terça-feira, 13 de maio de 2014
Pará supera morte do pai, dispensa da base e brilha na Série A
Sorrisos, lágrimas e dois nomes no pensamento: João e Eucilene. “Dedico o gol a minha mãe, por tudo o que tem feito na minha vida. No meu primeiro jogo como profissional, ela chorou muito e agora está muito feliz”, presenteou Pará. No domingo, o jogador de 18 anos balançou a rede aos 45 minutos do segundo tempo e garantiu o empate em 1x1 no Ba-Vi da Fonte Nova.
Apesar de ter sido marcado no Dia das Mães, o primeiro gol da carreira não foi dedicado só a dona Eucilene. “Também dedico o gol ao meu pai, que já não está mais aqui comigo, mas com certeza está lá do céu cuidando de mim”, disse.
Os capítulos da história de Pará nem sempre tiveram lágrimas de alegria, como no domingo. O jovem atleta teve que amadurecer mais rápido na vida após perder o pai no início de 2013. João dos Santos Ferreira era pedreiro e morreu em um acidente de carro quando viajava a trabalho do Rio de Janeiro a São Paulo.
“Ele sempre foi um menino de bom comportamento, não era de estar em farra, em barca, mas isso (a morte do pai) fez ele sentir que tinha uma responsabilidade maior com a família. Isso fez ele se compenetrar mais em seus objetivos”, relata o ex-coordenador da base tricolor Newton Mota. Demitido do Bahia em 2013, Mota foi o responsável por levar o garoto para o Fazendão.
O primeiro contrato profissional foi assinado logo depois da morte do pai. Pará foi aprovado em sua segunda passagem pelo Fazendão. A primeira foi em 2012, quando fez testes, mas não permaneceu porque o clube deu prioridade a outros dois laterais. “Consegui um título no sub-17, mas, infelizmente, após uma derrota por 3x0 pro Vitória, o diretor da base (Mota) me mandou embora. Os jogadores até fizeram uma manifestação porque não queriam minha saída, mas fui pra casa. Fiquei cinco meses em casa. Passarinho, que era treinador de goleiro, assumiu o posto de treinador, gostava do meu futebol e mandou eu voltar”, lembra.
Nascido em Capanema, interior do Pará, Anderson Ferreira da Silva passou também pela base do Remo. Foi no clube paraense que o jogador de 1,67 m decidiu mudar de posição. Fã do pentacampeão mundial Roberto Carlos, Pará trocou o ataque pela lateral esquerda.
“Virei lateral por causa da estatura. Vi que de atacante era um pouco difícil, aí mudei de posição. Já cheguei no Bahia como lateral. Não teve ninguém que disse, foi uma decisão minha mesmo”, explicou em sua primeira e única entrevista concedida no Fazendão, dia 18 de fevereiro. Ainda sem jeito com os microfones, precisou ser puxado pelo amigo Railan para frente das câmeras após o gol de empate no clássico.
“Eu disse ao Maxi que queria muito fazer um gol. Ele até me pediu pra tocar a bola para ele na hora, mas eu disse ‘não’ e fiz o gol”, narra. “Tive frieza na hora do gol. A gente trabalhou isso a semana inteira, de que eu podia ter papel no ataque também”.
Tímido fora dos gramados, ousado dentro dele. Pela idade e sequência lógica da base, Pará deveria ser reserva do time júnior nesta temporada. Pra surpresa de quem o levou ao Bahia, o lateral subiu para o profissional no início do ano, a pedido de Marquinhos Santos. “Pra ser sincero, me surpreendeu sim. Ele passou para o profissional atropelando todo mundo”, admite Mota.
“Ele era titular do sub-18 e Vítor titular do sub-19. Teoricamente, Vítor estava na frente dele e é um bom lateral. Só que Vítor se machucou e Pará passou a jogar na categoria de júnior. Nesses treinamentos que o profissional faz contra a base, ele começou a se destacar. Depois, teve um jogo da Copa Governador do Estado que ele jogou e a comissão técnica viu, gostou e disse que queria. Aí entra o mérito de Marquinhos (Santos)”.
O jogador mora no alojamento do Fazendão, mas, com o aumento salarial obtido na renovação de contrato até dezembro de 2017, já decidiu se mudar. “Agora tenho condição de arranjar um apartamento. Minha mãe vem pra cá e eu vou ficar mais à vontade e mais feliz”.
Pará estreou na derrota por 2x1 contra o Santa Cruz, em Caruaru-PE, pela Copa do Nordeste, dia 2 de fevereiro. De lá pra cá, atuou em outros 11 jogos. Teve sequência a partir da final do Campeonato Baiano, quando Guilherme Santos se lesionou, e se firmou neste início de Brasileirão. Fundamental nas últimas duas rodadas, foi dele o passe para o gol de Maxi contra o Botafogo.
“Ele tem muita volúpia, é um lateral muito fogoso, e essa é uma característica que a torcida do Bahia gosta. É assim desde Daniel Alves, Ávine... A torcida do Bahia gosta de lateral que apoia, atrevido, que vai na linha de fundo. Ele respondeu positivamente a todos os testes e mostrou personalidade sem mudar a característica dele. Não esperava que ele desse uma resposta tão positiva em tão pouco tempo”, elogia Newton Mota.Fonte:Correio da Bahia