segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
Núcleo de apoio a Dilma na Câmara fica 60% menor
O governo contabilizou onze derrotas em 37 votações na Câmara dos Deputados no segundo semestre de 2013. Nunca a presidente Dilma Rousseff perdeu tanto em tão pouco tempo - ela sofrera só três derrotas ao longo de todo ano de 2011, cinco em 2012 e outras cinco no primeiro semestre do ano passado. O aumento das derrotas se deu na esteira da onda de protestos que tomaram as ruas em junho de 2013 e derrubaram a popularidade da presidente. A tendência de perda de apoio na Câmara, contudo, vem de longe: o chamado núcleo duro governista - aqueles que votam com Dilma em pelo menos 90% das vezes - caiu de 306 deputados em 2011 para 134 em 2012 e fechou o ano passado com apenas 123 parlamentares (72% deles do PT). Ou seja, a presidente só pode contar mesmo com o voto de um a cada quatro deputados.
Como o governo tem maioria teórica no Congresso, as derrotas só podem ser impingidas por seus aliados. Nessas onze derrotas, os partidos da base de apoio a Dilma que mais traíram a presidente foram PSD e PSB, mas não só eles. Ao racharem, os peemedebistas também atrapalharam bastante. Além disso, o PMDB detém a presidência da Câmara e determina o que e quando será votado.
Alguns aliados do governo preferiram dificultar a vida de Dilma apenas em votações-chave, apoiando o Planalto maciçamente nas outras matérias. Como resultado, a taxa de apoio ao governo aumentou no segundo semestre, apesar das derrotas. A média de apoio na Câmara foi de 81% dos votos entre julho e dezembro, contra 72% nos semestre anterior.
Tome-se o caso do PSD: O partido de Gilberto Kassab foi o primeiro a anunciar publicamente apoio à reeleição de Dilma. Mas, na Câmara, o PSD agiu como se fosse de oposição. O líder do partido recomendou que sua bancada votasse contra o governo em oito das onze derrotas de Dilma no segundo semestre. Só para comparar, o PSDB fez isso em nove das onze votações.
A liderança do PSD foi na contramão do governo, por exemplo, na apreciação das propostas de extinção da multa sobre o FGTS a ser paga pelos empregadores em caso de demissão, na criação do programa Mais Médicos e no apoio da proibição de o BNDES conceder empréstimos subsidiados em fusões ou aquisições de empresas.
Também bateu de frente nas votações da dívida dos municípios e dos royalties do petróleo.
O PSB fez o discurso oposto - anunciou sua saída do governo, por causa da candidatura presidencial de seu chefe, Eduardo Campos, e cumpriu a promessa. De uma taxa de governismo de 94% em 2011, o PSB caiu para 88% em 2012 e para 77% em 2013. Foi o único grande partido que teve taxa de governismo menor no segundo semestre (74%) do que no primeiro (79%). E já anunciou que vai radicalizar a tendência em 2014.
Senado - A situação no Senado é similar, apesar de mais confortável. O número de derrotas pulou de três no primeiro semestre de 2013 para dez no segundo - e todos os partidos governistas votaram contra o governo em algum momento. O núcleo duro, porém, continua o mesmo de 2011, com 25 senadores.
Para o professor da FGV-SP Cláudio Couto, o "desgaste" na relação de Dilma com os aliados explicam parte das derrotas. "Quando fica claro que a conduta ruim do governo não vai se alterar, as pessoas votam contra." Humberto Dantas, do Insper, concorda. "As derrotas mostram que é notório que temos um governo que não sabe negociar e que envolve pouco o Legislativo nas decisões."
(Com Estadão Conteúdo)