela leva uma surpresa ”, relata.
Para quem compra tudo o que os filhos querem, um alerta: satisfazer todos os desejos não ajuda a educá-los e prejudica as finanças da família. “Mais de 90% das famílias brasileiras compram tudo o que os filhos querem sem poder pagar. Os pais deixam de realizar desejos que vão satisfazer toda a família para comprar um carrinho que daqui a duas semanas vai estar esquecido, num canto do quarto da criança”, alfineta o consultor financeiro Augusto Sabóia.
Ele aponta que o melhor programa ou presente não é necessariamente o mais caro. “Ao invés de comprar brinquedos ou a viagem à Disney, os pais podem levar as crianças para pescar, ensiná-las a empinar pipa, fazer piquenique, diversão mais em conta e que surte um belo efeito para as crianças, pois estarão em companhia dos pais”.
Na opinião do especialista em educação financeira Álvaro Modernell, é recomendável encontrar um equilíbrio. Ele acredita que é fundamental que os pais estabeleçam limites sobre o que dão aos filhos, sob pena de criar pequenos consumistas que, quando adultos, não darão o devido valor ao dinheiro. “Quem recebe tudo o que quer não valoriza aquilo que recebe”, observa.
Modernell acrescenta que na hora de dar presentes os pais devem se guiar por três pressupostos. “ Eles precisam verificar se o presente cabe no orçamento, se é algo muito necessário ou muito desejado e se a criança realmente vai aproveitar. Esses são os indicativos de que eles podem dar um presente”, explica.
Outro ponto destacado por Modernell é quanto à quantidade de presentes que as crianças ganham sem precisar, o que é um verdadeiro desperdício de dinheiro. “Algumas crianças têm tantos brinquedos que nem conseguem brincar com todos. Por isso, muitas vezes não vale a pena fazer dívida para satisfazer um capricho”, ressalta.
Não há orçamento familiar que resista a tantos apelos do consumo desenfreado. Por conta disso, vale a pena ensinar às crianças desde cedo a não ceder aos impulsos da compra, incentivando-as a cuidar do próprio dinheiro. “A partir dos 6 a 7 anos a noção de dinheiro fica mais nítida para a criança, por isso vale a pena introduzir a mesada nessa idade. Os pais têm que conversar para dar educação financeira de uma forma muito ampla”, indica o educador financeiro Álvaro Modernell.
“Elas precisam adquirir a noção de que o dinheiro não é ilimitado, discernir o que é caro do que é barato, aprender que o pai passa um cheque mas que o dinheiro sai da conta depois, e que o cartão de crédito terá que ser pago no vencimento da fatura”, orienta, com a propriedade de quem já escreveu sete livros sobre o assunto, todos voltados para o público infantil.
Na opinião de Modernell, é importante estimular nas crianças o hábito de poupar para conquistar algo que desejam, seja um brinquedo, um passeio, uma viagem. “A criança tem que aprender a poupar com objetivo, porque assim ela consegue valorizar o que conquistou”. Outro ponto bastante positivo é envolver os filhos nas realizações em família. “Todos podem se mobilizar juntos para realizar algo em comum”, recomenda.
O educador financeiro alerta que toda criança quer se sentir inserida no grupo social do qual faz parte, especialmente na escola. “Se todos têm o tênis da moda, ela também quer ter”.
Ele acrescenta que as crianças também devem receber orientação sobre as diferenças sociais. “Elas precisam entender que há várias condições financeiras e que, muitas vezes, não poderão ter tudo o que os colegas têm. Precisam aprender a lidar com essa diferença social sem inveja e sem soberba. Os pais devem aproveitar isso para incentivar que o filho estude e se destaque pelas notas, e não pelas roupas”, orienta.