sexta-feira, 2 de agosto de 2013
'Pelo que o Bahia vem fazendo, a torcida tem que aumentar o sonho', avisa Cristóvão Borges
Cristóvão Borges chegou ao Bahia justamente no início do Campeonato Brasileiro. Momento difícil, quando o tricolor enfrentava a fúria da torcida, engasgada com o título do rival Vitória com direito a duas goleadas históricas: 5x1 e 7x3. Aos 54 anos, esse soteropolitano criado no Nordeste de Amaralina fez mágica com o Esquadrão.
Em 11 jogos até aqui na Série A, são cinco vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas, com 13 gols marcados e dez sofridos. O G-4 é uma realidade e, daqui pra frente, não custa nada sonhar.
Depois da vitória por 3x0 sobre o Flamengo, o treinador visitou a redação do CORREIO e foi sabatinado pela equipe de Esporte. Sereno, Cristóvão não fugiu de nenhuma pergunta e mostrou o seu lado descontraído em boa parte das respostas. Confira a entrevista do técnico nesta e nas próximas páginas.
Direto ao assunto: O Bahia é o segundo no Brasileiro. O torcedor pode sonhar?
É interessante porque esse tipo de texto eu já usei algumas vezes conversando com os jogadores. Pelo que a gente vem fazendo, tem que aumentar o sonho. Tem que aumentar o sonho porque pode. Mas temos que ir passo a passo, aumentando a confiança. Uma coisa pode ter certeza: a gente vai fazer um bom campeonato.
É uma questão de confiança? Foi isso que você conseguiu resgatar?
Sim. Primeiro era sair daquele momento em que eles estavam muito tristes, confiança zero. Futebol é jogo de moral. Se você está com o moral elevado, o jogo flui e você faz coisas que nem acredita. Eles precisavam disso. Estavam muito sofridos. O primeiro trabalho era esse. Com isso, veio a nossa filosofia. Eu sou baiano, sou daqui e tem essa conversa (fora): ‘Ah, Nordeste, não sei o quê’. Saí daqui há muito tempo e consegui muita coisa porque sou confiante. Trabalhei muito isso também. Expus minhas ideias, eles acreditaram e se adaptaram ao trabalho. Quando faço uma palestra, falo tudo pra eles sobre organização tática. Mas tem que jogar. Se o time for só organizado não adianta nada. Tem que ser agressivo, atacar. Hoje eles não têm medo, receio ou dúvida. Pra ganhar da gente, vai ter que jogar melhor. Esse negócio de intimidar, não tem. Sei o quanto isso é importante. Hoje, posso dizer que isso está superado.
O que pôde ser feito no período da pausa para a Copa das Confederações?
Conversava com a comissão técnica do risco que estávamos correndo em jogar aqueles cinco jogos antes da Copa das Confederações. A gente trabalhou muito para tirar algum proveito daquilo. Sabíamos que o grande campeonato íamos jogar depois desse período. Mas a gente somou pontos surpreendentes, que ninguém imaginava... Todo mundo esperava só pancada. Foi o maior presente. O que o time faz de compactação, jogando em 40 metros, de se defender bem, ter jogo de transição... Tudo isso foi por causa desse período de treinamento.
Compactação, posse de bola e disciplina tática. Você sempre cita esse tripé nas entrevistas. É a base do seu trabalho?
Quando o Santos foi jogar com o Barcelona, todo mundo tomou um susto com o show. A gente já sabia daquilo tudo. Às vezes precisa acontecer uma tragédia ou ficar claro demais pra se ver aquilo. No Brasil, a gente precisa melhorar a organização de jogo, a posse de bola. Erra-se muito passe. Como se vai jogar futebol errando o tempo todo? No futebol europeu, existem poucos erros. Os caras tocam a bola e finalizam. A gente precisava evoluir na parte tática. Posicionamento em campo e disciplina. Ficam aí falando do Ganso. O cara é um fenômeno, mas futebol é competitivo. Tem que competir. Se não competir, não vai. Ao invés de ficarem cobrando os treinadores para que ele jogue, alguém poderia ir lá e dar um toque: ‘precisa melhorar nisso’.
Como implementar essa mentalidade com o jogador brasileiro?
Todos nós precisamos enxergar isso e valorizar. Falo muito do Ganso. Mesmo todo mundo vendo que ele é um craque, ficam forçando a barra ao invés de ajudar o cara a melhorar. O que acontece comigo? Você induz através de treinamentos específicos. Desde que cheguei aqui, recebi quatro propostas. Recebi propostas que financeiramente seriam altamente vantajosas. Não só financeiramente. Mas eu quero ficar. Estou conseguindo fazer aqui o trabalho que acredito, com a resposta que eu quero, que preciso como profissional.
Teve proposta do Fluminense?
Teve.
Então ninguém te tira do Bahia?
Aí eu não posso dizer. Pode vir um sheik aí (risos)...
FONTE:CORREIO DA BAHIA