Ai, ai… O deputado presidiário João Paulo Cunha (PT-SP) vinha perdendo a compostura faz tempo. Boa parte dela se foi quando protagonizou parte das tramoias do mensalão, o que lhe rendeu condenações por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Outra parte ele perdeu depois de condenado, quando saiu vociferando por aí contra o ministro Joaquim Barbosa, esquecendo se de que, em dois crimes, ele foi condenado por 9 a 2; em um, por 6 a 5. Logo, Barbosa, sozinho, não poderia mandar ninguém para a cadeia.
Com a compostura zerada, ele decidiu perder também aquela coisa que faz corar as pessoas. Como a gente chama? Decoro? Vergonha? Limites? Não é que o homem decidiu reivindicar à Vara de Execuções Penais do DF a licença para continuar a exercer o mandato durante o dia? Não só isso: também quer sair para dar sequência a seu curso de direito.
Este senhor foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão, o que lhe renderia regime fechado. Como recorreu de uma das condenações — por lavagem — a parte já com trânsito em julgado é de seis anos e quatro meses. Caso o STF recuse aquele recurso, ele vai é para o regime fechado.
Qual é a de João Paulo? Ele quer fazer de conta que não é o que é: um condenado, um presidiário? Como já escrevi aqui, o regime semiaberto também é um regime fechado, mas que permite certas regalias, a depender da decisão do juiz, com base no comportamento do preso. O regime semiaberto não é o aberto, o do albergado, em que o condenado é apenas obrigado a dormir numa instituição pública.
João Paulo já disse que não vai renunciar. O PT fará de tudo para retardar a abertura do processo de cassação pela Mesa da Câmara. A rigor, já está aí um conflito entre Poderes. O Supremo já havia decidido pela perda automática do mandato dos mensaleiros, mas a Presidência da Câmara insiste que essa é uma prerrogativa sua.
Para que um processo comece, precisa ser aprovado pela Mesa Diretora, onde o PT tem dois representantes. Eles devem pedir vista para adiar o máximo possível. O voto, desta feita, será aberto. Vamos ver. Enquanto isso não acontece, o Brasil passa pelo vexame histórico de ter dois deputados presidiários: João Paulo e Natan Donadon. Por decisão do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), por enquanto, João Paulo continua com todas as regalias próprias de um deputado.
Os parlamentares que decidiam. Se um lugar feito para recolher bandidos começa a abrigar deputados, os deputados não poderão reclamar se a população passar a confundir a Câmara com um lugar de bandidos.
" Médica cubana cobra R$ 36 mil do governo brasileiro"
Por Marcela Mattos, na VEJA.com:
A médica cubana Ramona Matos Rodríguez quer que o governo brasileiro lhe pague pelo menos 36.000 reais. O dinheiro, segundo ela, refere-se à diferença entre o salário que recebia e o ofertado aos demais participantes do programa Mais Médicos. Enquanto Ramona tem remuneração mensal de 400 dólares – cerca de 1.000 reais -, os demais participantes do programa federal recebem 10.000 reais mensais.
Responsável por denunciar o caso, o partido Democratas prepara duas ações para ingressar na Justiça do Trabalho do Pará. A primeira será uma ação trabalhista que pedirá o ressarcimento referente aos quatro meses de trabalho, de outubro a fevereiro. Ramona ganha apenas 10% do prometido pelo programa federal, que visa superar o déficit de médicos levando profissionais – brasileiros e estrangeiros – aos rincões do país.
A segunda ação será por danos morais, já que a cubana alegou ter se sentido enganada pelo governo brasileiro. O requerimento tentará ainda que Romana receba, de forma retroativa, o valor que seria pago em encargos trabalhistas, como o 13º salário e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O programa, no entanto, não prevê tais benefícios a nenhum dos participantes. “Nós já temos conhecimento de que vários cubanos que estão refugiados em Miami entraram com esse processo na Corte Internacional e tiveram decisão favorável. Então, sem dúvida alguma, o Brasil também vai ter de responder a essa ação a todos os cubanos que se encontram no país”, disse o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO).
O DEM vai pedir ainda que a Procuradoria-Geral do Trabalho solicite indenização coletiva a todos os cubanos, sob o argumento de que o governo dos irmãos Castro “não pode dar ordens sobre a legislação brasileira”. “Eles não podem impor um regime ditatorial num país democrático”, afirmou Caiado. Atualmente mais de 7.000 médicos cubanos estão atuando no Brasil.
Ramona deixou a cidade de Pacajá, no Pará, no último sábado, e buscou abrigo no gabinete da liderança do DEM, onde dormiu por uma noite. Nesta quarta-feira foi protocolado o pedido de refúgio, o que lhe garante liberdade para transitar pelo país até que o caso seja julgado, e a cubana deixou a Câmara dos Deputados. Ela está hospedada na casa do deputado Abelardo Lupion (DEM-PR). De acordo com Ramona, ela estaria sendo seguida pela Polícia Federal. O governo brasileiro nega.
Convite de emprego
A Associação Médica Brasileira (AMB) ofereceu um emprego para Ramona no escritório da entidade de Brasília. Ela trabalharia na parte administrativa da entidade. De acordo com o presidente Florentino Cardoso, essa seria uma forma de ajudar seu sustento no país até que consiga a aprovação no Revalida – exame que permite aos estrangeiros atuarem no país. Os médicos que vêm ao país para trabalhar no Mais Médicos não podem atuar fora do programa.
O salário ainda não está definido. “Com certeza será mais que os 400 dólares que ela recebe”, diz o presidente da AMB, que promete ainda conceder à cubana todos os direitos trabalhistas. “Nós queremos mostrar que os médicos brasileiros não têm nada contra os estrangeiros. Só queremos que sigam as nossas leis”, disse Cardoso.
Fonte:Veja - Por Reinaldo Azevedo