O vice-presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, Hugo Miyahira, também membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, afirma que a situação não representa necessariamente um problema, depende dos anseios de cada mulher ou casal.
"Na fase mais madura, o que importa na relação é a gratificação, independentemente se existe orgasmo ou não".
Só existe um orgasmo
Mesmo com tantas informações disponíveis, ainda é comum que homens e mulheres persigam alguns mitos sexuais, que dificultam a experiência plena do prazer e também estão por trás das representações na cama. Um deles é de que existe dois tipos de orgasmo, o clitoridiano e o vaginal. Os especialistas são unânimes em dizer que o orgasmo é único, o que muda é o ponto de estímulo.
"Elas colocam na cabeça que têm que ter orgasmo com o pênis dentro da vagina. Isso é um mito. Pensam que para ser normal é preciso chegar ao orgasmo assim. Sexo vai muito além da penetração", afirma Tânia Santana.
Para não decepcionar os parceiros ou por desconhecimento do próprio corpo, algumas acabam fingindo e o ciclo de desinformação se perpetua.
Por mais que o comportamento humano mude e evolua, alguns mitos são perpetuados através das gerações. Quando o assunto é sexo, então, não é nada difícil que um conceito da época da sua avó volta e meia seja citado por alguém como verdade incontestável. Falta de informação, preconceito e dificuldade para abordar o tema são alguns dos fatores que ainda mantêm vivas algumas crenças equivocadas.
Sigmund Freud, criador da Psicanálise, também contribuiu negativamente para a distinção entre os prazeres femininos. "Freud disse que o orgasmo clitoridiano era característico da adolescência e que o vaginal correspondia à mulher adulta, madura. As pesquisas mostraram que isso é uma falácia", desmistifica Hugo Miyahira.
O médico explica que é possível aumentar as sensações de prazer no interior da vagina, com exercícios como a "manobra da ponte", em que a manipulação do clitóris e a penetração ocorrem ao mesmo tempo, facilitando depois de algum tempo o orgasmo durante o coito. Entretanto ele afirma que o orgasmo exclusivamente vaginal "não existe", reiterando a ideia de que o orgasmo é um só.
Ser desejada
Fingir prazer também pode ser uma maneira de manter o interesse do outro e a harmonia na relação. "A mulher brasileira tem mais desejo em ser desejada do que em exercer o próprio desejo.
Às vezes, se ela não está com tanto tesão, é mais fácil fingir que gozou do que arriscar perder algo que considera mais importante do que gozar", diz a antropóloga e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Mirian Goldenberg, autora de "Tudo o que Você Não Queria Saber sobre Sexo" (Editora Record).
Para evitar frustrar o parceiro, por cansaço, interesse em outras coisas, baixa libido, por preguiça de discutir a relação, medo que o homem procure outras ou simplesmente falta de vontade naquele momento, muitas seguem com o teatro na cama. Mirian não vê esse comportamento como submissão, apenas como parte da dinâmica sexual.
"O homem faz parte desse jogo. Ele também tem dúvidas [acerca do prazer da parceira], mas faz o jogo. São estratégias que existem dentro do jogo sexual", explica a antropóloga.
Também há uma parcela de mulheres que simula o prazer por não conseguir ou saber como chegar ao orgasmo, com receio da inadequação. "A mulher espera pelo homem. Mas não é ele que dá o orgasmo à mulher, é ela que tem de buscar seu orgasmo", fala a coordenadora do Cresex.
Tânia insiste no velho tripé comunicação, confiança e intimidade para uma vida sexual saudável e satisfatória para ambos os sexos.