terça-feira, 6 de agosto de 2013
Cantor Ricardo Chaves rebate texto assinado pelo juiz Gerivaldo Neiva
Ha poucos dias publiquei aqui no Site algumas considerações sobre os comentários do cantor baiano Ricardo Chaves, em sua página de Facebook, após ter sido vítima de roubo em Salvador.
Ontem, recebi e-mail do Ricardo Chaves esclarecendo sua posição e me autorizou, expressamente, publicar a mensagem aqui no portal.
Antes disso, quero registrar e parabenizar a disposição do Ricardo Chaves ao debate esclarecedor e, publicamente, deixar registrado um pedido de desculpas pelos termos usados no texto. De qualquer forma, é um grande alívio saber que o cantor não defende que bandidos levem “porradas” da polícia e nem que sejam “abatidos”.
No mais, continuo entendendo que Direitos Humanos é uma conquista histórica da humanidade e que é tarefa de todos defender a efetivação dessa conquista, seja pessoa pública ou não e quem quer que sejam as vítimas dessa violação.
Por fim, deixo também claro que o problema da violência urbana é muito mais complexo do que o senso comum que nos impor e a história tem demonstrado que não pode ser resolvido simplesmente com mais violência. Por exemplo, em 30 de julho de 2013, a Bahia tinha 11.801 pessoas presas e um excesso de 3.448. Desses presos, segundo dados do Infopen, do Ministério da Justiça, 82,36% tinham apenas o ensino fundamental e 0,009% tinham formação acima do superior, 71% cometeram crime contra o patrimônio e tráfico e apenas 0,09 cometeram crime contra a administração pública. Logo, não tem qualquer fundamento o discurso da impunidade como causa da violência urbana, visto que o sistema repressivo está funcionando a todo vapor e abarrotando as prisões de ladrões e pequenos traficantes. Finalmente, depreende-se desses dados que na verdade existe uma alta seletividade do sistema, ou seja, prende-se apenas pobres, negros, excluídos, analfabetos, sem profissão e delinquentes comuns.
Segue, na íntegra, os esclarecimentos do Ricardo Chaves.
Caro Gerivaldo,
Tomo a liberdade de te enviar esse e-mail, para esclarecer, mesmo que possa não ser do seu interesse, alguns pontos que constam do comentário feito por você a respeito do que postei sobre o assalto que fui vítima. De início deixo claro que lamento muito que a sua interpretação do meu texto tenha sido tão equivocada. Seguem pontos que comprovam o seu equivoco:
- No meu texto, em nenhum momento existe lamentação por perda de bens materiais. Eles apenas são citados como informação de um fato ocorrido.
- Eu não reclamei de um suposta ação policial, ou mesmo minha, que terminasse em morte. Essa palavra não está presente no meu texto. Na hipótese da ação da polícia, uso o termo “atirasse” e na de uma suposta reação minha, uso “abatesse”. Em nenhum dos dois casos, existe a referencia a morte de ninguém.
- No texto não digo que apoiaria nenhuma das duas hipóteses alí aventadas. Apenas exemplifico o que ocorreria caso elas ocorressem. O que descrevo alí seriam sim, as consequências que resultariam das supostas, repito para que fique claro SUPOSTAS, ações. Elas estão no texto com o intuito de demonstrar quanto a banalização do crime pode distorcer as coisas.
- Quando digo que os marginais gozam de direitos que eu não tenho, demonstro com as SUPOSTAS ações e suas consequências, a inversão de valores existente, onde o cidadão de bem se sente acuado pela ausência do Estado que deveria dar a proteção, ao contrário dos marginais que encontram sim quem os defenda. Note que, não emito juízo de valor sobre se essa defesa é correta ou não. Apenas constato um fato.
- Para que essas distorções sejam evitadas é que digo que já passou da hora de rever alguns pontos das nossas leis. Perceba que, não aponto que devam ser mudadas para que se mate ninguém, apenas para que o trabalho de vocês juízes seja facilitado e possa diminuir a sensação de impunidade presente na sociedade.
- O senhor está correto quando diz no seu comentário que estava clamando por segurança. Esse não é um clamor meu, é de quase toda a sociedade e imagino que seja seu também. Mas repito, não defendo, em nenhum momento que se deva matar ninguém.
- Encerro o meu texto lembrando que no ano que vem, teremos a oportunidade de usar a melhor arma a ser usada em um estado democrático de Direito que é o nosso voto. É nele que acredito para transformar as coisas.
Realmente eu lamento que o senhor tenha usado o seu texto para diminuir “um desses cantores de axé” que antes de mais nada, é um cidadão, pai de família, formado e gerador de empregos. Se represento perigo, ele é muito menor do que uma interpretação errada feita por alguém como o senhor. Caso me conhecesse, como é o caso de vários colegas seus, jamais teria escrito algo como o que escreveu. Penso que seria mais adequado que me criticasse revelando, talvez, uma possível falta de clareza no que escrevi. E não emitindo uma “sentença” sem fundamento.
Ao contrário do senhor, eu acredito, sim que viveremos em um mundo melhor. Estamos do mesmo lado nessa guerra.
Um abraço,
Ricardo Chaves
Fonte:calila noticias