segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Em sua primeira entrevista após sair da prisão, Colbert diz que prioridade é "reparo à honra"
Em sua primeira entrevista à imprensa de Feira de Santana depois que deixou a prisão em Macapá, no Amapá, o ex-deputado Colbert Filho, afastado do cargo de secretário nacional de Programas de Desenvolvimento de Turismo do governo Dilma Roussef, disse que um reparo à sua honra, atingida pelo episódio, é sua prioridade daqui para frente. A entrevista foi concedida ao radialista Dilson Barbosa, do programa “Bom Dia, Feira”, da Rádio Princesa FM, no sábado (13). Colbert foi preso junto com mais de 35 pessoas – inclusive o seu superior no Ministério do Turismo, o secretário-executivo da pasta, Frederico Costa – sob suspeita de participar de um esquema de desvio de recursos através de convênio em favor de uma entidade do Amapá. O procurador geral da República disse a “O Globo”, na sexta-feira, que estuda retirar a acusação contra Colbert, por falta de provas do seu envolvimento no caso. Ainda não há data para a chegada do ex-deputado em Feira de Santana. Ele se encontra em Brasília. Leia o pronunciamento dele ao programa jornalístico.
AGRADECIMENTO
Antes de qualquer coisa eu quero agradecer a Feira de Santana e a todas as pessoas que confiaram em mim, porque nesses momentos de dificuldades foi muito importante. Meu irmão Evaldo chegou na quarta-feira à noite em Macapá com o Wilson Falcão. Ontem quem esteve lá foi o Nivaldo Vieira, levou junto um integrante maior da maçonaria que me ajudou muito internamente no Instituto Penal de Macapá. Esses dias eu estive completamente isolado, não pude ler, mas agradeço a você, aos meus amigos, agradeço muito a minha família que sofreu muito nesse momento, aos meus irmãos, agradeço a Bahia. Aqueles que quiserem entender diferente eu vou ter que convencê-los.
A ASSINATURA LIBERANDO A PARCELA
Eu assumi o Ministério efetivamente no dia 16 ou 17 de Março. No dia 13 de abril despacha uma diretora que permaneceu no Ministério por quase oito anos alguns processos que ainda estão aí e a nota técnica mostrava que o processo inteiro, o convênio, estava em andamento (o processo envolvendo o instituto amapaense que provocou toda a polêmica). Se eu tivesse na minha frente qualquer recomendação do TCU, qualquer uma, eu não teria assinado. Se tivesse qualquer recomendação do Ministério Público, eu não teria assinado. Como não tinha nada eu assinei o documento (a liberação da última parcela de R$ 900 mil em favor do instituto) e essa foi a razão da inclusão do meu nome: ter feito esse último pagamento. Então eu ficaria muito satisfeito se o procurador pudesse realmente rever essa acusação.
A ABORDAGEM DA PF
Eu sai de Salvador e fui a São Paulo onde havia uma reunião. O Ministro dos Esportes me convidou para a festa de personalidade dos esportes no Clube Pinheiros. Eu vinha de Brasília de volta num voo as 9 horas. As 8 horas eu chego ao Aeroporto de Congonhas, entro na sala de autoridades e um delegado me aborda dizendo que estava com um mandado de prisão contra mim. Eu li e não entendi, nem ninguém conseguia explicar, nem a diretora do departamento conseguia me explicar. Quando consegui ler o processo eu vi que tinha alguma coisa de 2009, eu perguntei a ele se ele sabia, mas ele disse que só estava lá para conduzir-me. Eu tentei ligar lá para duas ou três pessoas, mas não consegui. É uma surpresa grande e muito ruim. Assinei os documentos. Não usaram algemas nem nada, ali. Depois me conduziram para a sede da Superintendência em São Paulo, aonde eu aguardei até a tarde. Quando fomos levados para o Aeroporto de Guarulhos, lá sim, aconteceu o uso de algemas. Descemos em Brasília. Não era necessário ter descido do avião. Forçou-se a descida. Ao chegar em Macapá eles retiraram as algemas.
SOBRE O USO DE ALGEMAS
Do ponto de vista pessoal em relação aos agentes e ao delegado não tenho nenhum problema. Eles diziam que era uma questão de padrão aquele uso, embora pelo menos quatro pessoas tinham mais de 60 anos, duas das quais com tratamento de câncer inclusive tomando medicamentos. Então é uma medida que se for padrão, tem que ser repensada.
O VAZAMENTO DE FOTOGRAFIAS NO PRESÍDIO
Estou muito chateado por desrespeito a mim com relação à publicação de imagens lá de dentro do Instituto, responsabilidade que tem a própria Polícia Federal.
