A polícia baiana é a que, em números relativos, mais matou em 2012. Ao todo, foram 344 pessoas mortas em confrontos com as polícias Civil e Militar, o que dá uma taxa de 2,4 mortes por cada 100 mil habitantes. Em São Paulo, onde a polícia matou 563 pessoas, a taxa é de 1,3. Na Bahia, a PM registrou 284 autos de resistência seguidos de morte no passado, enquanto a Polícia Civil contabilizou 60 casos. A soma indica quase uma morte por dia no ano.
Os dados fazem parte do 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado ontem. Na avaliação do secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, os números da Bahia são elevados porque são fornecidos com “lisura”.
“Dos 19 estados do grupo que fornece dados confiáveis, somente nove, entre eles a Bahia, registraram as informações (das mortes em confronto com a polícia). É comparar o igual aos desiguais. Tem estado que não quer fornecer os dados e quem fornece, e com lisura, é penalizado”, argumentou Barbosa, sem entrar no mérito sobre atuação dos policiais.
Já o coronel Antônio Jorge Ferreira Melo, pesquisador do Programa de Gestão e Estudo de Segurança Pública da Ufba, observa que é preciso diferenciar os verdadeiros confrontos das execuções. “Tem que se apurar se esses confrontos não foram armados. Hoje, a violência está gratuita. A polícia de um modo geral tem um grau de letalidade grande e histórico, pois não temos o hábito do uso de armas não letais. Temos a cultura da arma de fogo”.
O especialista, entretanto, fez uma ponderação: “Hoje, a população tem facilidade de se armar e qualquer boca de fumo tem uma guarda armada, então existem confrontos”. De acordo com o anuário, em 2012 houve uma queda no número de policiais militares mortos em serviço na Bahia: foram três registros contra seis em 2011. Mas, com os PMs fora de serviço, a situação é inversa. As mortes cresceram de uma em 2011 para 23 em 2012.
Em relação aos policiais civis, foram contabilizadas três mortes fora de serviço no ano passado e nenhuma em 2011. Com os policiais em serviço, não houve registros de morte em 2012. No ano anterior, foram quatro assaltos.
Números
O estudo do FBSP apresenta ainda outros dados sobre a criminalidade no Brasil e na Bahia. Em números absolutos, o estado foi o que registrou a maior quantidade de homicídios dolosos (com intenção de matar) em 2012. Foram 5.462 assassinatos, o que resulta numa taxa de 38,5 mortes por cada 100 mil habitantes. O estado de São Paulo aparece em seguida, com 4.836 mortes - taxa de 11,5. A taxa nacional de homicídios dolosos é de 24,3.
Para o secretário Maurício Barbosa, também neste caso pesou a forma como a Bahia contabiliza seus dados. “Nós classificamos qualquer morte sem autoria ou causa aparente como homicídio, enquanto outros estados utilizam a nomenclatura morte a esclarecer”, declarou o secretário, defendendo uma padronização para a pesquisa.
Ele deu como exemplo Minas Gerais, que registrou 3.924 homicídios e classificou 3.780 como “mortes a esclarecer”, enquanto a Bahia apontou apenas 446. No Rio de Janeiro, foram contabilizados 3.814 homicídios, mas há 3.619 “a esclarecer”.
Ainda segundo o Anuário, em 2012 a Bahia também registrou, em valores absolutos, o maior número de mortes de crianças de 10 a 14 anos: 86. O relatório aponta também 2.511 estupros no estado em 2012, um crescimento de 20,8% em relação a 2011.
Polícia baiana é a que tem o maior índice de confiança da população
Juntamente com o Anuário da Segurança Pública, foi publicado um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que aponta que 70% da população brasileira não confia no trabalho da polícia. Entretanto, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a mesma pesquisa, se destrinchada, mostra que os baianos são os que mais confiam nas forças policiais.
Ao todo, 54% dos entrevistados na Bahia disseram confiar na PM e 50% confiam na Civil, segundo a SSP. Na avaliação de Maurício Barbosa, este resultado é fruto do fortalecimento das corregedorias e dos processos que já resultaram em afastamento de policiais envolvidos em delitos.
“Desde o início da gestão, 600 policiais foram demitidos. A população percebe que há um esforço muito grande de se separar o joio do trigo”, afirmou Maurício Barbosa. Nos Estados Unidos, um levantamento realizado pelo Instituto Galloup mostrou que apenas 12% das pessoas desconfiam da atuação da polícia no país. O número é similar ao registrado no Reino Unido.