Não é só a genialidade de Lionel Messi que tem iluminado o caminho da Argentina nesta Copa do Mundo: a equipe viu sua estrada até a final clarear graças à eliminação de algumas seleções tradicionais logo na primeira etapa da competição. A fase de grupos terminou nesta quinta-feira, com as últimas quatro partidas de classificação para as oitavas de final e a montagem de todos os cruzamentos na rota até o Estádio do Maracanã, palco da decisão, em 13 de julho (confira todos os confrontos). Como não houve grandes zebras nesta rodada derradeira – a poderosa Alemanha confirmou o primeiro lugar em seu grupo, deixando os Estados Unidos na segunda posição –, a Argentina será a única campeã mundial em seu lado da chave. O Brasil, por outro lado, ficará numa estrada cheia de armadilhas. Se passar pelo Chile, no sábado, em Belo Horizonte, a equipe pode enfrentar o bicampeão Uruguai já nas quartas e a tricampeã Alemanha ou a campeã França na semifinal. No lado argentino, a principal força é a Holanda, três vezes vice-campeã, que a seleção de Messi só pegaria numa possível semifinal. Trata-se, evidentemente, de uma projeção ainda distante – num Mundial em que diversas favoritas já sucumbiram diante de equipes menos consagradas, é bem possível que alguma das cinco gigantes classificadas às oitavas saia dos trilhos antes dos cruzamentos mais aguardados, nas quartas e semis do torneio.
A trajetória menos complicada – pelo menos na teoria – foi um duplo golpe de sorte dos argentinos. A estrela dos bicampeões mundiais brilhou logo na definição dos grupos, no fim do ano passado, quando o sorteio colocou o time de Messi num cruzamento com um grupo mais modesto nas oitavas e com chances menores de cruzamento com outra campeã mundial nas quartas. Para completar, três equipes tradicionalíssimas que poderiam cruzar seu caminho foram eliminadas logo de cara. Quem via a Espanha como provável primeira colocada de sua chave e Itália e Inglaterra disputando o topo do grupo da morte com o Uruguai não imaginava que essas três campeãs (uma delas, a Azzurra, a única que era capaz de alcançar o Brasil em número de títulos nesta Copa) voltariam para casa tão cedo. Com a Alemanha confirmada no topo de seu grupo nesta quinta, um lado da chave somará onze títulos mundiais (cinco dos brasileiros, três dos alemães, dois dos uruguaios e um dos franceses) e o outro, apenas dois, dos argentinos. A chance de surgimento de uma campeã inédita no Brasil estará nos pés de outras onze seleções: Chile, Colômbia, Nigéria, México, Holanda, Costa Rica, Grécia, Suíça, Bélgica, Estados Unidos e Argélia. Derrotada em três finais no passado (1974, 1978 e 2010), a seleção holandesa, uma das melhores da competição até agora, surge como a candidata mais realista a um primeiro título – nas demais, convenhamos, é difícil crer, apesar de boas campanhas de equipes como Colômbia, México e Bélgica.
Tabela e simulador: Confira todos os cruzamentos da segunda fase
Sobreviventes - Entre as seleções que carimbaram o passaporte para as oitavas, a Nigéria é a equipe com pior colocação no ranking da Fifa, ocupando apenas o 44º lugar – e ela está na parte brasileira da chave. Mas os nigerianos são exceção: quatro das dez primeiras colocadas (a Alemanha, em 2º lugar, o Brasil, em 3º, o Uruguai, o 7º, e a Colômbia, 8ª) estão num mesmo lado da fase eliminatória. Outras quatro (Itália, Inglaterra, Portugal e a líder Espanha, que deverá ser desbancada do topo na próxima atualização da lista) já deram adeus ao Mundial, deixando para a parte argentina da chave apenas a própria seleção de Messi (em 5º lugar) e a Suíça (em 6º), coincidentemente sua adversária nas oitavas. Há outras curiosidades no cruzamento, como a possibilidade de uma (improvável) partida de quartas de final entre dois africanos (Nigéria e Argélia), as únicas sobreviventes do continente. Além das duas seleções africanas, há cinco sul-americanas e seis europeias, e uma boa presença de representantes da Concacaf, que reúne as equipes das Américas Central e do Norte: Estados Unidos, México e Costa Rica seguem vivas, e todas terão rivais europeus nas oitavas. Os sul-americanos, com cinco de suas seis representantes na Copa classificadas às oitavas, sofrerão um corte brusco nas próximas fases: com os confrontos de sábado, Brasil x Chile e Uruguai x Colômbia, dois já voltam para casa no fim de semana. Os que vencerem se encaram em seguida, com a garantia de um semifinalista do continente que recebe a Copa pela quinta vez (e que teve o campeão nas outras quatro).
Ao mesmo tempo, do outro lado da chave, a Argentina pretende aproveitar o fato de a sorte ter sorrido para ela e espera ser outra sul-americana entre as quatro melhores seleções do planeta. Depois de duas edições consecutivas em que sua despedida foi idêntica – eliminação nas quartas de final para a Alemanha, em 2010 e 2006 – e de ter sido despachada logo na primeira fase em 2002, a equipe alviceleste quer alcançar as semis pela primeira vez desde 1990, quando foi finalista e caiu diante da Alemanha (sempre ela) na final. Neste ano, a vingança contra os alemães pode ocorrer só na decisão, desde que os tricampeões mandem embora a Argélia, como todos esperam, superem a França, favorita a bater a Nigéria, e ainda tirem do caminho a equipe vencedora da “mini-Copa América” a ser disputada por Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai. O retrospecto recente dos alemães, aliás, mostra excelentes campanhas, interrompidas apenas pelas campeãs. Foi assim em 2002 (quando perderam para o Brasil na final), em 2006 (quando caíram na semi, me casa, contra a Itália), e em 2010 (quando só sucumbiram na hora de encarar a Espanha, que acabou levantando sua primeira taça). E neste ano, como será: a Alemanha será capaz quebrar essa sina, sendo ela própria a campeã, ou voltará a servir de amuleto para quem a tirou do páreo, como nas últimas três Copas? Como o Brasil pode encontrar com a tricampeã mundial na semifinal, a torcida é por esse último cenário. Tantos retrospectos, coincidências, estatísticas e projeções começam a ser colocadas à prova no fim de semana. Depois de uma folga na tabela nesta sexta, será o momento de dar início à fase em que o Mundial esquenta de verdade.