Hoje, 36% acham o governo Dilma ótimo ou bom. O número caiu. Em fevereiro, eram 41%. Consideram-no regular 39% dos entrevistados, e os que o veem como péssimo subiram de 21% para 25%. Então vamos comparar. Essa avaliação da gestão Dilma é muito parecida com a do governo Lula em abril de 2006: 37% diziam que era ótimo ou bom; 38%, que era regular, e 23%, ruim ou péssimo. Também os índices eleitorais são semelhantes: em abril de 2006, Lula tinha 40% das intenções de voto; o tucano Geraldo Alckmin aparecia com 20%.
E Lula não conseguiu se reeleger no primeiro turno. Ficou com 48,61% dos votos. Os 20% de Alckmin se transformaram em 41,64% nas urnas, no dia 1º de outubro de 2006. A diferença, que, em abril, se mostravam gigantesca, foi de apenas 6,97 pontos percentuais.
A eleição de 2010 assusta os petistas um pouquinho mais, nem tanto pelo resultado final: no segundo turno, Dilma obteve 56,05% dos votos válidos, e o tucano José Serra, 43,95%. O susto está em outro lugar. Atenção! Em abril de 2010, Serra ainda estava na frente de Dilma no Datafolha: 38% a 28% para o tucano. A candidata desconhecida, o “poste de Lula”, como era chamada então, já tinha começado a sua ascensão. Chega a ser espantoso que tenha havido segundo turno em 2010. E, no entanto, houve. E por que digo que foi espantoso? Vamos à avaliação de governo: em abril de 2010, achavam-no ótimo ou bom 73% dois entrevistados. É mais do que o dobro do que se tem hoje: 36%. Consideravam-no só regular 22%, 17 pontos percentuais a menos do que agora: 39%. Viam-no como ruim ou péssimo apenas 5% dos entrevistados: um quinto apenas do que se tem na gestão Dilma: 25%. Com uma avaliação como aquela, era praticamente impossível o governo não vencer a eleição — e venceu, como se sabe. Mas não no primeiro turno.
Notem: em 2010, a maioria deixava claro que não queria mudar quase nada no país. Mesmo assim, Serra chegou ao segundo turno. Em 2014, já registrou o Ibope, 64% dizem esperar um governo completamente diferente; 63% desses 64% — ou 40,32% — querem mudar de rumo e de presidente. No Datafolha, são 72% os que querem mudança, um número muito superior à soma dos votos de Aécio e Campos: 26%. É que muita gente, 39%, ainda aposta que Lula poderia corrigir os rumos do país — mas ele não será candidato — ou que a própria Dilma poderia operá-la: 16%.
Assim, noto que, com o governo do PT muito mais bem avaliado do que hoje — mais do que o dobro de aprovação —, houve segundo turno em 2010. Por que não haveria agora? Mais: há quatro anos, a esmagadora maioria queria conservar a administração; hoje, quer mudá-la. Falta agora que Aécio Neves e Eduardo Campos se identifiquem com a transformação. Eles têm a seu favor o fato de que 57% dizem conhecer Dilma muito bem — apenas 17% afirmam o mesmo de Aécio e 8% de Campos. Nunca ouviram falar de Dilma apenas 1% dos entrevistados; número que chega a 25% com Aécio e 42% com Campos. Mesmo assim, a rejeição aos três é a mesma: 33% no Datafolha. Conclusão: muita gente rejeita Dilma porque a conhece, e muitos rejeitam Aécio e Campos porque não os conhecem.
Os número autorizam a dizer que haverá, sim, segundo turno, que a disputa não será fácil para a presidente e que o risco de derrota do petismo é o maior de 2002 para cá. Isso tudo ajuda a entender a urucubaca de Rui Falcão sobre Dilma. No fim da semana passada, com a elegância costumeira, indagado se a candidatura dela era irreversível, mandou ver: “Irreversível, só a morte!”. Vá se benzer, presidente!
Por Reinaldo Azevedo