Eleito presidente do Partido dos Trabalhadores, Everaldo Anunciação terá a tarefa de apaziguar as executivas e militantes do partido e construir a unidade para as eleições de 2014. Em entrevista à Tribuna, o dirigente reconhece que o PT precisa passar por “ajustes”. “Seria um absurdo se não tivéssemos esse olhar crítico”. Sobre a definição do nome para suceder o governador Jaques Wagner, ele não descarta nenhum dos quatro pré-candidatos citados.
Segundo Anunciação, haverá consenso na escolha. Sobre os demais partidos que desejam entrar na chapa governista, ele destaca que há espaços para serem distribuídos nas esferas de poder. A candidatura da senadora Lídice da Mata é colocada por ele como um movimento isolado ao projeto do PT. “Será uma candidatura que irá competir com o projeto nacional e estadual automaticamente”.
Tribuna da Bahia - Como o senhor viu a disputa interna? Ficaram mágoas?
Everaldo Anunciação - Não. De minha parte não e acredito por parte dos companheiros também não, porque esse é um exercício natural do PT. Nunca houve um PED que não tivesse disputa. A história disso é que sempre teve disputa e depois a gente se reencontra, se reorganiza e caminha junto. Faz parte da cultura democrática.
Tribuna - Qual o maior desafio do senhor? Será difícil construir a unidade no PT?
Anunciação - Não. Nós já tivemos histórias passadas que trouxeram maturidade de que quando o PT briga as lutas externas ficam muito mais difíceis. Nós entendemos que a unidade é que traz a liga real para os enfrentamentos. Acredito que essa maturidade que o partido tem hoje, o próprio PED, o resultado eleitoral, o resultado das conversas sobre 2014, tudo tende que seja um processo de unidade. Além disso, o sentimento na base do PT, as andanças, as reuniões feitas em todos territórios, a militância diz isso que é preciso ter unidade e a própria sociedade diz que é muito mais eficiente que através da conversa e na construção do consenso se chegue ao entendimento.
Tribuna - O maior desafio é construir uma candidatura competitiva que permita o partido continuar no comando do poder no Estado?
Anunciação - O desafio do PT é continuar no coração das baianas e dos baianos. Nós somos o partido mais querido. Temos pesquisas hoje mostrando uma preferência extraordinária de 33% contra 8% do segundo colocado. O desafio é reafirmar o que temos feito pela Bahia e pelo Brasil e sermos capazes de dar respostas concretas aos anseios, aos pedidos da juventude, aos pedidos das ruas. É garantir que nós que conduzimos até aqui esse projeto de sete anos de Bahia, dez anos de Brasil temos condições de continuar fazendo com que esses sonhos do eleitorado e da sociedade possam ser materializados em mais coisas.
Tribuna - Caetano sinaliza recuar. Gabrielli diz ter apoio de Lula e da militância. Pinheiro se movimenta e deve lançar candidatura dia 23. Rui é o favorito?
Anunciação - Nós temos um consenso construído entre os quatro e a direção do PT de que nós vamos apresentar a militância e a sociedade baiana um nome construído no entendimento. O diretório estadual por unanimidade criou uma comissão que já ouviu os quatro pré-candidatos, o governador Jaques Wagner, já dialogamos com a bancada estadual e federal, com a representação de prefeitos. Estamos muito conscientes que a unidade será construída. Os quatros são extraordinários. Se você pegar qualquer um desses, você pode dizer que tem um craque que compete uma bola de ouro com qualquer nome. Nós não trabalhamos para personificar o processo. Trata-se de um projeto e qualquer um dos quatros tem condições de dar andamento a esse projeto existente na Bahia e no Brasil.
Tribuna - O desejo do governador vai prevalecer sobre o PT?
Anunciação - Nunca no PT foi isso. As pessoas diziam isso com Lula e Dilma. A decisão é do partido, claro, ouvindo as lideranças, ouvindo o governador que é o principal cabo eleitoral nosso, grande articulador de política que ganhou duas eleições em primeiro turno, criando uma base aliada que lhe deu a governabilidade, sendo capaz de fazer esse governo que está sendo feito na Bahia. O que vai prevalecer é a unidade, é o bom senso petista, construída com o governador, com os quatros pré-candidatos, com o partido e posteriormente com a base aliada.
Tribuna - O prazo para anúncio do candidato terá que ser adiado ou definem até dia 30?
Anunciação - Não. Nós estamos construindo dia 30 para dar posse ao presidente estadual, aos presidentes municipais, fazendo uma festa. Estamos em um processo acelerado de entendimento e acredito que dia 30 nós possamos chegar e apresentar este nome do partido para militância do Partido dos Trabalhadores, mas, sobretudo para ser trabalhado a partir daí com a base aliada.
Tribuna - Como o senhor vê a expectativa do anuncio da pré-candidatura do senador Walter Pinheiro no dia 23?
Anunciação - Olha, eu conversei com o senador e ele em nenhum momento disse que estava fazendo plenária para lançar candidatura. Ao contrário, ele reafirmou o compromisso que fez conosco, com a direção, comigo enquanto candidato e hoje eleito presidente do PT de que ele não será o candidato da discórdia, mas sim um nome para ser discutido e construído o consenso entre os quatro. Ele está consciente que será no entendimento e na unidade.
Tribuna - Dos quatro nomes, o senador Walter Pinheiro é o que melhor pontua nas pesquisas de opinião. Ele pode ser a carta na manga do partido ou está descartado por ter o veto do ex-presidente Lula e não ter a simpatia do governador?
Anunciação - Eu diria que temos quatro cartas nas mangas para usar com qualquer um deles, pois são nomes extraordinários para serem apresentados, agora não é questão de pessoa, mas sim de projeto. Nós vamos apresentar um projeto e um candidato capaz de que esse projeto seja um sucesso.
Tribuna - Definido o nome, o que farão para atrair o apoio dos outros partidos da base?
Anunciação - Nós vamos fazer o que tem sido feito na política brasileira, de discutir programa de governo, de discutir compromisso de campanha, de fazer uma conversa fraterna com os partidos, de começar a planejar uma estratégia que seja capaz de ganhar a majoritária, mas também a eleição proporcional. Nós queremos ganhar o governo da Bahia, mas também nós queremos que a bancada de deputados estaduais seja esse arco de alianças para darmos continuidade às políticas que implantamos na Bahia.
Tribuna - PP, PDT, PT E PSD. Como acomodar tantos aliados interessados na chapa?
Anunciação - Nós temos uma experiência boa. Nós tivemos no governo passado essa acomodação. Nós fizemos isso bem com a chapa do Senado. Fizemos isso na acomodação e distribuição das secretarias do Estado. O PDT tem a presidência da Assembleia, hoje o PSB tem a UPB e a Secretaria de Turismo, hoje tem indicações em outros espaços. Nós vamos compartilhar isso. Tem muitos espaços. Na chapa tem três, mas tem outros espaços de poder que podem ser bem distribuídos entre os partidos, inclusive para mais partidos que queiram vir para a aliança.
Tribuna - O governador Jaques Wagner pode ser alçado ao senado, com Otto ao governo? É viável essa formação de chapa ou não há como abrir mão da cabeça de chapa?
Anunciação - Óbvio que essa composição seria vitoriosa, mas o que acontece é que já existe um processo em andamento, onde inclusive o vice-governador Otto Alencar se dispõe a candidatura do Senado, sendo um nome extraordinário que vai ser um grande senador como é um grande vice-governador. A questão do PT querer a cabeça não é prepotência, arrogância, mas sim porque queremos continuar conduzindo um projeto que foi capaz de reacender nas pessoas a esperança com a política. Se pegarmos dez anos atrás, as pessoas não acreditavam na política, achavam que política era uma mesmice que acontecia no País, mas depois de Lula, de Dilma e de Wagner, as pessoas já dialogam de outra forma. As pessoas já discutem mais política, fazem críticas, mas acreditam mais na política e o PT é responsável por isso, não sozinho, mas com um conjunto de partidos. Porém o PT é que hegemonizou na política brasileira essa expectativa e esperança de que é possível realizar sonhos através das políticas públicas.
Tribuna - Como avalia as críticas de alguns partidos sobre o fato de o PT não abrir mão de encabeçar a chapa?
Anunciação - Eu acho que algumas são incorretas e posso pegar alguns exemplos práticos. No último pleito municipal, o PT concorreu em 212 cidades, então o PT fez alianças e apoiou muito mais candidatos do que candidaturas próprias. O PT tem essa característica de fazer aliança, agora há uma aceitação natural sobre o projeto petista. Um partido que tem 33 % de aceitação do eleitorado da Bahia tem uma faixa natural de ocupação de espaços políticos. O PT não que ter o controle absoluto da política brasileira, baiana, mas queremos compartilhar os espaços. Essas reclamações são isoladas e não condizem com as alianças que temos feito no Brasil e na Bahia. Os partidos que estão conosco na Bahia, inclusive, querem continuar nessa aliança.
Tribuna - Acredita na candidatura da senadora Lídice da Mata? Será pra valer? Ela será de oposição ao PT?
Anunciação - Olha, eu acredito que essa é uma questão que Lídice e o PSB devem resolver. Eu gostaria muito que ela continuasse. Sei que o coração dela tem muita simpatia pela presidente Dilma Rousseff, mas o PSB decidiu por um caminho. Eu acho que ela vai ter que resolver com Eduardo Campos, com o PSB, mas nós do PT e eu em particular tenho por ela um respeito muito grande. Agora só dá para estar com a gente quem tiver no palanque de Dilma.
Tribuna - Então ela será candidata de oposição ao PT na Bahia, caso decida pela candidatura?
Anunciação - Será uma candidatura que irá competir com o projeto nacional e estadual automaticamente, pois se ela não está no projeto nacional nós teremos dificuldades. Mas esse comportamento quem pode falar é ela. Aliás, eu tenho muito respeito ao PSB e aos dirigentes do partido na Bahia.
Tribuna - Como avalia o cenário da oposição? Geddel ou Paulo Souto? Qual dos dois ameaça mais os planos do PT?
Anunciação - Olha, eu gosto de tratar a política como concepção e não as pessoas que dirigem a política. As pessoas se ajustam a uma concepção política. Eu acho que Paulo Souto e Geddel têm muita identidade nos projetos políticos que eles defendem e externam para a sociedade, então uma junção deles ou em separado não é isso que está em nosso olhar. A gente quer fazer um debate com a sociedade sobre os projetos. Qual o projeto que interessa a sociedade? A gente ficou feliz quando a sociedade foi às ruas no mês de junho para dizer que queriam mais. Ninguém foi rechaçar o projeto, nem as políticas nossas de Minha Casa Minha Vida, nem do PROUNI, nem do Mais Médicos, nem da política de melhoria das estradas, de agricultura familiar. As pessoas disseram que queriam mais. As pessoas não disseram que queriam o velho projeto, a concepção de estado mínimo, a concepção de privatização das grandes estatais, a política que não cria condições para as pessoas terem acesso a moradia e a educação. Então não é um debate de pessoas, mas sim de projetos que as baianas e os baianos querem para o Estado.
Tribuna - E a reeleição da presidente Dilma? Como o partido avalia o cenário na Bahia?
Anunciação - Olha o quadro eleitoral, as pesquisas, as manifestações espontâneas estão demonstrando uma reeleição tranquila da nossa companheira Dilma Rousseff. Óbvio que no Nordeste você ter uma candidatura regional, isso tem um impacto. Acho que a Bahia continuará tendo uma influência, com um peso significativo na eleição. Os baianos como sempre demonstrando um carinho muito grande pelo ex-presidente Lula, por Dilma e por Wagner vai possibilitar um desempenho satisfatório.
Tribuna - A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva pode atrapalhar os planos do PT?
Anunciação - Eu acredito que não. Acho que a opção feita nessa aliança é clara de que tipo de sociedade se pensa, de que segmentos da sociedade essa candidatura se alinha. Então isso está muito claro na sociedade. O projeto do PT e a estratégia do PT vão continuar, serão mantidas. Óbvio que se você tem quatro, cinco candidaturas o processo é natural. Eu participei agora com cinco candidaturas, o que abriu um leque de possibilidades, mas, quando ela é bem articulada dá nisso que aconteceu com nossa chapa ganhando com 75%
Tribuna - Como avalia o governo Wagner? O maior erro e o maior acerto?
Anunciação - O maior acerto é essa capacidade republicana e transparente de que é possível fazer política com respeito aos adversários. O maior erro é não poder ser candidato a reeleição, pois seria novamente reeleito em primeiro turno. Aí é a legalidade que não permite.
Tribuna - Como avalia a administração do prefeito ACM Neto em Salvador?
Anunciação - Eu acho que é cedo para avaliar. Acho que tem algumas atitudes que são discutíveis e que o processo de participação social precisa ser revisto. Acho que qualquer governo não só do PT ou do Democratas, a sociedade civil deve ter maior influencia nas decisões. Isso é importante para consolidar a democracia, mas ainda é incipiente nós fazermos uma avaliação do governo municipal. A sociedade ao companheiro Nelson Pelegrino teve 46% dos votos, nos colocou como observadores constantes das políticas públicas, nós elegemos uma bancada significativa e estaremos fazendo isso, monitorando e acompanhando o governo. As políticas que sejam boas para a cidade nós não vamos fazer oposição por oposição, mas vamos querer radicalizar na relação entre o Executivo e a sociedade. Essa pimenta da relação com a sociedade civil nós vamos sempre estar questionando.
Tribuna - O STF decidiu antecipar o julgamento do mensalão. O senhor acredita que a prisão de José Dirceu e de outras figuras do partido vai ser usada na campanha das eleições de 2014?
Anunciação - Já estão usando há muito tempo. Aliás, há essa tentativa desde 2005, de ataque ao PT e nós estamos preparados para isso. Nós estamos preparados para fazer esse enfrentamento. Vamos respeitar obviamente o que a Justiça determinar, mas em momento nenhum nós iremos silenciados com esse equívoco que mais uma vez a Justiça brasileira comete em relação às lideranças políticas, especialmente ao companheiro José Dirceu. É inadmissível essa postura da Justiça. Nós vamos provar que não se pode cometer injustiça desse tamanho em um País que está consolidado a democracia. Nós não vivemos mais em uma ditadura, nós não vivemos mais em mais em um País sem instabilidade econômica, social, econômica para permitir esse tipo de análise individualizada de alguns setores da justiça brasileira.Fonte:Tribuna da Bahia.