segunda-feira, 29 de julho de 2013
Otto prega unidade na Bahia para 2014
Uma das fortes lideranças do governo Jaques Wagner, o vice-governador Otto Alencar, que é presidente do PSD na Bahia, segundo maior partido da base aliada, prega unidade e diz que não será problema, mas sim solução na sucessão estadual de 2014. Embora cotado como possível candidato ao Palácio de Ondina, o líder pessedista diz que cumprirá sua palavra ao apoiar o candidato que o governador Jaques Wagner (PT) escolher. “Vou repetir e quero dizer que eu não tenho essa ambição de ser governador. Se acontecer vai ser algo natural, não vai ser empurrando a porta do Palácio de Ondina ou da Governadoria para entrar. Nunca fiz isso nem vou fazer”, enfatizou. Segundo ele, na hora certa será definido o candidato com respaldo de toda a base aliada.
Otto Alencar – Acho que esses movimentos sociais deveriam até acontecer antes no Brasil, diante dos problemas que tivemos no País, na classe política ao longo dos últimos anos, sobretudo nas casas Legislativas, Congresso Nacional, Câmara – Senado Federal e Câmara Federal. Eu listei até agora em 2013 mais de 20 casos de mau comportamento, desvio de conduta ética, malversação dos políticos no Congresso. Recentemente tivemos o caso de Demóstenes Torres e agora com o deputado federal que foi preso por irregularidades e malversação de recursos públicos. Isso tudo fez com que a população desse um grito de basta à corrupção, de basta a negligências com as coisas do povo. A questão da saúde pública, da educação, dos transportes coletivos, acho que ainda deixa muito a desejar, o que não quer dizer que nada melhorou. Muita coisa melhorou com o governo Lula. Não tem como não dizer que o Brasil não melhorou na era Lula. Melhorou sim. Isso aconteceu em vários pontos fundamentais para as comunidades, como os programas sociais que tiveram uma permeabilidade muito grande, acabaram com a fome, a questão da agricultura familiar, o programa Minha Casa Minha Vida para a área habitacional, as obras do PAC, o governo brasileiro se libertou do FMI, sem esquecer que o Plano Real foi uma conquista do governo Fernando Henrique, mas isso são as coisas já conquistadas, ou seja, direitos adquiridos. As pessoas querem mais, o que é natural que elas queiram mais assistência à saúde, à educação e acima de tudo que mude o comportamento da classe política, como levaram eles a derrubarem a PEC 37 e a transformarem a corrupção em crime hediondo.
Tribuna – Os protestos vão exigir a mudança dos políticos e da forma de fazer política?
Otto – Aqueles que estão com desvio de conduta, que estão agindo errado porque o colegiado político é igual a qualquer colegiado. Tem aqueles que gostam de trabalhar e aqueles que não gostam. Existem os santos e os demônios. Têm honestos e desonestos. Em qualquer categoria profissional tem pessoas dessa natureza. Esses que estão com problemas devem abrir os olhos e perceberem que a população não vai querer mais políticos que não cumpram seus compromissos no que tange à ética, ao comportamento, ao trabalho, ao ouvir os reclames da população e a trabalhar com aquilo que a população deseja.
Tribuna – Como vê o impacto disso na avaliação dos governos Dilma e Wagner? Terá consequência na eleição de 2014?
Otto – Eu acho que as manifestações foram contra a classe política como um todo. Claro que teve uma queda na popularidade do governo Dilma, do governo do Rio de Janeiro. Aqui na Bahia nós não analisamos ainda, mas de uma forma ou de outra os partidos todos têm que se reciclarem, mudarem o comportamento e estarem sintonizados com aquilo que a população precisa. Esse é o caminho. Acho que vai alterar também as eleições de 2014, sem dúvida nenhuma, embora eu ainda não tenha um diagnóstico do que possa acontecer no futuro, qual vai ser o desdobramento dessa manifestação. O que é importante é que cada político faça uma auto-análise para saber se está andando conforme pede a população e analise se deve ou não sair candidato. Para 2014, veja se realmente o seu trabalho foi reconhecido pela população e se deve ou não participar das eleições. Eu tenho muito consciência disso. No momento em que eu não observar que o meu trabalho não teve respaldo e que não significou nenhum avanço, aí eu vou dizer que chegou a hora de parar. É importante que os outros também tenham essa consciência e observem se têm vocação de servir as pessoas e se estão dando as respostas para a população. Isso vale para qualquer nível, vereador, deputado, prefeito, governador, até porque a política é um instrumento de levar felicidade às pessoas, trabalhar pelo coletivo e não por interesses grupistas, individuais e setoriais como acontece sempre.
