A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana acredita que os homens se sentem bem quando são cantados por uma mulher. Apesar de as mentalidades estarem mudando, tenho sérias dúvidas de que seja algo tão simples.
A mulher tomar a iniciativa pode causar um certo constrangimento. Afinal, o homem foi treinado para o papel de conquistador, e fora dele muitos não se sentem à vontade. Temem dar um branco na hora, não saber como agir nem o que dizer. E o pior: pode falhar a ereção. Desde menino ele acreditou que faz parte da natureza masculina ser ativo e da feminina, a passividade.
É comum haver resistência a qualquer comportamento diferente do habitual. Mas mesmo assim, novos valores acabam sendo absorvidos com o tempo. Quando os homens começaram a usar cabelo comprido, algumas famílias viveram situações dramáticas. Na década de 70, atendi um casal no consultório que ameaçou expulsar o filho de casa se ele não cortasse o cabelo.
O motivo alegado foi inacreditável: diziam que cabelo comprido é anti-higiênico. Nem se davam conta de que a filha, também adolescente, usava o cabelo até a cintura e eles nem ligavam. Preconceito é assim mesmo, não tem lógica nem argumento. Ninguém pensa no que diz. É só repetição, e se inventa qualquer desculpa para justificar.
A intolerância que as modificações dos costumes provocam sempre fez vítimas. Até os anos 50, um homem querer ser ator de teatro, por exemplo, era inadmissível na família e ele acabava se formando em engenharia ou qualquer outro curso “adequado” aos homens. Usar camisa colorida e até mesmo lavar a cabeça com shampoo seriam manchas indeléveis na virilidade. Mulher trabalhar fora, vestir calças compridas, dirigir automóvel, nem pensar. Mas a partir dos anos 70 as mudanças foram muito mais profundas e radicais do que estas.
Entretanto, na relação homem-mulher existem alguns padrões de comportamento tão arraigados às mentalidades, que se tornam defasados de outras transformações antes ocorridas. Como é difícil as pessoas aceitarem que a necessidade e o desejo sexual são iguais para ambos os sexos!
A consequência disso é muitos homens, até hoje, ficarem constrangidos quando a mulher toma a iniciativa. Muitas mulheres, por sua vez, continuam a reprimir a expressão dos seus desejos, levando para o sexo sentimentos de medo e culpa. Não é sem motivo. Temem ser criticadas pelas próprias amigas.
É evidente que nem todas romperam com o mito da mulher passiva que se faz bela e, como Branca de Neve, espera começar a viver só depois de ser beijada pelo príncipe. A atitude da mulher atual, moderna e independente, às vezes surpreende. Quando vai a uma festa e fica com um homem que a interessou, no dia seguinte se agarra ao celular, aguardando ser procurada por ele. Por que não toma a iniciativa e o procura?
Mas como vivem as mulheres que não se sujeitam mais a esse script? Muitas vezes encontram dificuldades na troca amorosa. Alguns homens se assustam com a sensação de não saber onde estão pisando. Sentem medo e, inseguros, imaginam não poder corresponder à expectativa da parceira.
Sem dúvida, o novo intimida, mas não há retorno. É necessário que cada um busque uma saída para viver com mais satisfação. Esses conflitos só vão ser resolvidos quando o sexo for aceito como algo bom, natural, que faz parte da vida. E não se precisar mais atribuir a ele motivos que não lhe são próprios.Fonte:reginanavarro.blogosfera.uol.com.br