Antes de ter sua candidatura ao governo oficializada, o chefe da Casa Civil da Bahia, Rui Costa, dizia que falaria "somente como secretário" até o dia 30 de novembro, data estipulada para o anúncio do candidato do PT ao governo estadual. Três dias depois de ser indicado para disputar o cargo máximo do Executivo baiano, o petista conversou com o Bahia Notícias sobre o novo status. Rui Costa assumiu ser desconhecido do eleitorado de forma geral, mas relativizou a condição: “Se eu ainda sou desconhecido da população e apareço na última pesquisa que divulgaram com 5%, outros nomes são conhecidos e tem um, dois ou três pontos a mais do que eu. Em tese, quem está em uma posição diferenciada? [...] Eu tenho um universo a conquistar”, comparou. Além de se incluir em uma linhagem que representaria uma renovação petista – ao lado de Fernando Haddad e Alexandre Padilha – o secretário falou sobre o seu trabalho à frente da Casa Civil e dos motivos que o levaram a ser o “eleito” de Jaques Wagner. “Eu acho que o governador desejava e sonhava com alguém que pudesse fazer mais e melhor do que ele conseguiu fazer”, disse. Ao comentar o processo de definição do candidato petista, Rui minimizou os embates entre tendências e apostou que o PT reafirmará uma conhecida característica da legenda, ao se unir em prol da sua campanha. Apesar de admitir que já imagina possíveis chapas, Rui evitou falar em nomes para “apaziguar” a disputa entre aliados por espaços. No entanto, criticou duramente um ex-aliado, ao defender que existe uma “interferência indesejada” do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), no processo eleitoral baiano. “É uma interferência muito acintosa nas eleições estaduais para subjulgar os interesses de cada estado a um projeto pessoal”, opinou.
Bahia Notícias - O senhor foi anunciado oficialmente candidato do PT ao governo estadual. Quando deixa a secretaria e quem ficará no lugar?
Rui Costa - Não tenho a data ainda. Vou conversar com o governador esta semana para combinar com ele. O limite máximo é o começo de abril, que é o prazo legal. Mas devo sair alguns dias antes. Vou combinar com ele uma data intermediária, uma vez que estou responsável por alguns projetos importantes e gostaria de sair quando estes projetos estivessem em curso. Combinarei com ele essa semana e posteriormente a gente divulga. E ainda não está definido quem me substitui.
BN - Um dia antes do encontro do diretório, quando foi oficializada a sua candidatura, o governador expressou pela primeira vez uma preferência que já era comentada no meio político, de que o senhor era o candidato dele. Que atributos o fizeram o preferido de Wagner?
RC - A declaração do governador apenas consagrou ou selou algo que o PT já vinha debatendo e conversando há 11 meses. Durante este ano, fizemos muitos encontros regionais, com prefeitos, deputados estaduais e federais. Ou seja, houve um amplo debate e conversas internas que culminaram com essa escolha. Eu diria que vários fatores levaram a essa escolha. Primeiro, o aspecto de alguém que encarne e conheça por dentro o projeto que está em curso. Segundo, alguém que tenha a história vinculada com a origem e a trajetória desse partido. E com o que é exigido no momento atual. Por exemplo, a aposta que Lula e a direção nacional têm feito é parecida com a que a Bahia fez. Quando aposta no Haddad para a prefeitura de São Paulo, nome novo na política, pouco conhecido, que ainda não tinha disputado eleição. Ou a aposta no ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para o governo do estado. Poderia ser feita a pergunta: por que não pegar um nome já consolidado, como [Aloizio] Mercadante, Marta Suplicy? Justamente porque o PT entende que é preciso fazer um processo de renovação na política. E acho que a população clama nas ruas por isso também. Este final de semana, o Datafolha deu que o povo quer a manutenção das políticas em curso no país, mas quer renovação, modificações.