Tribuna – A queda da popularidade da presidente Dilma, aliada ao momento econômico, impacta diretamente na eleição de 2014, trazendo consequências também para a Bahia. É cogitado que o governador Jaques Wagner apresente um nome alternativo, que ele está apresentando hoje, que é o secretário Rui Costa. Diante desse cenário, o seu nome surge como um dos mais fortes da base governista. Está preparado para esse desafio?
Otto – O impacto das manifestações é muito grande, havendo queda na popularidade Dilma, mas aquele fantasma da inflação que a oposição colocou na cabeça das pessoas não é. O índice de inflação caiu bastante agora, vai para 6%, 6,5%. Em 2002, quando eu fui governador interino, a inflação no último ano de Fernando Henriques estava em mais de 12%, o dólar estava 3,76% e o maior crítico do governo federal atualmente é o PSDB, do pré-candidato, o senador Aécio Neves. Inclusive, acho que é uma bandeira que eles não vão ter como explicar nas eleições. Como explicar as privatizações que foram feitas no período de Fernando Henrique Cardoso? A Companhia Siderúrgica Nacional foi vendida a preço de banana. Como explicar o desejo de privatizar a Petrobras? Vale lembrar que é estratégico manter o controle da Petrobras. Como explicar que queriam privatizar o Banco do Brasil? Essa queda da presidente Dilma e essa crise aguda podem ser recuperadas tranquilamente. Com a inflação se acalmando, ela pode ter uma ascensão e ganhar a eleição, como aconteceu com o Lula em 2005 que um ano depois ganhou as eleições. 2014 vai ser avaliado em 2014. Nós estamos em 2013 e em ano ímpar não se discute eleição, sobretudo 13, que é o número do PT. Então vamos ficar quietos agora em 2013 e esperar 2014 para ver o que vai acontecer. Eu sou um aliado do governador Wagner, do grupo, dos 14 partidos que apoiam o governador e o nome que sair, que for escolhido pelo governador vai ser o meu candidato. Eu não tenho paixão, nem obsessão por ser candidato a absolutamente nada. Eu quero fazer um bom trabalho na Secretaria de Infraestrutura. Os gregos diziam que quando os deuses querem enlouquecer um homem o enchiam de paixão, de compulsão. Eu não quero ficar louco.
Tribuna – O PSD terá autonomia para se aliar a qualquer partido nos estados no próximo ano. Isso é um sinal de que o seu discurso cauteloso começa a mudar?
Otto – Não. O Diretório nacional decidiu que nos estados os diretórios estaduais vão ter condições de fazer as alianças. Aqui na Bahia, o PSD vai estar na aliança do governador Jaques Wagner e demais partidos da base. Em nível nacional, eu acho que vai estar na aliança com a presidente Dilma, pelo menos eu conversei com o presidente da sigla, Gilberto Kassab, nesse domingo (28/7) e a tendência é essa. Aqui na Bahia, sem dúvida nenhuma, vamos caminhar com o candidato do governador Jaques Wagner.
Tribuna – Tem alguma possibilidade de pressão, já que Kassab tem na mão a chance real de um quadro do partido poder assumir o comando no Estado?
Otto – Não. Nós acertamos que aqui na Bahia, assim como em outros estados, haveria liberdade nas alianças, de agir de acordo com o diretório estadual e com o que a maioria deseja. Aqui na Bahia, a maioria deseja continuar na aliança com o governador Jaques Wagner. Não haverá em hipótese nenhuma qualquer diáspora.
Tribuna – Como o senhor analisa a ânsia do PT pelo poder? Acha legítima a tentativa de manter a hegemonia?
Otto – Vejo com naturalidade. O PT tem vários nomes que têm história, condições de disputarem a eleição e sucederem o governador Jaques Wagner. Acho que é algo natural esse desejo, assim como acontece no PDT, que coloca o nome do deputado Marcelo Nilo, o PSB com a senadora Lídice da Mata, os nomes da oposição que estão sendo colocados. É um desejo de cada um disputar aquilo que acha que deve disputar para exercer o poder da melhor forma possível, na direção de atender aquilo que o povo precisa.
Tribuna – Acha que o PT vai ter condições de escolher entre os quatro nomes, conseguindo agregar a base ou teria chegado a hora de o governador tentar construir uma candidatura que contemple a todos da base sem precisar ser a cabeça de chapa do PT?
