quarta-feira, 10 de outubro de 2012
PMDB negocia apoio a ACM Neto em Salvador
Terceiro colocado no primeiro turno da eleição de Salvador, o PMDB deve apoiar no segundo round ACM Neto, do DEM, contra Nelson Pelegrino, do PT. Em fase final de negociação, o acordo baiano vai na contramão do pedido feito por Dilma Rousseff ao vice-presidente Michel Temer.
Dilma reuniu-se com Temer na segunda-feira (8). Nessa conversa, a presidente pediu ao vice que se empenhasse pela adesão do PMDB ao PT nas praças em que o partido ficou de fora da disputa final. Mencionou São Paulo e Salvador. Será atendida na capital paulista e desatendida na capital baiana.
Presidente licenciado do PMDB federal, Temer fechou com Lula o apoio da legenda à candidatura petista de Fernando Haddad. O acordo foi celebrado nesta terça (9), em encontro do qual participou Gabriel Chalita, que obteve 13,6% dos votos do eleitorado paulistano na eleição de domingo passado.
Deu-se o inverso em Salvador. Ali, o comando do PMDB é exercido por Geddel Vieira Lima. Amigo de Temer, ex-ministro de Lula e atual vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel faz oposição ao governador petista da Bahia, Jaques Wagner. De olho na disputa pelo governo do Estado em 2014, negocia o apoio a ACM Neto de costas para Pelegrino.
Os movimentos de Geddel produziram um curto-circuito com o senador Valdir Raupp, que responde formalmente pela presidência do PMDB desde que Temer licenciou-se do cargo, em janeiro de 2011. Raupp insinuou que Geddel colocaria o cargo de vice-presidente da Caixa à disposição de Dilma para apoiar ACM Neto.
Ao tomar conhecimento das declarações, Geddel pendurou no Twitter uma nota desaforada: “O Presidente Raupp talvez não conheça um ditado baiano. Vou ensinar a ele: passarinho que muito canta c… [caga] no ninho.” Ficou entendido que não lhe passa pela cabeça tomar a iniciativa de desligar-se da Caixa. Se achar que é o caso, Dilma terá de demiti-lo.
Temer transmitiu a Geddel o pedido da presidente. O entendimento deveria passar por uma recomposição com o rival Jaques Wagner, que anseia pela adesão do PMDB a Pelegrino. O diabo é que o apelo de Dilma e o desejo do governador chegaram a Geddel desacompanhados de atrativos federais ou estaduais capazes de estimuá-lo a modificar seus planos municipais.
Reeleito em 2010, Wagner deixará o governo em 2014. Lançará um candidato à sua sucessão. E não contempla a hipótese de abrir espaço para o PMDB de Geddel nem na cabeça da chapa nem na vice. Compromissado com os partidos que apoiam sua gestão, não contempla a hipótese de oferecer a Geddel nem mesmo a vaga de senador. Alega que não pode levar à prateleira mercadoria que não tem condições de entregar.
De resto, Geddel disse aos correligionários baianos que o próprio Temer protagonizou um episódio que o deixa à vontade para associar-se à caravana de ACM Neto. Na fase de estruturação das coligações, Temer rogara a Geddel que fechasse com o DEM na Bahia. Em troca, o partido de ACM Neto entregaria seu tempo de tevê a Chalita em São Paulo.
Geddel refugou a oferta. Preferiu lançar em Salvador a candidatura de Mário Kertész. Ele saiu das urnas de domingo com 121.894 votos. Ficou em terceiro com 9,43% da preferência do eleitorado. Não é muita coisa. Porém, num segundo turno que promete ser um dos mais encarniçados do país, pode fazer alguma diferença.
Ao fechar a conta de Salvador, a Justiça Eleitoral informou que ACM Neto e Nelson Pelegrino saíram da disputa praticamente empatados. O candidato do DEM beliscou 518.976 votos (40,17% do total). O petista amealhou 513.350 votos (39,73%). A diferença entre ambos foi de escassos 5.626 votos, menos de 1%.
É contra esse pano de fundo que o PMDB desperta a cobiça dos dois lados. Em privado, Mário Kertész diz que não deve acompanhar Geddel no apoio a ACM Neto. Para tornar-se candidato, ele teve de se desvincular da emissora de rádio que conduz em Salvador. Derrotado, vai retornar ao negócio. Um negócio que depende de publicidade para sobreviver. E o governo chefiado por Wagner responde por expressiva fatia do bolo publicitário.
Nos subterrâneos, o petismo propaga a versão segundo a qual Dilma cogita exonerar Geddel da Caixa. Dona da caneta e de temperamento mercurial, ela até poderia rodar a baiana. Mas arrisca-se a converter o PMDB de Geddel de opositor local do PT em adversário do seu projeto reeleitoral de 2014.
De resto, para ser coerente, Dilma teria democratizar as retaliações. O PDT do deputado Paulino da Força controla o Ministério do Trabalho e acaba de anunciar o apoio a José Serra em São Paulo. À frente da pasta da Integração Nacional, o PSB do governador Eduardo Campos aliou-se ao proto-oposicionista Jarbas Vasconcelos para derrotar o PT em Recife. E anuncia a intenção de apoiar o tucano Arthur Virgílio no segundo turno de Manaus.
Como se fosse pouco, o próprio Wagner aliou-se em 2008 à candidatura de prefeito do deputado tucano Antonio Imbassahy. Dali a dois anos, o PSDB de Imbassahy pegaria em lanças na cidade de Salvador e em toda a Bahia pela candidatura presidencial de José Serra, o antagonista de Dilma.FONTE:FOLHA