BN - Além do ineditismo do seu nome, a colocação do senhor na Casa Civil foi estratégica para essa indicação? A Casa Civil tem tocado projetos importantes, entre eles o metrô. No início do processo, o metrô estava vinculado à Secretaria do Planejamento. Ao trazer o projeto para a Casa Civil, o governador já dava um indicativo?
RC - Eu acho que não. Quando o governador me convidou para a Casa Civil, foi para ajudá-lo a acelerar as obras prioritárias do governo. Ele conhece o meu estilo, que é de pegada, cobrança, de querer resultados. Quando ele me convidou, já disse quais seriam os projetos que estariam sob a minha responsabilidade, entre eles o metrô, que se arrastava há 12 anos. Não só o metrô, mas a mobilidade urbana, a questão da infraestrutura hídrica e a convivência com o semiárido, o projeto da Ferrovia [Oeste-Leste] e do Porto. Se isso ajudou? Eu diria que isso talvez tenha ajudado a dar segurança ao governador, como ele próprio disse [risos]. Brincando, ele disse no sábado "eu tinha que testá-lo".
BN - Então, antes de ser o sonho do PT, Rui Costa já era o sonho de Wagner?
RC - Não sei. Aí tem que perguntar a ele. Eu acho que o governador desejava e sonhava com alguém que pudesse fazer mais e melhor do que ele conseguiu fazer. Eu vou mostrar isso durante a campanha. Na minha opinião, Wagner fez o melhor governo que a Bahia já teve, em várias áreas. Eu vou traduzir isso em números, fatos e comparações. Uma coisa é você ter opinião. Opinião sobre a realidade as pessoas têm várias. Quando você transforma essa opinião em dados, os números são inquestionáveis. Se eu falar de habitação, vou mostrar que, nesses seis anos e meio, ele já entregou 126 mil habitações populares. Devemos chegar perto de 240 mil até dezembro de 2014. Então, eu vou perguntar se algum governo, na história da Bahia, chegou perto de 240 mil habitações em um período de um ano. O governador chegará próximo de 9 mil quilômetros de estradas até ano que vem. De novo eu vou perguntar: quem fez perto de 9 mil quilômetros de estradas em oito anos? Nós saímos de 4 mil alunos matriculados no ensino profissionalizante para 66 mil. Inclusive, eu não sou de fugir das questões mais difíceis. Naquilo que, na minha opinião, é o nosso calcanhar de Aquiles – a segurança pública – de novo eu vou apresentar o que o governador fez. É evidente que eu e o governador não estamos satisfeitos com a situação. Mas eu vou mostrar o esforço feito. Como é que o governador recebeu a área de segurança em 2007? Com 26 mil policiais militares, com quase 200 cidades sem delegado, mais de 200 cidades sem uma viatura da Polícia Civil ou Militar. O prefeito das cidades cedia um carro da prefeitura para o policial civil ou militar poder correr atrás de bandido. Um Uno ou um Gol pequeno, ou seja, carros que não são adaptados para o policiamento. Metade da Polícia Civil da Bahia não tinha armamento; não tinha pistola. Equipamento de proteção, colete, nem se fala. Os salários dos delegados eram o piores do país. Hoje, é o quinto ou sexto melhor. Todos os soldados da PM recebiam abaixo do salário mínimo. Hoje, todos recebem acima. Ainda são salários que merecem ser melhorados? Sim. Mas é o sexto salário do país. Só os da capital recebiam tíquete-alimentação. Hoje, todos recebem. Atualmente todo policial tem a sua pistola. Não precisa ficar com essa história de revezamento. Até o ano que vem, todos terão o seu equipamento individual de proteção. Fizemos concurso para delegado. Temos 32 mil policiais militares na ativa. Com essa reestruturação feita, precisamos saltar para dar resultados mais efetivos nos indicadores de controle da violência. Vamos fazer um amplo debate com os segmentos de policiais e da sociedade civil. Porque a mesma máxima que vale para a limpeza pública vale na área de segurança pública. Uma cidade mais limpa não é aquela com