domingo, 6 de outubro de 2013
‘A responsabilidade do STF’, de Fernando Henrique Cardoso
Só quando instado por jornalistas opinei sobre o processo do chamado “mensalão”. E não entrei na seara que é própria dos juízes: que réus deveriam ser absolvidos ou condenados e, neste caso, a quantos anos. Pessoalmente, não me movem impulsos punitivos e muito menos vingativos. A maioria dos réus não cruzou comigo na vida pública; em geral, seus modos de agir e pontos de vista políticos não coincidem com os meus. Mantive, é certo, um relacionamento cordial com os que tiveram mandato parlamentar. Embora entendendo as reações de indignação dos que pedem punição rápida, achei que não deveria entrar nesse coro. É óbvio que existe nas ruas um sentimento de dúvida, quando não de revolta, com os resultados ainda incertos do julgamento. Afinal, para a maioria dos brasileiros, trata-se de uma das poucas vezes em que habitantes do “andar de cima”, como se os qualifica no falar atual, estão no pelourinho.
O Top Five da presidente conduz à pergunta inevitável: como é que o Brasil sobrevive?
Como Dilma Rousseff se supera a cada palavrório, qualquer lista de trapalhadas espetaculares protagonizadas pela presidente exige atualizações constantes: os piores momentos serão sempre os próximos. Feita a ressalva, a coluna está convencida de que o vídeo de 5:25 exibe um Top Five de altíssima baixa qualidade.
Os cinco momentos selecionados pelo timaço de comentaristas ocorreram depois da chegada de Dilma à Presidência da República. Somados, ajudam a entender que o governo brasileiro é chefiado por um neurônio solitário que fala dilmês. E conduzem a uma pergunta sem resposta: como é que um país dirigido por alguém assim consegue sobreviver?
Dilma ensina que médico bom apalpa até coração
De todos os temas nacionais sobre os quais a presidenta discorre como quem acaba de sair de coma profundo ou de longa temporada de isolamento total e completa afasia num fiorde norueguês, a saúde, possivelmente, é o de sintaxe mais doentia. Em 33 meses de governo, ao falar do assunto, ela nunca demonstrou saber distinguir uma gaze de uma traqueostomia, enquanto tentava comparar o SUS com a saúde pública sueca ou com a saúde particular da cúpula do governo, a do Sírio-Libanês.
Uma de suas maiores dificuldades, no campo da saúde, tem sido falar do antigo e valoroso Samu, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência ─ nome que, até ela assumir a Presidência, provavelmente evocava-lhe uma das estrelas aquáticas do SeaWorld.
Num de seus primeiros discursos examinando o sistema de saúde pública que dá gosto de ficar doente, ela resumiu a importância da sigla:
“Nós temos o Samu. Porque o Samu tem desempenhado no Brasil um papel fundamental, que é juntá toda a rede e olhá onde que tem disponibilidade e onde que a criança, ou o adulto, no caso, deve ser levado”
Ou seja: o Samu é um serviço de ambulância que leva o paciente para um hospital onde possa ser atendido.Fonte:Veja(coluna-Augusto Nunes)