Em sua quarta candidatura à prefeitura de Salvador, o deputado federal Nelson Pelegrino (PT) sabe que pode não ter mais a chance de tentar novamente. Talvez por isso tenha sido o primeiro a oficializar a pré-candidatura, ainda no ano passado, abafando tendências petistas que pululavam por outras alternativas.
Apesar das críticas a João Henrique, pré-candidato diz que não descarta qualquer apoio nas eleições
Aos 51 anos, disputa em condições que nunca teve, com apoio dos governos federal e estadual. Mas pena para atrair quem quase sempre lhe acompanhou, e pode ver a base governista dividida em até quatro candidaturas. “O que der para caminhar no primeiro turno, caminharemos. O que não der, há um compromisso assumido para o segundo turno”, ponderou Pelegrino, nesta entrevista ao CORREIO, na qual falou também sobre alianças, greve da PM e o fim da participação do PT na primeira gestão de João Henrique (PP) .
O senhor foi o primeiro a anunciar a pré-candidatura, mas até agora somente conseguiu atrair de grande o PSD. Qual a dificuldade?Sou o único que conseguiu fazer alianças até esse momento. Até as convenções de junho, vamos dialogar com os parceiros da base do governo Jaques Wagner. Temos um compromisso assumido de que vamos caminhar juntos no estado, e em Salvador não será diferente. O que der para caminhar no primeiro turno, caminharemos. O que não der, há um compromisso assumido para o segundo turno.
O senhor conta com a ajuda de ser do partido do governador do estado e da presidente da República para fechar alianças?Penso que o governador é a maior liderança política do estado. Ele tem uma tendência natural a coordenar o processo. E assim tem sido feito. Temos um fórum que reúne os partidos da base do governo, e esse fórum neste momento está discutindo a eleição nos 35 maiores municípios, inclusive aqueles que têm eleições em dois turnos.
A base do governo vai mesmo rachada?Ainda é cedo para fazer esse julgamento. As convenções serão em junho. Até lá, poderemos estar caminhando juntos.
O senhor teve a mesma dificuldade na última vez que disputou, em 2004, quando a agora senadora Lídice da Mata (PSB) também foi candidata do campo da esquerda, e nenhum dos dois foi para o segundo turno...Já uni a esquerda em 1996 e em 2000, e em 2008 unimos também. Em 2004, marchamos divididos e a cidade perdeu. Porque eu deixei de ir ao segundo turno por causa de 0,35%, a outra candidatura (de Lídice) teve 9%. Se tivéssemos juntos poderíamos ter ido ao segundo turno e disputar a eleição. Essa é uma lição que temos que aprender.
Na base aliada, é recorrente os partidos reclamarem que nunca recebem espaço, de que o PT quer ocupar todos os espaços...O PT tem aberto muitos espaços para aliados. Lídice da Mata, do PSB, é senadora com o apoio de nosso partido. A prefeita de São Sebastião do Passé e o prefeito de Juazeiro foram eleitos com nosso apoio. Temos ajudado na administração de prefeitos do PCdoB, do PSB. Na chapa, abrimos espaços para o PSB, para o PP. Nossas relações são excelentes.
Se houver outras candidaturas governistas, o senhor pode acabar tendo como principal aliado o PSD, partido formado por ex-adversários históricos. Como explicar para seu eleitorado de esquerda? O senhor não acha que pode haver um conflito de identidade?Eu diria que estamos conversando com 15 partidos e temos a oportunidade de fazer uma grande aliança. Estamos absolutamente tranquilos. Quem está no desespero é a oposição, que não consegue se unir.
Como será a postura da candidatura do senhor com relação à gestão do prefeito João Henrique? O PT participou ativamente do primeiro mandato, e na reta final do segundo houve uma aproximação do governador Wagner com João Henrique.
Nós temos autoridade para criticar os pontos negativos dessa administração, e quem sabe, até ressaltar os pontos positivos. Quem eu penso que não tem autoridade é o DEM, que apoiou João Henrique no segundo turno e ajudou na sua vitória. E participou do seu governo até hoje. E o próprio PMDB, que até um ano atrás estava no governo de João Henrique.
Apesar das críticas que o senhor faz ao prefeito, interessa o apoio de João Henrique na eleição?Eu não descarto apoio de ninguém. Nós temos um programa, mas temos independência política. Apoios são todos bem-vindos.
Há temor com os efeitos eleitorais das greves da PM e dos professores?Não tenho receio nenhum de partir para esse debate, porque o governo tem procurado dialogar com todos os professores, tem uma relação de negociação. Os praças da Polícia Militar tiveram nos quatro primeiros anos do governo um reajuste de 30% acima da inflação e, agora, o governo pagará uma dívida de 14 anos dos governos anteriores. Quando formos comparar como a gente trata os servidores e como o PSDB e o DEM tratavam, vai ficar muito claro quem trata melhor.
Com o possível racha da base aliada, o senhor acredita que poderá contar com a presença do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff em seu palanque?Acredito que o presidente Lula e a presidente Dilma estarão na eleição em Salvador e terão lado. E o lado é o nosso.
É, mas em 2008 isso não aconteceu. O presidente Lula não passou por aqui, devido à falta de unidade na base...Em 2008 foi uma conjuntura muito particular, que não repetirá, como não se repetiu em 2010.
O senhor questionou, via imprensa, sobre a “coragem” do PMDB de vir a apoiar um partido de oposição em Salvador, ao mesmo tempo em que é da base do governo federal. Haverá consequências em nível nacional a este apoio, caso ele ocorra?
A posição do PMDB cabe ao PMDB. É um partido da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff. O que é natural é que ele marche com essa base. Agora, o que o PMDB fará na eleição, o PMDB decidirá, com as consequências políticas que possam ter as suas definições.