terça-feira, 7 de maio de 2013
Epifisiólise ataca crianças e adolescentes
Você já ouviu falar em epifisiólise? Provavelmente não. A doença de nome estranho é facilmente confundida com dores musculares e ósseas: mas trata-se de uma enfermidade séria, que é o escorregamento da cabeça do fêmur para a bacia.
Pouco conhecida popularmente, acomete geralmente crianças e adolescentes, na fase dos 12 aos 16 anos, muito ativas fisicamente ou que sofreram traumas. No entanto, a obesidade e questões físicas naturais também são agravantes. Sem tratamento adequado, a epifisiólise pode causar fortes dores na cintura, dificuldade para andar e, na vida adulta, artrose no quadril e deformidades.
“Se não é identificado rapidamente, existe um problema no crescimento do osso: a cabeça do fêmur, que é esférica, vai crescer de forma oval, e na fase adulta vai gerar a artrose de quadril, e o desgaste de cartilagem pode tornar a pessoa manca”, afirma o pesquisador em Ortopedia André Wever, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Wever diz que a artrose e a dificuldade de andar são sequelas do sistema-músculo-esquelético, mas não há o perigo do paciente tornar-se paraplégico ou perder a mobilidade das pernas. “Às vezes não tem nem trauma associado, é uma questão de escorregamento. Crianças com crescimento rápido, muito ativas e que correm muito desgastam uma cartilagem entre o fêmur e a bacia, por isso os sintomas surgem logo”, destaca.
Apesar dos agravantes, não é motivo para pânico ou impedir que as crianças se desenvolvam naturalmente, alerta o membro da Sociedade de Ortopedia e Traumatologia da Bahia (Sbot-BA), Luis Wolfozich. Basta estar atento ao crescimento dos filhos e adolescentes, e sempre buscando saber deles o que sentem, acrescenta o médico.
Conforme o especialista baiano, não é possível medir uma incidência da doença na Bahia. No entanto, estudo da Unidade do Trauma Ortopédico do Hospital Universitário da Universidade do Rio Grande mostra que a incidência nacional é de três adolescentes por 100 mil indivíduos, sendo os meninos mais suscetíveis à doença.
Gordinhos
Crianças e adolescentes com 60% do peso maior que os de sua idade cronológica (obesos) e com imaturidade óssea são os mais vulneráveis à epifisiólise. “Um tipo específico de paciente que é um gordinho e tem uma diminuição das gomodas pode ter esse problema”.
A idade média em que a epifisiólise ocorre nos meninos é entre os 12 aos e 14 anos, nas meninas, dos 10 aos 13. No seu surgimento, recomenda-se a busca por um ortopedista e um endocrinologista – já há uma ligação hormonal (fase da puberdade).
O pesquisador do Hospital Albert Einstein, André Wever, explica que o tratamento é cirúrgico, porém simples quando a doença é reparada com rapidez. “É um tratamento cirúrgico disponível em todas as ortopediatrias, inclusive do Sistema Único de Saúde (Sus). Nada mais é que um escorregamento, no fêmur, que pode ser por trauma, por excesso de peso, ou ocorrer naturalmente por desgaste da cartilagem”, continua.
Quando identificado o problema, é feita uma cirurgia simples chamada de epifisiodese – é fixado um parafuso entre a região do fêmur e a bacia. “Geralmente a criança começa a ter uma dor na virilha, que vai e volta, e os pais não dão muita bola. Por isso a atenção”, alerta.
De acordo com o membro da Sociedade Brasileira de Ortepedia seção Bahia (Sbot-BA), Luis Wolfozich, casos como este são comumente tratados no Hospital Martagão Gesteira, sem apresentar riscos de morte. “Tem especialistas naquele hospital que lidam diariamente com essas doenças, que não considero raras. Raro, para a medicina, é aquilo que se vê uma vez em anos”.
Sem tratamento, ressalta Wolfozich, as conseqüências futuras podem surgir. A prática de fisioterapia e o uso dos centros de reabilitação podem amenizar dores e ir, aos poucos, tratando o problema.
A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) não dispõe de dados sobre a doença, já que só realiza notificações compulsórias, como as doenças comuns e constantes como dengue, gripe e meningite.
Renato Russo: dois anos na cadeira de rodas
Em todas as salas de cinema do país, o filme “Somos Tão Jovens’, do diretor Antônio Carlos da Fontoura, retrata a vida do cantor e compositor Renato Russo e lembra o período em que ele passou dois anos na cadeira de rodas por causa da epifisiólise.
Dos 15 aos 17, ele permaneceu na cadeira de rodas, até ser operado com a colocação de um pino de platina na região femural. Apesar da cirurgia, as dores intensas e agudas o obrigaram a dedicar-se profundamente à leitura, à escrita, e em especial à música. As dores só cessaram em 1978, quando o cantor retornou à ativa, formando a banda punk ‘Aborto Elétrico”. FONTE:TRIBUNA DA BAHIA