sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Jovem da seleção gaúcha de basquete é 236ª morto em boate
O número de vítimas do incêndio que destruiu a boate Kiss, em Santa Maria (RS), no último domingo (27) subiu para 236. Matheus Rafael Raschen, 20 anos, morreu na noite desta quinta-feira (31), por volta de 22h, no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Ele jogava basquete na seleção gaúcha.
Ele estava internado em estado grave depois de ter inalado a fumaça tóxica liberada pela queima da espuma que cobria o interior da boate. Segundo último levantamento, 71 feridos seguem em estado grave e estão na UTI. Até a manhã desta sexta (1), 127 permanecem internados em hospitais do estado.
Em entrevista nesta quinta (31), o delegado regional Marcelo Arigony afirmou que a espuma de isolamento acústico “foi a causa das mortes.”
Segundo o delegado, essa espuma costuma ser utilizada em estúdios de gravação, mas geralmente combinada com algum outro material, que a torne menos inflamável. “A espuma foi colocada com a finalidade de melhorar a acústica do local”, explicou Arigony.
De acordo com relatos de sobreviventes, o fogo teria começado na espuma da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.
Ontem, o advogado de um dos sócios da boate, Jader Marques, havia dito que a espuma tinha sido instalada por seu cliente para evitar a propagação de ruídos. Depois que a espuma foi instalada, a boate Kiss não passou por nenhuma vistoria dos órgãos públicos.
Testemunhas relataram que o fogo começou no teto sobre o palco onde estava o vocalista da banda e que o extintor de incêndio não funcionou
Busca de pertences:
Vítimas e parentes de pessoas que morreram no incêndio na Boate Kiss estiveram nesta quinta-feira (30) na 1ª Delegacia de Polícia, no centro de Santa Maria, em busca de documentos e para cobrar rigor no esclarecimento da tragédia.
"Vamos ver se futuramente os pais se unem para se apoiar e tomar providências, porque na impunidade isso não pode ficar. Não vou deixar isso passar em branco. Alguém tem que ser responsabilizado", disse Maria Odete Campos, mãe da estudante Michele Campos, que morreu na boate.
Maria Odete e o marido, Sergio Renato Campos, foram buscar os documentos de Michele na delegacia. A garota de 18 anos cursava o segundo semestre de medicina veterinária na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Inconformado, o pai culpa a omissão das autoridades pela tragédia.
"Eu culpo 100% a prefeitura e os bombeiros pela morte da minha filha. Aquela boate não poderia estar funcionando de jeito nenhum! Foi falta de fiscalização", disse.
Confusa e muito abalada Janete Salapata, mãe de outra aluna da UFSM, ficou emocionada ao encontrar uma sobrevivente do incêndio na delegacia. "Eu queria ouvir, saber como foi", disse a Patrícia Oliveira Campos, que conseguiu sair porque estava perto da porta quando o fogo começou. "Isso aí é para ver a negligência dessas boates. Não sei por que fazem uns lugares tão fechados, sem porta para sair direito", completou Janete.
Segundo ela, antes de ir para à festa na Kiss, a filha Lauriana ligou para casa dos pais na cidade de Santo Ângelo pedindo autorização. "Eu disse, filha você sabe que o pai não gosta que você vá a essas boates. Mas ela tinha 18 anos, era jovem, precisava se divertir", contou a mãe.
Assim como ela, o pai de Taíse dos Santos, Tarso Santos, também não gostava que a filha frequentasse a boate. No entanto, ele foi pessoalmente levá-la com mais três amigas da menina. Além de Taíse, duas delas morreram. "E a minha outra filha, Daniele, também costumava ir. No sábado, ela não foi porque estava viajando. Senão, seriam duas filhas [mortas]", contou.