sábado, 7 de abril de 2012
Após desgaste com saída de Demóstenes, DEM mira eleições de olho em possível fusão
A oitava bancada da Câmara dos Deputados. Apenas quatro senadores. Somente uma governadora de Estado. Dois escândalos de corrupção recentes. Ex-todo-poderoso do Congresso, ainda sob o nome de PFL (Partido da Frente Liberal), o Democratas passa por uma crise de representatividade. Às vésperas de uma eleição municipal, que poderia redimir a legenda, não faltam integrantes mais ansiosos por uma eventual fusão com o aliado PSDB do que por crescer nas urnas.
O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), um dos raros expoentes do DEM sem vínculo com famílias tradicionais, deixou o partido “com rumo frouxo” –nas palavras de um dos seus dirigentes. Pego em conversas suspeitas com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o senador tinha expectativas de ser candidato a presidente em 2014, o que poderia ajudar o partido a retomar dias melhores no Congresso por conta da exposição nacional.
Agora, admitem membros do DEM, o cenário mais provável é de tentativa de fusão com o PSDB após as eleições municipais. “A diferença deve ser na forma”, disse um parlamentar da legenda que não quis se identificar. “Se o [deputado federal] ACM Neto ganhar a eleição em Salvador, se José Serra se eleger prefeito com um vice nosso, o cenário é um. Se isso não acontecer, as condições devem ser mais difíceis. Quando um partido fica muito maior que o outro, as condições para quem entra são piores.”
Para Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibep), os escândalos de Demóstenes e do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda –envolvido no esquema do mensalão do DEM–, deixaram a sigla “com uma marca difícil de apagar em tão pouco tempo”. “A justificativa de que o DEM expulsa seus corruptos não serve nas eleições. É uma estratégia errada na qual o partido apostou há tempos. E está pagando agora. As pessoas querem saber de gestão”, disse.
A saída de Demóstenes fez os principais líderes do Democratas repetirem o discurso feito na época de Arruda. “O partido não está acuado, está aliviado”, disse o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), nesta semana. “Os outros escondem debaixo do tapete. Veja o PT com o mensalão. Nós temos coragem de lidar de frente. Todo integrante que for pego em atos ilícitos será expulso. Pagaremos esse preço.”
Oficialmente, Maia não admite a fusão com o PSDB. Caso ela aconteça, o novo partido teria 80 deputados –menos apenas do que o PT. Pode não ser o suficiente diante de uma avassaladora base aliada da presidente Dilma Rousseff, mas pode criar um grupo mais coeso na tentativa de retomar o Palácio do Planalto em 2014.
Em 2011, em sua convenção nacional, o PSDB incumbiu Serra de liderar um processo que pode levar a fusão dos tucanos com o DEM e com o PPS, mais à esquerda. Desde então o projeto não evoluiu, à espera das eleições municipais deste ano.
Declínio antecipado
O professor Cláudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), acredita que o declínio do Democratas já estava previsto desde antes dos escândalos. “Isso é ruim para o cenário político brasileiro. Falta uma direita orgânica, porque a que temos é a patrimonialista, que é predadora do Estado e vai do PMDB para a direita. O DEM poderia ocupar esse espaço. Mas não ocupa”, afirmou.
O partido que já teve o senador Marco Maciel (PE) como vice-presidente da República hoje sofre para emplacar um companheiro de chapa na provável composição com Serra para buscar a prefeitura de São Paulo. Em 2008, a sigla perdeu quase 40% dos seus prefeitos, ficando com 501. Depois do surgimento do PSD (Partido Social Democrático), criado por sua ex-estrela, o prefeito paulistano Gilberto Kassab, esse número ficou em 395, segundo dados da Frente Nacional dos Prefeitos.
A sigla, que na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso somava 105 deputados, derreteu para 84 na votação de 2002. Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi reeleito presidente, em 2006, encolheu para 65 parlamentares na Casa. Ao longo do segundo mandato do petista no Palácio do Planalto, chegou a 56 –muitos deles migraram para siglas satélites do governismo como PR, PTB, PP e PMDB.
Quase três décadas atrás, os fundadores do Democratas militavam no autointitulado “maior partido do Ocidente”, a Arena (Aliança Renovadora Nacional, sigla de sustentação do Regime Militar). Na fase democrática, a legenda tinha o vice-presidente e, em 1998, era a maior do Congresso, com 105 deputados e 18 senadores.
FONTE:UOL