Comentarista de longa data das mazelas da classe médica, o obstetra Marcelo Reis aproveitou o último assunto relacionado aos colegas e detonou geral em entrevista ao “Se Liga Bocão” da Itapoan FM na noite desta quarta-feira (11). Ao falar das cooperativas médicas que têm sido denunciadas por irregularidades no setor da saúde, Reis não viu diferenças entre os médicos e criminosos comuns e disse ainda que a relação promíscua entre a medicina e o governo produz as ligas de bandidos na área.
O médico lembrou que o problema das cooperativas não existia antigamente, quando existia o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Na época, o dinheiro que pagava médicos era depositado diretamente do Estado para a conta de pessoa física do médico. Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), as regras mudaram e houve a criação de cooperativas, que passaram a monopolizar o valor e a cessão dos serviços diante dos trabalhadores.
Marcelo Reis também criticou os próprios colegas, que segundo ele saem da faculdade sem saber absolutamente nada sobre o valor de seu trabalho, quanto cobrar e como receber por ele. “São outras pessoas, os planos de saúde, que dão o preço do seu trabalho. Você não é o dono do preço do seu trabalho. Uma clinica boa, arrumada, estruturada, que presta um bom serviço, recebe o mesmo valor que um cacete armado em qualquer lugar. Essas coisas levam à corrupção. Essas pessoas que fazem isso (fraudes por cooperativas) não são médicos, são criminosos, pessoas que roubam a nação. Pessoas q prejudicam o povo e o médico”, criticou.
Uma solução, para isto, seria haver revolta e conscientização na classe médica. Para o obstetra, o profissional precisa se recusar a ter seu trabalho mediado e, literalmente, roubado pelos diretores de cooperativas. “É isso o que leva um diretor a receber uma fortuna. Sabe por que ele ganha uma fortuna? Porque isso é tirado do dinheiro dos auxiliares, dos médicos. Ele ganha porque aplica esse dinheiro, o gerente dele dá benesses porque ele deposita naquele banco. É só investigar isso aí”, provocou Reis.
Sobrou também para quem, entre os que usam jaleco branco, se considera prejudicado. Para o médico, conviver eternamente com ambientes de saúde sem estrutura também é culpa dos profissionais. “Qualquer médico tem o poder de ir lá e interditar (um local sem condições). Se não tem estrutura, ele pode. Então dizer que não é culpa dele? É sim!”, detona. A argumentação de Marcelo Reis desembocou no fato de que o principal patrocinador da manutenção dos problemas do Brasil é a classe média. “Ela é a culpada. Porque ela diz que não vai resolver problemas, que não vai fazer nada, porque ‘não quer se estressar’. E ninguém olha acima de um palco à frente do nariz. Essa conversa de quem elege é o pobre é mentira. Quem elege é a classe média, que faz campanha e vota em amigo em troca de cargo.”Bocão News