O Vaticano disse nesta quinta-feira que não há desculpas para o abuso sexual de crianças por membros do clero, na primeira reunião do Comitê da ONU para os Direitos da Criança sobre o tema com participação de membros da Santa Sé.
O encontro acontece em meio à investigação das Nações Unidas sobre a suspeita de violação da Declaração Universal dos Direitos da Criança pelo clero. O Vaticano é acusado de encobrir o escândalo de abuso sexual por padres que teria ocorrido em países como Estados Unidos, Irlanda e México.
Na sessão desta quinta, o representante do Vaticano na ONU, monsenhor Silvano Tomasi, disse que existem abusadores em todas as profissões do mundo, incluído o clero. "Encontram-se abusadores nas profissões mais respeitadas do mundo e, mais lamentavelmente, entre membros do clero e profissionais da igreja", disse.
Ele ainda afirmou que esses crimes nunca devem ser justificados, independente se ocorram "em casa, nas escolas, nas atividades esportivas ou nas organizações e estruturas religiosas". O monsenhor prometeu a ajuda da Santa Sé, que, segundo ele, se dispôs a receber sugestões sobre como coibir a prática.
No entanto, criticou a comissão por ter acusado a Igreja Católica de obstruir a investigação."A crítica de que está tentando interferir, obstruir, não se sustenta. Pelo contrário, queremos que haja transparência e que a Igreja siga seu curso", disse, em entrevista à rádio Vaticano.
Esta é a primeira vez que o Vaticano se manifesta publicamente nas Nações Unidas sobre o assunto. No mês passado, a Santa Sé se negou a dar mais informações sobre os procedimentos canônicos que estão sendo efetuados para punir os sacerdotes envolvidos em abuso sexual.
Sobre o assunto, Tomasi afirmou que não era obrigação da Cúria entregar os dados devido às diferenças entre os direitos laico e canônico. Para a responsável pela comissão da ONU, Sara Oviedo, é necessário que a Igreja Católica dê o exemplo. "Os castigos aplicados nunca parecem refletir a gravidade dos fatos", disse.
ESCÂNDALO
Os primeiros casos de sacerdotes que abusaram de crianças e adolescentes foram denunciados primeiro nos Estados Unidos no início dos anos 2000. Em seguida, envolveram as Igrejas de vários países da Europa, sobretudo da Irlanda, onde foram registrados milhares de abusos.
A Igreja da América Latina também conheceu uma série de escândalos. O mais famoso foi o do fundador mexicano do movimento conservador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, também culpado de abusos sexuais.
Em maio de 2011, a Congregação para a Doutrina da Fé, encarregada das denúncias, deu o prazo de um ano às conferências episcopais do mundo para a adoção de diretrizes contra a pedofilia, incluindo a colaboração com a Justiça civil.
Em abril, o papa Francisco pediu uma "atuação decisiva" para eliminar os abusos sexuais dos religiosos e garantir que os responsáveis sejam punidos. Três meses depois, assinou um decreto que aumenta a punição a prostituição, violência sexual, pedofilia e posse de pornografia.
Em dezembro, criou uma comissão destinada a investigar os crimes sexuais cometidos pelo clero. Nesta quinta, ele disse que a Igreja Católica deve se envergonhar pelo número de escândalos que aconteceram no clero.
"Os responsáveis [pelos escândalos] tinham uma posição na Igreja, uma posição de poder e também de comodidade, mas não com a palavra de Deus".