Dilma acabou conversando ontem com jornalistas, conforme relata Gabriel Castro, da VEJA.com (ver post anterior). Falando um tantinho de brincadeira, mas certamente querendo exaltar a competência de sua equipe, disse ter um governo “padrão Felipão”. Vai ver está se referindo ao temperamento dos técnicos — embora o de Felipão, ultimamente, esteja mais suave. Mas a gente sabe que ele não é do tipo que endurece sem perder a ternura. Dilma também não. Quando fica brava, pode recorrer, assim, a uma linguagem de beira de campo, sem papas na língua; seu vocabulário, quando descontente, rivaliza com o corrente numa estiva agitada. “Padrão Felipão”? É mesmo, é? Então vai ver o Aloizio Mercadante é o seu Neymar, o moleque serelepe.
E quem seria o Fred goleador, posto lá na frente para fazer gol de pé, deitado, de canela, com classe, sem classe, como der? Guido Mantega? Caído, ele está, mas nada de gol! A metáfora poderia ser engraçadinha tivesse a presidente ido ao Maracanã. Não deu. Indagada sobre a ausência, preferiu uma desconversa à Gertrude Stein, mas pela negativa: “Não fui porque não fui”. Como estava certo que ela iria, isso quer dizer que faltou porque seria vaiada. Tudo isso já comporia uma razoável crônica de enganos e desenganos, mas a coisa é mais séria do que isso.
O governo federal encaminhou, como se sabe, a consulta ao Tribunal Superior Eleitoral para saber das condições de realização de um plebiscito. Carmen Lúcia, presidente do Tribunal, fará a consulta aos 27 TREs e tal. Atenção, meus caros! ISSO, QUE É NOTICIADO COMO SE FOSSE A COISA MAIS CORRIQUEIRA DO MUNDO, JÁ É UM ABSURDO. A razão é simples: o Executivo não tem essa faculdade entre as suas prerrogativas. Se propor uma Constituinte exclusiva para a reforma já é de uma arrogância sem limites, encaminhar a consulta ao tribunal superior corresponde a uma óbvia transgressão de competência. Quem decide sobre plebiscitos, inclusive na fase de consulta, é o Congresso.
Dilma não tomou nem o cuidado de arrumar um laranja no Parlamento para cuidar do assunto. Seu “Neymar” Bigodudo deve estar a lhe soprar ao ouvido que ela tem de mostrar segurança, firmeza… Notem bem: o TSE não é uma assessoria política ou uma instância consultiva dos políticos. Trata-se de um tribunal superior. Só atua, no caso, quando provocado — mas é preciso que os que o provocam tenham a competência para fazê-lo.
Ao enviar a questão ao tribunal, é claro que Dilma está atropelando o Congresso logo na partida. É como se Felipão treinasse a molecada pra chutar canelas, não para jogar bola.