sexta-feira, 7 de junho de 2013
Discussões em mesas redondas na TV também são armadas; entenda como é feito
As mesas redondas na TV já foram palco de discussões históricas entre jornalistas e boleiros. Mas o que alguns telespectadores talvez não saibam é que muitos destes embates são armados pelos participantes, como explicou ao UOL Esporte o diretor do programa ‘Os Donos da Bola’, da Band, Renato Nalesso.
“O que existe é o respeito. E isso todos sabem. Mas o que muita gente não sabe é que a maioria das discussões nos programas esportivos (e não é nem só no ‘Os Donos da Bola’) é, digamos, produzida. Fora do ar todo mundo é amigo e segue o jogo”, explicou o diretor.
Nalesso ainda foi além na sua explanação: “Tudo na TV depende do apresentador e dos personagens. Mas muita coisa que se vê, como discussões em mesas redondas, é produzido. Ou seja, é conversado antes para gerar polêmica”.
Com a experiência de mais de duas décadas no comando de programa estilo mesa redonda, Roberto Avallone disse que nunca combinou discussão com ninguém, mas admitiu que ‘escolhia a dedo’ os participantes do seu programa justamente pensando na chance de dar polêmica. “Sempre tive cargo de chefia. Você ao escolher a equipe, escolhe cara que não vai distorcer a verdade, escolhe alguém que você sabe que torce para um time, outro que torce para outro, pois sabe que vai dar discussão. Mas se todo mundo falar amém não tem graça né?”
O jornalista não quis discorrer o tema de forma mais profunda por estar atualmente fora da TV. “Acho que pode acontecer sim [discussão armada], mas como não estou dentro não quero ser leviano. Também não vejo pecado nisso. Porque esse tipo de programa é um espetáculo, ou se propõe a ser ao menos”.
“Nunca programei, mas a discussão acontecia naturalmente, e quando acontecia, desde que tivesse algum fundamento, eu até incentivava, para te falar a verdade. O público gosta de polêmica”, encerrou Avallone.
Um dos sucessores de Avallone no Mesa Redonda da TV Gazeta, Flavio Prado disse que as discussões que ocorrem no programa dominical não são programadas. “Quando ocorrem e são poucas às vezes, são naturais de acordo com os temas e pensamentos de cada um. Não sei se existem em outros programas, mas entendo que cada qual deve produzir o programa de acordo com seus critérios. Não tenho nada contra”.
Apesar de admitir que as discussões armadas ocorrem há muito tempo na TV, o diretor do programa ‘Os Donos da Bola’, Renato Nalesso, explicou que não usa deste artifício por opção do apresentador Neto, ex-jogador do Corinthians. “Ele não gosta de criar situações. Prefere usar o bom humor de maneira natural. Interagindo com os convidados. Tipo resenha de boleiros mesmo. Até porque os convidados são ex-jogadores e têm uma maneira diferente de pensar do profissional de mídia”.
Além do depoimento de Nalesso, o UOL Esporte ouviu duas fontes de dentro da Band que confirmaram a mesma informação de que existem discussões armadas nas mesas redondas da emissora. Um jornalista de renome que passou pela empresa ainda citou o apresentador Milton Neves ao falar sobre o caso. “Ele é o maior causador de discussões produzidas que eu conheço”.
Atualmente na ancoragem do programa Terceiro Tempo, que é transmitido todas as noites de domingo pela Band, Milton Neves negou com veemência que as discussões que acontecem entre ele e Neto sejam armadas previamente. Fora do ar, ambos trocam elogios (Neto chama Milton de “Pelé da TV”, e o apresentador diz que Neto “é o sujeito mais importante da mídia eletrônica de Rádio e TV”) tanto quanto farpas quando estão ao vivo.
“Não tem nada produzido, por… nenhuma”, diz Milton Neves. “As minhas discussões com o Neto, muitas delas são sérias, porque não concordo muito com o que ele fala”. Neto, por sua vez, admitiu que algumas vezes se irrita com as provocações do apresentador do Terceiro Tempo. “Tem hora que eu não gosto, não. Tem hora que é brincadeira. Mas nem tudo na TV tem coisas que eu gosto. Não gosto, mas nem por isso vou deixar de gostar dele”.
Uma das provocações recorrentes do apresentador é dizer que Neto nasceu na cidade gaúcha de Erechim, fato que irrita o comentarista. “Ele não é sujeito tão ligado em cultura geral. Ele achou que Erechim tinha a mesmo fama de Pelotas”, se diverte Milton.