sexta-feira, 11 de maio de 2012
Prolongamento de greve dos professores põe em risco o ano letivo
Depois de mais de um mês de greve dos professores estaduais, aumenta o risco de comprometimento do ano letivo e prejuízo aos mais de um milhão de alunos que continuam sem aulas na Bahia. "Quanto mais a greve se alonga, pior. Chega um momento que a defasagem é tal que não há sequer como repor. O tempo [perdido] não se repara. Não tem como dizer que não há perda, sempre sofre algum impacto", analisa a educadora Iracy Picanço, professora de sociologia da educação da Ufba.
A educadora não soube precisar quantos dias parados inviabilizariam o retorno às aulas. Mas com mais de 30 dias parados já não é possível cumprir os 200 dias de ano letivo exigidos pelo Ministério da Educação (MEC), seguindo o calendário estipulado pela Secretaria de Educação, que prevê recesso junino entre 22 de junho e 2 de julho e fim das aulas no dia 13 de dezembro.
Antes do início do movimento, os alunos tiveram cerca de 40 dias de aula, sem contar o período parado por algumas escolas durante a greve dos Policiais Militares (PMs). Se os docentes retornassem ao trabalho na próxima segunda (14) - o que não está previsto para acontecer, já que não houve acordo entre a categoria e o governo - restariam cerca de 140 dias de aula até 13 de dezembro. A conta, portanto, já não fecha para completar os 200 dias letivos.
O secretário de educação, Osvaldo Barreto, diz que não há com o que se preocupar, já que a secretaria estuda estratégias para repor as aulas. "Existem algumas possibilidades para repor as aulas: ter aulas aos sábados, suspender as férias de São João, ampliar a carga horária ou estender por mais tempo em dezembro".
De acordo com ele, a estratégia de reposição será diferenciada para grupos de escolas, já que alguns colégios já retornaram as atividades ou nem chegaram a interromper. "Das 1.413 escolas, 450 nunca nem entraram no movimento. Hoje, 600 estão tendo aula normalmente e 149 funcionam parcialmente. Então vamos organizar de tal modo que a reposição seja diferenciada para cada grupo de escolas", explicou o secretário.
A diretora da APLB, sindicato dos professores, Marilene Betros, também acredita no esquema de reposição de aulas. "Não inviabiliza o ano letivo. Vamos discutir a reposição, mas para isso o governo tem que sentar para negociar com a categoria", pressiona a sindicalista, que diz que os docentes não vão repor as aulas, caso o governo não pague o valor descontado do salário por corte de ponto durante a greve.
Aprendizado - Osvaldo Barreto diz que é possível refazer o calendário sem comprometer o conteúdo. Mas a situação preocupa a estudante do 3º ano da Escola Estadual Angelita Moreno, na Boca do Rio, Everaldina Cardoso. "Já esqueci tudo que foi dado no início do ano. Vai ter que começar tudo de novo", diz ela, que teme não ter como terminar o ensino médio esse ano.
A educadora Iracy Picanço concorda que o prolongamento do movimento pode representar um recomeço para os alunos. "Quando [a greve] é muito longa, cria um espaço, que [o retorno] é quase um recomeço, é como as férias, é outro momento. Então, o apelo da sociedade é pelo entendimento entre as partes para que o estudante não sofra mais. [A greve] é um instrumento de defesa de interesse do trabalhador, mas ninguém quer ver esse prejuízo tão grande".
Pauta - Os professores reivindicam reajuste de 22,22% para equiparar o salário ao piso nacional da categoria. Eles não aceitam o parcelamento do percentual proposta pelo governo. O secretário diz que o governo já cumpre o piso e não há mais o que oferecer aos docentes.FONTE:ATARDE