Otto – O governador tem muitas virtudes, e uma delas é a capacidade de administrar essa situação. São 14 partidos da base aliada. Na hora certa ele vai chegar e chamar os presidentes para conversar e nós vamos chegar a um nome que tenha o respaldo de toda a base aliada. Ele nunca foi governador de estar impondo nomes a quem quer que seja. Acho que o nome que ele indicar vai ser depois da conversa com os partidos da base aliada. Ele nunca falou comigo sobre qual nome ele deseja apoiar. Dizem que podem ser candidatos pelo PT, os secretários Rui Costa, José Sérgio Gabrielli, o senador Walter Pinheiro e o ex-prefeito Luiz Caetano, mas ele (governador) nunca me falou nada. Eu acho que esse nome só sairá em 2014.
Tribuna – O senhor acha que o secretário Rui Costa tem condições de se viabilizar?
Otto – Aí eu não sei. É um exercício futurista. O Rui Costa tem muitas qualidades, tem virtudes políticas e pode disputar e receber o apoio do governador. Mas o governador nunca me falou qual seria o nome que ele iria apoiar. Vejo outras candidaturas colocadas na base aliada, como a de Marcelo Nilo, mas acho que está muito cedo. Este ano é muito difícil para o governo da Bahia, está realizando obras importantes, como o novo polo da Bahia, que será a região de Maragojipe e ainda outra grande intervenção que é a Fiol – Ferrovia Oeste Leste. É um ano de trabalho, de dificuldade não só para a Bahia, como para outros estados que vivem atualmente o arrocho fiscal. Precisamos terminar o ano bem, fazendo as obras que a população precisa.
Tribuna – A senadora Lídice da Mata pode ser alçada a candidata ao governo, caso o presidente do PSB, governador Eduardo Campos, sai como candidato a presidente da República. Esse movimento racharia a base do governo estadual?
Otto – Creio que não. A Lídice tem votos substanciais. Não vou desqualificar a senadora, que tem uma história de vida e política honrada e digna, tendo uma densidade eleitoral grande, mas não creio na candidatura de Eduardo Campos, pois ele não tem densidade eleitoral. Ele tem em torno de 5% nas pesquisas depois de uma visibilidade muito grande e de ter dito que era candidato. Eu acredito que os adversários da presidente Dilma serão o PSDB, com Aécio Campos ou José Serra, e ainda a Marina Silva. Vai ser por aí e outro candidato de menor densidade eleitoral.
Tribuna – E a oposição, grupo do qual já fez parte, de que forma avalia a suposta estratégia de união? Acredita que haverá um projeto único contra o governo?
Otto – Não sei, mas sei que a diversidade da oposição une, como uniu nas eleições de Salvador. Eu nunca imaginei Geddel apoiando Neto, Neto recebendo o apoio de Geddel, sendo esse um adversário ácido de Antonio Carlos Magalhães. Se uniram todos, o PSDB, DEM, PMDB, então a facilidade para se unir é maior. Eu não vou interferir nisso, não gosto de opinar, mas a diversidade une, como eu falei no início.
Tribuna – Quem é aposta da oposição? ACM Neto, Paulo Souto, Geddel ou João Gualberto? Qual desses deve dar mais trabalho para o candidato do governo?
Otto – Quem está no time oposto não escolhe adversário. O que vier nós temos que respeitar, fazer uma campanha ética, buscar o voto onde tiver o voto. Não me falta, nem falta aos partidos da base, vontade, disposição e liderança para buscar esse voto. Nós temos trabalhado, particularmente conheço muito o interior da Bahia, tenho viajado bastante. O governo tem muitas obras e vai estar bem avaliado em 2014 pelo acervo de obras. Eu não tenho a menor dúvida. Então vamos chegar fortes em 2014. Agora eu não tenho a menor dúvida de que o nosso grupo vai caminhar unido, sob a liderança da presidente Dilma, do ex-presidente Lula e do governador Jaques Wagner. O time que vier nós vamos enfrentar.
Tribuna – Existe um clamor dentro do partido para que o ex-presidente Lula seja o candidato. Como o senhor estava no evento do PT, notou nos bastidores que há um movimento nesse sentido ou está descartado?
Otto – Olha, o presidente Lula, tanto nos bastidores, como em público, falou com muita clareza e convicção de que a candidata é a presidente Dilma Rousseff, mas em política pode acontecer de tudo. Não acho que não possa haver nenhuma mudança. Ninguém esperava que a própria Dilma seria a candidata do Lula e terminou sendo. Isso acontece. Mas, ele falou claramente que a presidente Dilma seria a candidata e ela foi muito aplaudida.