o maior número de varrições por dia. Também é aquela onde a população mais contribui. Imagine se toda a população de Salvador jogasse tudo pela janela do ônibus ou do carro. A cidade vai ficar imunda por mais que se tenha garis e varrição. Aí, vai se criticar somente a limpeza pública da prefeitura? Não. Precisamos fazer as duas coisas: requalificar a limpeza pública e contar com a contribuição da população. Na área de segurança, é a mesma coisa. Temos que requalificar a área de investigação, principalmente, para se evitar o crime organizado. Mas queremos intensificar a relação com as famílias, já que 80% dos crimes estão direta ou indiretamente relacionados com o uso ou consumo de drogas. Então, é preciso envolver as famílias nesse processo. E, junto com a família, outros investimentos na área social e o resgate desses jovens. Nós precisamos salvar a vida desses jovens. E salvar a vida significa também envolver as famílias. Eu tenho o mesmo convencimento na área educacional. Os melhores resultados que nós temos são nas escolas onde há um envolvimento dos pais e da família. As escolas públicas são todas as mesmas. O que justifica diferenças tão gritantes de uma escola para outra? Eu sou em carne, osso e alma a testemunha disso. O acompanhamento familiar faz uma diferença grande no desempenho escolar dos alunos.
BN - Ainda sobre a sua indicação: uma parcela da militância do PT ficou bastante insatisfeita com a forma como a decisão foi tomada. Temos informação de que na DS [Democracia Socialista, tendência do senador Walter Pinheiro] os militantes foram orientados a se concentrar na campanha da proporcional. E o pessoal ligado a Gabrielli está divulgando na internet que não vão deixar de votar em você, mas também não fará campanha a seu favor. Como Rui Costa conquistará essa militância do PT?
RC - Esta é a história do PT. Eu sou filiado ao PT desde 1983. A história do PT é sempre de muito debate, paixão, muito sentimento envolvido. As pessoas que são filiadas ao PT fizeram uma opção de vida; não estão ali porque são amigas de fulano ou beltrano. E essas pessoas, que dedicaram suas vidas, nunca fugiram à batalha, à luta. E eu não tenho dúvida em afirmar que todos que são filiados do PT, militantes, sem exceção, estarão juntos nessa caminhada. De sábado para cá, eu recebi centenas de e-mails, de mensagens no celular ou nas redes sociais, de muitos militantes que eram simpatizantes da candidatura de Pinheiro, Gabrielli ou Caetano se prontificando para a campanha. É evidente que sempre fica aquele desejo: "ah, eu queria o meu candidato, ele teria um desempenho melhor". Mas, passados os primeiros dias, o PT caminhará unido, como sempre fez. Nós já tivemos prévia de Wagner com Pelegrino, lá atrás, para decidir quem seria candidato a prefeito de Salvador. Pelegrino ganhou e Wagner hoje é governador. O PT fez a campanha de Pelegrino unido naquela época e depois Wagner virou governador. Houve disputa entre Pinheiro e Pelegrino em 2008. Em 2010, Pinheiro disputou com Waldir Pires para ver quem seria candidato a senador. Pinheiro ganhou e toda a turma ligada a Waldir Pires entrou de cabeça e alma na campanha. Eu não tenho a menor dúvida de afirmar que agora será assim também. A campanha não será minha ou das pessoas que tinham simpatia pelo meu nome. A campanha será de todo o PT e de toda a base de governo. Portanto, a partir de hoje convidarei todos a formar grupos de trabalho para discutir o futuro da Bahia. Quero convocar os jovens para discutir o presente e o futuro do nosso estado na área cultural, educacional, de infraestrutura. Quero formar também grupos regionais para discutir o futuro de cada região do estado.
BN - Houve um desconforto dos outros pleiteantes quando Wagner anunciou, na rádio, um dia antes do encontro, que tinha escolhido o senhor. Houve um atropelamento na decisão?
