PUBLICADO EM 31 DE MAIO DE 2009
Ninguém provido de cérebro espantou-se com a notícia de que, embora more de graça na residência oficial do presidente do Senado e tenha uma casa em Brasília, José Sarney figura na lista dos premiados com o salário-moradia ─ pilantragem que, a cada mês, engorda em R$3,8 mil a conta bancária dos pais da pátria. Assombroso é o palavrório forjado pelo ex-presidente da República para justificar mais um brasileiríssimo absurdo.
“Peço desculpas pela informação errada que dei”, começou Sarney, que dois dias antes negara a verdade documentada. “Eu nunca pedi auxílio-moradia e, por um equívoco, a partir de 2008, segundo me informaram, estavam depositando o valor na minha conta”, avançou a procissão de vírgulas arquejantes e sujeitos indeterminados.
Nunca pediu auxílio-moradia? Nem poderia ter pedido: a boca-livre foi revogada há tempos. “Por um equívoco”, alegou Sarney. Quem se equivocou? “A partir de 2008″. A partir de que mês? Dezembro? Ou janeiro? “Segundo me informaram”. Quem informou? Quais pessoas informaram? “Estavam depositando”. Quem estava? “O valor”. O feliz depositário acha dispensável explicitar a quantia?
Na forma, a declaração não honra um imortal da Academia. No conteúdo, sugere que o político José Sarney descolou-se de vez do Brasil real — e, sobretudo, da capitania hereditária que controla há 50 anos. Em 2008, a renda per capita do Maranhão ficou pouco acima de R$ 3 mil. Só com o auxílio-moradia, o morubixaba ganha a cada mês bem mais do que um maranhense comum demora um ano para juntar.
O que para Sarney é uma ninharia, incapaz de chamar-lhe a atenção quando entra na conta bancária, é para os outros o preço da vida que é possível ser vivida.Fonte:Veja