Ficar bêbado é o objetivo de 56% dos baladeiros que vão a casas noturnas na cidade de São Paulo. Entre esse público, índice quase igual (57%) diz já ter pego carona com alguém embriagado na saída das baladas.
Os dados, colhidos neste ano, fazem parte de estudo obtido pela Folha sobre hábitos de consumo e comportamento nas baladas paulistanas, feito pelo Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas), da Unifesp.
Do funk ao sertanejo; de casas noturnas frequentadas pela classe AAA a locais de rock e música eletrônica, passando por noitadas GLS, 2.422 pessoas foram entrevistadas em 31 casas noturnas.
Feito pela pesquisadora Zila Sanchez, o estudo constatou que um terço dos frequentadores praticam o "binge drinking", ao tomar quatro ou cinco doses de bebida em poucas horas. Vodca, cerveja e uísque, pela ordem, são as bebidas preferidas.
Homens são os maiores adeptos do "binge", 53%; entre mulheres, 47% beberam muito em pouco tempo.
MUHERES QUE BEBEM
Psiquiatra da Unifesp, Dartiu Xavier diz que o alto consumo de álcool pelo público feminino chama a atenção, por ir na contramão da literatura médica.
O álcool no sangue da mulher, diz ele, gera uma dosagem 30% maior do que a tomada por um homem.
Para Zila, preocupa o índice de motoristas alcoolizados. Dos que chegam dirigindo (22%), um a cada cinco já estão embriagados. Frequentadores com renda superior a R$ 3.500 mensais são a faixa salarial que mais bebe.
Para atenuar o problema, ela sugere maior oferta de transporte público e a proibição de venda de álcool para quem já está bêbado, o que, diz, é norma na Suécia e em Estados americanos.
Zila propõe ainda uma discussão sobre os horários de funcionamento das baladas.
Ronaldo Laranjeira, também psiquiatra na Unifesp, é a favor de um rigor maior na concessão de licenças a estabelecimentos que vendem álcool depois das 23h.
Segundo ele, o levantamento "destaca a preparação de um ritual facilitado pela própria indústria do álcool, com ambientes favorecendo a intoxicação".
"Como sabemos, beber é mais perigoso quando ocorre fora de casa. Há mais chance de acidente, gravidez indesejada e assim por diante."
DROGAS ILÍCITAS
Entre as drogas ilícitas, maconha (5,5%) e ecstasy (2,2%) são as mais consumidas em baladas não GLS.
Em casas noturnas "gay friendly", as proporções de consumo são maiores. Lá, ecstasy (9,3%) e ketamina, 8,2%), um anestésico veterinário, lideram.
"A ketamina é uma porrada. É uma droga despersonalizante, que te faz se sentir outra pessoa. Não chega a produzir alucinações mas distorce a realidade", diz Xavier, também diretor do Proad (Programa de Orientação e Assistência a Dependentes).
Ele afirma que o estudo é uma "bússola" inédita para "pensarmos no que deve ser feito em termos de prevenção" em todo o país.
DESCRIMINALIZAÇÃO
Para Facundo Guerra, dono das baladas Lions e Yacht, as medidas de prevenção deveriam passar pela descriminalização do uso de drogas.
"Hoje em dia você não sabe que tipo de entorpecente está sendo vendido. É preciso encarar o assunto com menos hipocrisia", diz.
Ele cita a distribuição de um kit para detecção do grau de pureza e potência das drogas como exemplo. "Isso já é comum na Holanda e na Alemanha. Para a pessoa saber o que está tomando."
Nas baladas paulistanas há mais homens (61%) que mulheres (39%). Come-se muito pouco: apenas 8% dos entrevistados dizem ter se alimentado durante a noitada.Fonte:Folha