Tribuna – O senhor está na máquina do governo, dessa forma qual avaliação que faz? Qual o maior acerto e qual o maior erro do governo Wagner?
Otto – Olha, eu não vejo nenhum erro, pelo menos nenhum caso que venha macular a imagem do governo por desvio de conduta, por malversação de recursos. Isso não existe, pois o governador é muito transparente. O que existiu lá atrás ele realmente puniu, demitiu. Acho que a grande dificuldade do governo hoje não está sendo criada pelo governo, mas pela conjuntura nacional. Existe um excesso de poder político, administrativo e financeiro centralizado em Brasília. Ou o Congresso Nacional faz o pacto federativo dando mais autonomia aos estados e municípios ou então eu tenho um pessimismo com o futuro do Brasil. Não pode e nem deve tudo continuar centralizado em Brasília. Os estados passam por um arrocho fiscal muito grande hoje. Os custeios aumentam, a arrecadação cai e temos que trabalhar com uma margem muito pequena de recursos para investimentos. Mas avançou muito, existem coisas muito positivas no governo estadual. Eu não vejo qual o erro principal. Acho que deve haver mudanças em nível nacional com a aprovação da reforma tributária; segundo, deve-se aprovar a reforma do código penal. Enquanto não houver essa reforma, nenhum governador vai poder dar segurança a seu povo. O código penal é muito complacente com quem comete crimes. Acabar com a impunidade é o mais importante hoje no Brasil, para os políticos e qualquer outro que comete erros. Também deve haver a inflexidade da lei com quem é reincidente. O outro fato seria fazer a reforma política e a trabalhista.
Tribuna – Qual o formato ideal para a reforma política?
Otto – Olha, a reforma política tem vários itens que o Congresso não vai chegar a ter. Acho que deveria inclusive se fazer o plebiscito para a população. Fazer uma reforma que seja sincronizada com os interesses do povo. Eu defendo muito o voto distrital, a obrigatoriedade do voto também deveria acabar. Obrigar a votar não combina com a democracia. Tem que perguntar ao povo o que ele quer. Por exemplo, o povo paga impostos, o governo recolhe impostos por isso precisa saber se o povo quer que esse dinheiro vá financiar vereador, deputado, prefeito, governador.
Tribuna – Um dos pontos é de que se acabaria com o caixa-dois de campanha, só que não existe garantia. O que o senhor acha?
Otto – Não existe garantia. Vai continuar o caixa-dois pelo lado privado e pelo financiamento público. Esse plebiscito é importante por isso. O primeiro ponto a ser perguntado é: 'você, brasileiro que recolhe impostos, você quer que o imposto recolhido ao governo federal vá financiar as campanhas? Você quer o voto distrital, quer o voto aberto, quer o voto facultativo?' Isso tudo precisa ser perguntado.
Tribuna – O que na sua visão não pode deixar de ser feito até o final do mandato do governador Jaques Wagner?
Otto – Concluir as obras de responsabilidade do governo estadual. Mas vamos conseguir.
Tribuna – O senhor acredita que o prefeito ACM Neto (DEM) vai conseguir fazer um bom governo e dar respostas à população de Salvador?
Otto – Olha, com a situação que ele encontrou na prefeitura vai ser muito difícil ele colocar tudo em ordem em 1 ano e meio, colocar numa situação em que a população sinta as respostas. Acho que os oito anos do prefeito João Henrique foram os piores da história administrativa de Salvador. Até não digo que ele cometeu só irregularidades, mas cometeu crimes contra o erário e a administração pública que está sendo punida pelo
Tribunal de Justiça e pelo Tribunal de Contas. Foi uma gestão perdulária que gastou mais do que arrecadou, uma série de irregularidades. Desejo ao prefeito ACM Neto que possa cumprir bem o seu mandato, mas eu sei que ele vai enfrentar uma dificuldade muito grande.
Tribuna – O que dizer para as pessoas que ainda alimentam o desejo de ver o senhor como candidato a governador?
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Otto – Vou repetir e quero dizer que eu não tenho essa ambição de ser governador. Se acontecer, vai ser algo natural, não vai ser empurrando a porta do Palácio de Ondina ou da Governadoria para entrar. Nunca fiz isso nem vou fazer. Posso estar na chapa majoritária como senador, que é o meu desejo, mas vou seguir e apoiar aquele que for o candidato do governador Jaques Wagner. Passarei qualquer privacidade na minha vida, mas não deixarei de cumprir com o meu compromisso e a minha palavra.
Fonte: tribuna da Bahia-Colaboraram: Fernanda Chagas e Lilian Machado.