“Aquele tempinho acabou!”
O radialista Virgílio Porto, falecido na terça-feira(14) e sepultado hoje, deixa na imprensa uma lacuna difícil de ser preenchida. Com Leguelé, como era mais conhecido (ele próprio gostava mais do apelido que do nome de batismo), perdemos um dos últimos radialistas consagrados pelo talento, nato, do humorismo.
Se minha memória não estiver cometendo nenhum lapso, este seleto grupo de comunicadores-humoristas contava com o próprio Leguelé e os também de saudosa memória Chico Caipira e Erivaldo Cerqueira. Em vida, este trio era de fazer qualquer um urinar de rir. E pensar que, um dia, estiveram juntos nesta vida, a alegrar todos nós, amigos, colegas de trabalho, ouvintes e admiradores.
Talvez, e mais uma vez peço desculpas se estiver enganado, reste apenas mais um, no rádio, com a verve humorística unificada à técnica da comunicação, o nosso querido Framário Mendes, que esperamos permaneça entre nós ainda por pelo menos mais 50 anos.
Trabalhei, no rádio, com todos eles e até tenho um breve "causo" para contar de uma das várias viagens de trabalho que fiz junto com Leguelé, quanto atuamos na equipe de esportes da Rádio Subaé. Mas esse relato fica para depois.
Com Chico Caipira, integrei a equipe do “Ronda Policial”, certamente o horário de maior audiência na cidade, em todos os tempos do nosso rádio, vivendo seu ápice nos anos 80, sob a sua batuta. Fui redator do programa. A minha Carteira de Trabalho era registrada como “roteirista” e eu me orgulhava tanto dessa nomenclatura que me sentia, à época, o próprio Agnaldo Silva, das novelas.
Aprendi o ofício com os mestres Agnaldo Santos e Itajay Pedra Branca, brilhantes profissionais que passaram pela mesma bancada e também foram redatores do horário, muito antes de mim. A gente recebia as ocorrências policiais e as transformava em histórias, em muitos casos bem humoradas. O sujeito que tinha o relógio roubado, no nosso texto, perdia o “redondo”.
“Brincávamos” muito com os casos de traição conjugais, brigas de marido e mulher e pequenos roubos. Verdade que algumas vezes causávamos indignação, principalmente das vítimas, que ficavam furiosas ao ter seus nomes, envolvidos em situações complicadas, divulgados em tom de gozação. Chico era, de todos, o de maior talento. Sua interpretação não ficava nada a dever aos melhores personagens de um “Zorra Total” ou “Escolinha do Professor Raimundo”.
Erivaldo Cerqueira, autor de vários bordões (“hoje é sexta-feira, barra forte; quem pode come bacalhau, quem não pode, se acaba no morre sambando”; “abra essa boca cheia de dentes e diga tudo, não me esconda nada”), fez muitos ouvintes sorrir à exaustão, em diversos programas que apresentou, de sertanejos a policiais, passando também pelo esporte e por noticiário geral.
Leguelé, um ex-inflamado chefe de torcida do seu Fluminense, que muitas, inúmeras vezes, provocava imagens na televisão pulando o alambrado do Jóia da Princesa para peitar o árbitro que, em seu entendimento, prejudicava o Touro do Sertão, entrou para essa galeria de humoristas do rádio com méritos.
“Aquele tempinho acabou!”. Assim ele costumava cumprimentar os amigos. Era tarefa quase impossível encontrar Leguelé com cara amarrada. Além de sorridente e espalhafatoso (sua presença era notada em qualquer ambiente, ou pela voz sempre muito alta ou por estar contando alguma piada, que tinha pronta, na ponta da língua).
de que, nessa dimensão de nossa existência, o que deixamos mesmo, de boas recordações para os que por enquanto ficam, é o nosso estado de espírito.
Despertaremos as melhores lembranças, nos nossos amigos e familiares, se fomos alegres, se buscamos melhorar o humor das pessoas e provocamos boas sensações. Devemos, todos nós, nessa vida, ser um pouco “leguelés”.Texto/foto:Jornalista-Valdomiro Silva