Os profissionais do programa Mais Médicos reprovados no Revalida ouvidos pela Folha criticam o exame. Para eles, a prova exige conhecimentos aprofundados em diferentes áreas de especialização da medicina e não condiz com a rotina na atenção básica.
Formado na Argentina em 2011 e atuando pelo Mais Médicos no interior goiano, Udelson Gemha afirma que a prova de revalidação é um mecanismo para "barrar a vinda de médicos estrangeiros".
"Na prova, [é preciso responder] como vai tratar uma pessoa com um problema no coração dos mais complicados. Na vida real, você encaminha a um cardiologista", diz ele, que foi aprovado na revalidação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
"É uma questão de conhecimento específico."
Um dos médicos que fazem parte do programa é formado na Rússia. Ele, que pede para não ser identificado, exemplifica: o teste de oito ou nove horas é mais estressante que um plantão de 72 horas em Moscou.
Outro formado na Argentina e trabalhando no interior de Santa Catarina, Vinícius Bareta diz que a prova não é "feita para avaliar a capacidade do profissional, está para dificultar".
Ele compara situações com que se depara no Mais Médicos com as exigidas no exame. "No Revalida, eu tenho dois minutos para responder um caso clínico de uma página. Aqui, tenho no mínimo 15 minutos com meu paciente."
Bareta também já foi aprovado pela UFMG, mas decidiu fazer o Revalida enquanto aguarda o documento. "Se passei numa das melhores universidades do país, como não posso ser aprovado no Revalida, que, supostamente, está direcionado para facilitar a entrada de médicos, como diz o governo?"
Atuando em Chuí (RS), Eduardo Brito é formado no Uruguai e foi reprovado no Revalida. "A prova não avalia conhecimento."