sábado, 9 de fevereiro de 2013
Casamento não é confessionário!
A questão da semana é o caso da muher casada que sente muito tesão pelo vizinho. Sentir desejo por alguém que não seja o parceiro fixo é comum. Viver ou não uma experiência sexual com essa pessoa, depende da visão que cada um tem do amor e do sexo. No entanto, contar ao parceiro que está com desejo por outro é eliminar totalmente a privacidade e transformar uma relação amorosa em confessionário.
Muitos entram num namoro ou casamento acreditando que os dois têm que se transformar numa só pessoa. Nem os pensamentos podem ser reservados. Acham que amar alguém é estar tão misturado que fica até difícil saber quem é quem.
Isso acontece porque as pessoas imaginam que assim vão estar completas, que nunca vão se sentir sozinhas. Os dois têm que gostar sempre das mesmas coisas e, é lógico, só admitem sair juntos. Se um não for, o outro não vai, e os amigos têm que ser comuns (se houver). É claro que a isso tudo se acrescenta a ideia de que quem ama jamais vai sentir desejo por outra pessoa. Seria uma grande traição. Embora não verbalizem, pensam que os dois devem morrer para o mundo e viver só para o seu amor.
Há os que se sentem muito culpados quando percebem sentir desejo sexual por outra pessoa. Contam para o parceiro, tentando expiar o pecado e, depois de “perdoados”, se sentirem novamente protegidos. Entretanto, pode acontecer de o parceiro que recebe a confissão se aproveitar disso para torturar o outro, afirmando não poder nunca mais confiar. A maioria dos que se calam não deixam de se culpar e, com medo de que o parceiro também sinta desejo por outra pessoa, se tornam inseguros. Ameaçados, começam a controlar tudo.
Não é tão simples viver uma relação amorosa saudável, que contribua para o próprio crescimento emocional. É necessário aprender primeiro a lidar de outra forma com as questões da vida. Você pode amar muito uma pessoa, estar namorando ou casado com ela, e ao mesmo tempo não ter dúvida de que é mais do que natural sentir desejo por outras pessoas. E saber que qualquer atitude que tomar diz respeito somente a você.
Por isso, é fundamental que todos reflitam a respeito do pacto de exclusividade tão comum de ser estabelecido no início de um namoro. Será que não é a existência desse pacto que faz com que as pessoas se sintam traídas depois?:-Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual,