Coluna, hérnia de disco, dores no joelho, problemas psicológicos, cardíacos e diabetes são as doenças que mais afetam os rodoviários, inclusive com mais de 20% da categoria afastada do trabalho pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em um total de 12 mil profissionais em Salvador e Região Metropolitana (RMS). Há um projeto de lei do vereador J. Carlos Filho (PT) que visa criar um Programa Municipal de Acompanhamento Psicológico e Médico para motoristas e auxiliares de bordo, profissional popularmente conhecido como cobrador.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários de Salvador, Hélio Ferreira, disse “tudo que venha ajudar a categoria é bom. A gente precisa de leis que tragam condições melhores de trabalho”. Entretanto, ele chama a atenção para a causa principal destes distúrbios que é a mobilidade urbana. “Existe uma luta do sindicato e da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) para que melhorem as condições de trabalho da categoria”, afirmou.
De acordo com o sindicalista enquanto não melhorarem estas condições de tráfego diário na cidade, os trabalhadores vão continuar apresentando sérios problemas. “Tem profissional que leva mais de cinco horas no volante, por causa de engarrafamentos.
Isto afeta os rins, intestinos, provocam varizes, tensão e pressão alta”, desabafou.
Outro problema sério apontado pela categoria é o cumprimento pela lei 12.619 que estabelece a “hora de descanso fracionada” para motoristas. Segundo Ferreira , a jornada é de sete horas e “uma hora de descanso fracionado a gente nem tem como fazer porque não existe local apropriado. Os terminais não têm espaço físico adequado, ficamos expostos aos gases poluentes. E isto não é bom nem para a gente, nem para a população”.
Sobre a implantação do ônibus elétrico da empresa chinesa Build Your Dreams (BYD), cujos testes começaram ontem a opinião do presidente do Sindicato dos Rodoviários é de que “na realidade para a gente não muda nada. Vai continuar ali dirigindo. O que seria bom era resolver o problema da mobilidade urbana”, sinalizou.
Mais de 3 mil rodoviários encostados na previdência
Há 27 anos trabalhando como motorista, Vicente Mendes da Silva, 53 anos, se encontra dois anos afastado devido a tendinopatia dos dois ombros e bursite, problemas de coluna cervical e da coluna lombar, que já apresenta degeneração; artrose crônica no joelho. Ele conta que o Detran até rebaixou sua carteira para B, sendo que a de motorista de ônibus é D e E. Mesmo com todos estes problemas, ele conta que o INSS não quer aposentá-lo por invalidez.
“Tive que recorrer à Defensoria Pública e através de uma liminar consegui receber porque o INSS não aceita minha doença para aposentadoria por invalidez e o Detran pediu laudo de psiquiatria, neurologista e ortopedista”, afirmou o motorista, acrescentando que o problema de saúde dele está apresentado no laudo do médico ortopedista e o psicólogo afirmou que não ia dar laudo porque não se tratava de problema de sua área.
“A gente sofre muito com esta situação, porque fica um jogo de empurra entre a empresa, Detran e INSS. No caso do INSS, quer que eu ocupe outra função dentro da empresa , mas não tenho qualificação para outra coisa, o que sei fazer é dirigir, mas estou incapacitado”, argumentou.
Problema semelhante está enfrentando Orlando Balbino Santos Carvalho, 39 anos, há dez anos motorista que há três anos tem grave problema de hérnia de disco e de coluna lombar, sentindo muitas câimbras em suas pernas. “Eu sinto tanta dor que até morfina já tomei. E toda vez que ia para a perícia do INSS dava alta, tive que recorrer à Justiça Estadual, consegui liminar como acidente de trabalho para receber, pois minha família estava passando necessidade”.