Dois pacientes americanos que pareciam ter sido curados da infecção pelo HIV, o vírus da aids, após um transplante de medula para tratamento de câncer voltaram a apresentar sinais da presença do vírus no corpo, informaram os médicos responsáveis pelos casos na sexta-feira. Em julho deste ano, caso dos pacientes foi anunciado durante uma conferência da Sociedade Internacional de Aids, na Malásia. Na ocasião, médicos afirmaram que um transplante de células-tronco parecia ter eliminado o vírus do organismo dos americanos.
Os pacientes, além de soropositivos, haviam sido diagnosticados com linfoma, um tipo de câncer de sangue. Ambos foram submetidos, em Boston, nos Estados Unidos, a um transplante para tratar o câncer – um dos procedimentos foi realizado há três anos e o outro, há cinco. Depois disso, os médicos não conseguiram encontrar nenhuma evidência de que o HIV ainda estivesse presente no corpo desses homens, mesmo semanas depois de eles terem deixado de fazer uso dos antirretrovirais.
O vírus, contudo, voltou a ser detectado em um dos pacientes doze semanas após ele ter sspendido o uso dos medicamentos. No segundo paciente, a presença do HIV fopi detectada 32 semanas depois. Segundo os médicos, os homens passam bem.
Reação — Mesmo com o resultado positivo na época, os especialistas não enxergavam a terapia com células-tronco como uma forma viável de tratar absolutamente todos os pacientes infectados pelo vírus da aids, já que tal tratamento é muito caro e complexo. Mesmo assim, eles disseram que a descoberta anunciada na sexta é uma decepção para a comunidade científica. "O retorno de níveis detectáveis de HIV nos nossos pacientes é decepcionante, mas cientificamente significativo", diz Timothy Heinrich, médico da Faculdade de Medicina da Universidade Harvard, Estados Unidos, que participou do caso. Segundo ele, esses dois casos podem fornecer pistas sobre como o vírus se esconde no corpo de uma pessoa.
Os casos de Boston tiveram um desfecho diferente do americano Timothy Ray Brown, conhecido como o “paciente de Berlim”. Brown, que também apresentava o HIV e havia sido diagnosticado com leucemia, foi submetido a um transplante de medula. A diferença é que seu doador, além de compatível, apresentava uma mutação do CCR5, que é a proteína que permite a entrada HIV nas células de defesa do nosso organismo. Sem ela, não há como o vírus infectar uma pessoa. Quatro anos após o procedimento, Brown deixou de apresentar o vírus no sangue, sem mesmo utilizar o coquetel antirretroviral.
Além disso, médicos estão esperançosos de terem promovido a cura da infecção pelo HIV em uma criança do Mississipi, Estados Unidos, que foi submetida à terapia antirretroviral logo após seu nascimento e deixou de apresentar sinais do vírus no corpo. O caso foi anunciado em março deste ano.