RC - Não acho, não. Repito: foram 11 meses de debates. Nos últimos dias, muitos interlocutores que iam conversar com Caetano, Pinheiro ou Gabrielli diziam que eles topavam já retirar [candidaturas] e estavam convencidos de que já havia um pensamento amplamente majoritário no PT em torno de Rui. Mas todos eles diziam, segundo os interlocutores, que queriam ouvir um pronunciamento público do governador antes do encontro de que essa também era a sua opinião. Para que não ficasse cada um dizendo individualmente que desistiu. Várias pessoas que foram conversar com Pinheiro ouviram dele essa posição: "Olha, tudo bem, eu topo, sei que Rui já tem ampla maioria no partido, mas é importante o governador se manifestar". Em relação a Gabrielli e Caetano, foi a mesma coisa. Então, o governador deixou para se manifestar na véspera, para ser uma coisa já consolidada. Portanto, eu diria que ele, como militante, apenas expressou a sua opinião. É como nos tribunais: os juízes mais antigos são os últimos a declarar voto para não influenciar os outros. Qual é a regra no Tribunal de Justiça, no STF? Votam primeiro os mais novos, para não serem influenciados. O presidente ou o mais antigo vota por último. Assim fez o governador. Como liderança maior, ele deixou para se pronunciar por último para que não influenciasse em todo o processo.
BN - Mas publicamente, pelo menos, a impressão que deu foi outra. No mesmo dia, Pinheiro disse que mantinha a candidatura e Gabrielli chegou a fazer uma declaração mais forte, ao alertar para um risco de derrota do PT nas eleições poucos minutos depois de o governador anunciar a sua candidatura. Como o senhor encarou essa declaração?
RC - Um dos slogans que eu mais gostei de todas as eleições que Lula disputou foi aquele: "sem medo de ser feliz". Nunca tive medo na minha vida. Minha vida sempre foi de superação das dificuldades, dos obstáculos, desde que eu era criança. Portanto, eu nunca tive receio de encarar nada e não vai ser uma eleição como essa que me traria qualquer receio. Até porque uma vitória ou uma derrota não será pessoal. Quem vai disputar a eleição é o PT, o conjunto do partido. Eu tenho plena e total convicção de que iremos ganhar a eleição. Até porque, em todas essas conversas ao longo de 11 meses, eu disse e repito aqui: se eu tivesse qualquer dúvida disso, o primeiro a não colocar o meu nome ou retirar seria eu próprio. Se eu ainda sou desconhecido da população e apareço na última pesquisa que divulgaram com 5%, outros nomes são conhecidos e tem um, dois ou três pontos a mais do que eu. Em tese, quem está em uma posição diferenciada? Quem é conhecido por 80% da população e tem 8%, 9% na pesquisa? Ou quem é desconhecido e tem 5%? Acho que isso deve ser levado em conta. Eu tenho amplo convencimento de que há etapas diferentes no processo. Primeiro, é preciso avaliar se aquela pessoa escolhida para tocar um projeto tem condições de encarnar e tocar o projeto. Depois, há o desafio de tornar a pessoa conhecida. Em seguida, as pessoas precisam gostar daquela pessoa [risos]. Porque, se não gostarem, não adianta nada. Você se tornou conhecido, mas as pessoas não lhe querem. Ser conhecido não é tudo; às vezes é o inverso. Quando você tem alguém conhecido e que aparece lá embaixo, não significa propriamente uma rejeição, mas as pessoas acham que não deve ser ele. Esse é o pior do mundo. Você, não tem mais espaço nenhum para caminhar, já é conhecido de todo mundo, mas as pessoas não lhe querem. Quando você é desconhecido, há um universo a conquistar. Eu tenho um universo a conquistar, afirmando um projeto político. As pessoas não vão votar somente pelas características pessoais do candidato. Vão votar pela avaliação que fazem do projeto em curso e pelo conjunto de propostas. Graças a Deus, ao longo da minha vida, essa é uma das minhas marcas. Se você pedir às pessoas para me definirem em dez palavras, duas vão se repetir: seriedade e cumpre o que fala. Essa sempre foi uma marca minha.