A CHEGADA EM MACAPÁ
Chegamos em Macapá por volta de meia-noite. Fomos para a sede da Polícia Federal, prestamos depoimento e numa lista constavam 18 perguntas. Poderiam ser feitas em qualquer lugar, não havia necessidade de ir para Macapá. Acabou por volta das 6 da manhã. E aí ficamos à disposição da Polícia Federal. No dia seguinte fomos levados para esse Instituto Penal.
O TRATAMENTO DA POLÍCIA FEDERAL
Fomos tratados com muito respeito por todos, principalmente pelo delegado ainda em Congonhas, que se mostrou uma pessoa muito educada. Em nenhum momento utilizou de qualquer prática negativa comigo. Também durante o dia que passei em São Paulo não tive nenhum problema. Em Macapá também não tive dificuldades. Lá no presídio, de uma forma geral foram muito atenciosos, embora um conjunto com 1.700 homens e 400 mulheres. Macapá tem apenas 380 mil habitantes. É menor do que Feira. Uma população carcerária grande mas o tratamento dessas pessoas não só comigo mas com todos, foi muito respeitoso.
AS CONDIÇÕES NA CARCERAGEM
Muito complicado, pois era uma sala de 4m por 3m, seis pessoas. Não dava para andar, a alimentação era muito ruim e não tem água tratada. A cidade como um todo tem água encanada, mas não tratada. Imagine uma cidade com mais de 380 mil habitantes sem tratamento de água. Água foi sim um dos problemas mais difíceis que nós passamos.
A CHEGADA EM BRASÍLIA
Minha mulher está aqui comigo, minha filha também. Meu filho está fazendo um curso, mas está voltando para Brasília também. Eu quero agradecer a eles, que suportaram essa dificuldade, aos meus irmãos, aos amigos e a cidade de Feira de Santana. Nós passamos essa dificuldade e lembramos muito da época em 74 que meu pai ficou preso também, foram 40 dias de muita dificuldade.
O RETORNO A FEIRA DE SANTANA
Vamos ter uma reunião aqui em Brasília para decidir umas questões. Eu devo voltar na próxima semana. Estou me preparando para isso. Estou afastado do Ministério, mas preciso resolver quanto a isso também. Enfim, resolver isso para estar aí na próxima semana.
ATENÇÃO DO VICE-PRESIDENTE
Michel Temer me ligou. Eu estava no aeroporto quando ele me ligou e disse que tinha falado diretamente várias vezes com a presidente (Dilma Roussef) sobre esse assunto. Falei com o Geddel (Vieira Lima, vice-presidente Jurídico da Caixa Econômica Federal e seu aliado), com o Lúcio (Vieira Lima, deputado federal e presidente do PMDB na Bahia).
ORAÇÕES
Eu quero agradecer a Deus, a Frei Monteiro, a Dom Itamar, Padre Luis, Padre Paulo, aos amigos dos Capuchinhos todos, Frei Rui, Frei Cristovão, Frei Beto. Todas essas pessoas se manifestaram e rezaram muito. É importante que a gente entenda que nessas horas a oração faz muito bem, a gente se aproxima muito mais de Deus. É preciso que a gente cada vez se sinta mais humilde porque pode acontecer com qualquer um. Agradeço porque tive Deus à frente, minha família me apoiando, meus amigos me apoiando, minha cidade me apoiando para manter a tranquilidade. Em um ambiente daquele se você perde a cabeça, você perde quase tudo. Agradeço muito a todos vocês, a cada um que me ajudou.
CABEÇA ERGUIDA
Posso caminhar por este caminho com toda a humildade, com a cabeça erguida. Sai de lá pela porta que entrei, enfrentei com absoluta naturalidade, esperando que haja uma reparação com honra, com conceito, com o que fiz em Feira e na Bahia, porque é isso o que nos conforta: não é dinheiro, não é propriedade, mas é o conceito, a honestidade, que é o que eu quero que meus filhos tenham. Eu espero que isso aconteça, estou com a consciência muito tranqüila. Se a presidente me chamar hoje, o vice-presidente vai estar aqui hoje ou amanhã, eu tenho que agradecer a ela, porque eu sei que ela se indignou e é ela quem está comandando para que situações como essa não aconteçam com qualquer outra pessoa.
RETORNO AO CARGO DE SECRETÁRIO
Eu vou avaliar isso dentro das circunstâncias. Só voltaria uma vez provada e comprovada a minha inocência. Que eu fique afastado até que essa questão se resolva. Eu em princípio, enquanto estiver investigado, ficarei afastado porque eu não consigo voltar para um lugar no qual me investigam. Então verei isso com tranquilidade e depois avalio.
FONTE:TRIBUNA FEIRENSE.COM.BR