BN - No segundo mandato de Wagner, houve algumas questões que causaram um certo desgaste ao governo, que estava bem avaliado e foi reeleito. Houve greve da PM e dos professores. Mais recentemente, aconteceu o julgamento do mensalão. O senhor acha que isso será um entrave para a eleição do PT? Como um nome novo para a população, o senhor seria uma escolha contra o desgaste do PT?
RC - Sobre o mensalão, eu acho que é uma página virada na história do PT. O julgamento está feito, tem que se cumprir e ponto final. Eu tenho o convencimento de que foi um erro de financiamento de campanha. Pagamos e estamos pagando por esse erro. Por isso, eu sou um defensor de financiamento público de campanha, para que erros como esse não se repitam nunca mais. E isso já está lá no tempo. Se isso tivesse algum efeito eleitoral, teria acontecido em 2006. O mensalão foi em 2005. Um ano depois, isso estava vivo na memória das pessoas. Em 2010, estava mais vivo ainda na memória das pessoas. Se isso não foi decisivo em 2006 e 2010, não será em 2014, na minha opinião. Até porque o julgamento está feito, está dado. Se tem alguma coisa positiva, pelo menos na nova era do PT as punições foram feitas, coisa que nunca aconteceu no passado. O que ocorreu no mensalão é exatamente a mesma forma de financiamento de campanha que durante anos foi feita em Minas Gerais. O erro cometido foi copiar o modelito. Alguém chegou e disse que tinha um modelito que os tucanos faziam em Minas, redondinho, e que nunca deu problema. Na minha opinião, alguns companheiros acreditaram nisso. Só que o do PT foi julgado e condenado. E o de Minas os tribunais empurram com a barriga e nunca julgaram o mensalão mineiro, os crimes dos tucanos. Em relação a desgaste do governo, eu não acho que exista. Todo governo, no mundo inteiro, tem altos e baixos, a depender da conjuntura momentânea. Ao final de um processo, você não é julgado por cada avaliação alta ou baixa ao longo do governo. Na Alemanha, a chanceler foi reeleita. Ela teve momentos de baixa avaliação e de alta. Ela foi julgada pela média disso, não pelo mínimo ou pelo máximo. Assim eu acho que será com o governador Jaques Wagner. Nosso projeto será julgado pela média do desempenho, não pelos momentos melhores ou piores. A greve da PM não foi só na Bahia. Houve um encadeamento de várias greves no país por melhores salários. Com os professores, foi a mesma coisa. Como ex-sindicalista, o governador teria dado mais do que ele deu, se pudesse. Há os limites orçamentários e legais que impedem que qualquer governante vá além disso. Da semana passada para cá, muitos policiais que eu encontrei na rua disseram: "Olha, Rui, deixa eu ser franco com você. Nós ficamos p... da vida com vocês porque nós esperávamos e queríamos que vocês fizessem muito mais. Mas a tropa tem consciência de que nenhum ouro governo fez o que foi feito no período de vocês em termos de condições de trabalho". Isso vale para os professores. Os salários são ótimos? Não. Nós tentaremos pagar mais. Com esses recursos dos royalties do petróleo, eu espero que a gente possa alavancar o salário dos professores para um patamar bem mais justo. Mas você precisa combinar a receita com a despesa. E há limites impostos pela lei. Em oito anos, o governador deu 56% de aumento real aos professores. Antes de Wagner, foi 6% de aumento real – eu estou desconsiderando a inflação. São 6% contra 56%. O número fala por si só. São valores n vezes maiores.
BN - O senhor soube do encontro da cúpula do PP com Eduardo Campos na semana passada?
RC - Soube.
BN - O que achou?
RC - A opção que cada partido faz pela movimentação e simbologia da política cabe a cada partido. Eu sempre sou adepto às movimentações e simbologias de agregação. Essas me agradam mais, quando você adota uma iniciativa do ponto de vista de agregar e fortalecer o seu grupo. Na minha opinião, todas as ações que vão em um caminho inverso não ajudam em um processo de fortalecimento. Graças a Deus, nós vivemos em uma nova Bahia, em um novo tempo, onde o governador instituiu a liberdade de expressão, a iniciativa política livre de cada partido. E cada partido vai traçando o seu caminho, fazendo o que achar mais conveniente.
BN - Há uma disputa nessa chapa majoritária pela vaga de vice, o senhor sabe bem, entre o PDT e o PP. Há essa movimentação do PP e Marcelo Nilo já disse aqui que, se ele não for vice, pode também se juntar à chapa do PSB. Como é que Rui vai conseguir aliar os interesses desses dois partidos?
RC - Eu tenho convicção de que o PP, o PDT e todos os partidos da base caminharão conosco na eleição. A Bahia é um estado de um povo magnífico e que quer dar as mãos a outros estados do Nordeste. Mas a Bahia vai consolidar e manter a sua posição de autodeterminação. Na minha opinião, a Bahia não interferirá nas eleições e nem aceitará a influência de outros governos do Nordeste. Acho que os baianos não querem ser dirigidos pelo governo de Pernambuco. Ou do Ceará, Alagoas ou qualquer outro estado. Os baianos não querem ser influenciados pelos interesses de Pernambuco, Ceará, Alagoas ou Sergipe. Acho que o povo de cada estado deve, de forma autônoma, escolher os seus governantes. E sempre que cada estado tentar influir, tendo a achar que a população não vai gostar muito disso, de uma interferência direta de outros governadores.
BN - Mas o projeto de Eduardo Campos não é nacional? E o próprio Lula é pernambucano.
RC - É... O projeto é nacional, mas... O PT não está ditando em cada estado que ele deva ter esse ou aquele governante a partir do interesse de uma lógica de um outro estado de uma candidatura nacional. O que o PT nacional fez em relação à Bahia? A escolha do governador da Bahia cabe aos baianos. Foi isso que Lula e Dilma disseram. Os baianos têm que definir quem é o melhor nome para conduzir. Assim nós estamos fazendo. Eu acho que nós ainda vamos ter surpresa até a eleição porque, na medida em que você pleiteia um projeto nacional e não tem base nos estados, você acaba tendo uma influência muito mais forte do que seria o recomendável, na minha opinião. Isso vai deixar muitos arranhões. Porque você vai forçando algo que não tem naturalidade. Durante anos, o PT afirmou o seu projeto e perdeu muitas eleições até conquistar corações e mentes. Mas isso foi um processo longo. Fazer isso de forma bruta, sem parecer que existe uma intervenção de força nos estados, é muito difícil. E acho que isso logo, logo vai ficar claro, não só na Bahia como em outros estados. Uma interferência muito acintosa nas eleições estaduais para subjulgar os interesses de cada estado a um projeto pessoal. Tendo a achar que essa interferência indesejada vai incomodar em muitos estados.
BN - A conta para a chapa não fecha até o momento. O PT está encabeçando, e aí tem o PSD, PP e PDT. Pelo que se diz, o vice-governador Otto Alencar (PSD) deve concorrer ao Senado. Até o senhor já disse isso. Essa vaga seria, então, do PSD. O PP já disse mais de uma vez que espera uma confirmação do governador de que terá esse espaço na chapa. Negromonte falou que tem a garantia de Wagner. Pelo PDT, Marcelo Nilo já pontuou que, apesar de ser amigo do governador e leal, não vai aceitar ser “escanteado”. O senhor aposta que convencerá um dos dois a desistir?
RC - Estou confiante no bom senso e na contribuição de todos. Essa decisão cabe ao convencimento de todos os partidos e dos dois postulantes. A responsabilidade em construir a chapa não é só do PT; pertence a cada um dos partidos. Haveremos de encontrar um entendimento em que todos se sintam representados. Do mesmo jeito que não podíamos ter quatro candidatos do PT a governador, só tem uma vaga para vice. Encontraremos uma solução para isso, com a ajuda do PP e PDT. Nada substitui a conversa e a conversa sempre ajuda a encontrar uma solução. Vamos conversar individualmente, com cada um deles. Faremos reuniões com os dois juntos, separadamente também, com os outros partidos. Teremos alguns dias ou muitos dias para fazer isso. E as coisas vão sedimentando. Tem uma coisa na política que é fundamental, assim como na vida: a paciência é sempre uma boa companhia. O tempo ajuda a sedimentar. Até porque nós temos tempo para isso.
BN - Quando sai a chapa?
RC - Em uma entrevista neste final de semana, o governador colocou uma meta de termos isso resolvido até o final de fevereiro. Eu até estive com Marcelo Nilo este final de semana e ele opinou que era muito tarde, que deveríamos resolver antes. Eu disse: ‘Ótimo se pudermos ter a chapa resolvida em dezembro; melhor ainda’ [risos]. Final de fevereiro significa um limite máximo. Como dizem, o ano político se inicia após o carnaval.
BN - Se o senhor precisar escolher, prefere PP ou PDT?
RC - Prefiro neste momento ajudar e contribuir para o entendimento. E a melhor ajuda que eu posso dar é não manifestar opinião publicamente. Eu sei que a imprensa sempre busca e buscará que eu me manifeste sobre isso, mas agora, mais ainda, tenho a responsabilidade de harmonizar a base de governo. Não é recomendável que eu manifeste eventuais preferências na montagem da chapa. Nós teremos na verdade a vice, Senado, a suplência de senador e as chapas proporcionais, de deputado federal e estadual. Nós temos que arrumar isso. Nem agora, para vocês, nem em nenhum outro momento manifestarei preferência porque isso não ajuda no processo de construção.
BN - Mas, pessoalmente, Rui Costa tem uma chapa montada?
RC - Há algumas chapas montadas que dariam cenários positivos, na minha opinião. Agora, eu digo sempre que o ótimo é inimigo do bom. Até no futebol é assim. Aquele jogador que está na cara do gol e quer fazer de calcanhar ou trivela, acaba jogando a bola para fora. Se o cara quer fazer o gol de forma mais simples, acaba sendo mais efetivo. Então, a chapa ideal da minha cabeça pode não ser a chapa real.
BN - Para finalizar, como anda o cronograma do metrô?
RC - O cronograma do metrô continua exatamente como prevê o edital de licitação. O governo irá exigir o cumprimento do edital. As obras tiveram início. Uma obra paralisada é igual à arrancada de um carro. Ela inicia com um ritmo mais lento e, com o passar dos dias, acelera. E assim vai ser com a obra do metrô. O prazo continua valendo. Entre junho e setembro, nós teremos uma pré-operação ou operação assistida, tem várias nomes para isso, como queira. Ainda não é a operação comercial, ou seja, aquelas exigências contratuais ainda não valem para este período, como o intervalo mínimo de um trem para outro. As condições não são as condições operacionais. Então, nesse período, vai funcionar com toda a segurança para a população, mas ainda sem o rigor de uma operação comercial.
BN - A passagem será cobrada nesse período?
RC - A princípio, não. A passagem será gratuita. É um período onde está sendo ofertado à população um serviço ainda em teste. A partir de setembro, teremos a operação comercial até o Retiro. A partir daí, segue um calendário até Lauro de Freitas, em um prazo máximo de 42 meses. E até Águas Claras, também em um prazo máximo de 42 meses.Fonte:Bahia Noticias