Entrevista – José Agripino Maia
Em 1998, ano da reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o PFL era o principal partido de sustentação do governo federal e chegou a controlar um em cada cinco deputados federais. Em 2005, numa tentativa de deixar de ser apenas um satélite dos governos tucanos e aplacar disputas internas, a sigla anunciou a “refundação” do partido e a mudança para o nome Democratas – ou DEM. Não deu certo. Nos últimos dezesseis anos, a agremiação despencou do seu auge para a atual bancada de 28 parlamentares na Câmara. Além disso, amargou o desgaste de ver o governador José Roberto Arruda deixar o cargo algemado em um dos maiores escândalos de corrupção da década. "Defenestramos Arruda e até hoje pagamos o preço de ouvir menções ao ‘mensalão do DEM’ de Brasília", diz o presidente da sigla, senador José Agripino Maia (RN), escolhido coordenador da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB). A derrocada continuou quando o ex-prefeito Gilberto Kassab abandonou o DEM para criar o PSD. E levou quase vinte deputados federais, além de senadores, um governador, vereadores e prefeitos. O resultado foi que o DEM, desta vez, não teve peso para indicar o vice de Aécio, mas aposta no tucano suas últimas fichas para, nas palavras de Agripino, "voltar à mesa dos grandes". Leia a entrevista ao site de VEJA.Nos últimos anos, o DEM enfrentou problemas, como a queda expressiva do tamanho das bancadas, o mensalão do Arruda e a criação do PSD. Onde o partido errou? O partido tomou decisões erradas no passado e preencheu espaços políticos de forma incorreta. Por isso, perdeu espaço. O partido teve o vice-presidente, teve ministros, mas, como ator secundário do governo, não teve suficiente estrutura e capacidade de condução para manter seu tamanho ou crescer. A verdade é essa. Não tínhamos prefeito de nenhuma capital, mas começamos a dar a volta por cima elegendo prefeitos em Salvador, Aracaju e Vila Velha. Se acontecer o que estamos pensando, com a eleição de sete senadores e 35 deputados, o DEM volta a sentar à mesa dos grandes. É evidente que o partido sofreu com os episódios do Arruda e com a questão do Kassab. Pagamos um preço injusto. Defenestramos Arruda e até hoje pagamos o preço de sermos mencionados como "mensalão do DEM" de Brasília, quando fomos o único partido que expulsou o implicado.
O DEM já foi um dos principais contestadores das cotas em universidades federais e um grande crítico do Bolsa Família. Agora defende o programa de transferência de renda do governo do PT. O que mudou? Foi um equívoco recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra as cotas. Foi um equívoco e publicamente reconhecido como um equívoco. Somos a favor da cota social, mas contestar as cotas raciais foi errado e não era o caminho que o partido deveria ter seguido.
O senador Aécio Neves tem se esforçado para afirmar que vai manter o Bolsa Família e assegurar os direitos dos beneficiários. O Bolsa Família é uma conquista e um patrimônio da sociedade e dos mais pobres. Mas é um projeto perfeito e acabado? Será que ele cabe naquilo que defende, que é dar oportunidade às pessoas de crescer na vida? Por isso Aécio apresentou um projeto para ampliar o benefício por seis meses mesmo que a pessoa consiga emprego e tenha sua renda ampliada. As pessoas atualmente não querem emprego formal porque perdem o Bolsa Família. Por isso Aécio se apresenta como garantidor desse direito e é defensor do aperfeiçoamento do programa. É a manutenção de uma conquista social com a abertura de uma porta para aqueles que almejam crescer na vida tenham essa oportunidade. Ele tem uma visão empreendedora de valorização da capacidade do cidadão. É um novo modelo.
Isso é uma resposta ao Nordeste, região que recebe quase metade dos recursos do Bolsa Família e Aécio é desconhecido? Nada a ver. O Bolsa Família não é privilégio do Nordeste, embora haja a proeminência do programa lá e na região Norte, onde a população é mais carente. Insistimos que há chance zero de Aécio acabar com o Bolsa Família. O Plano Real, por exemplo, não é patrimônio do Fernando Henrique ou do Lula, é da sociedade. Assim como o Bolsa Família, que hoje é uma conquista.
Ainda sobre o Nordeste, seu nome foi cogitado para ser candidato a vice, mas o senhor acabou como coordenador da campanha. Não fui vice porque a opção do Aécio foi consolidar São Paulo, a obrigação é entender isso e colaborar para a vitória. Aécio entendeu que a melhor pessoa para costurar a coordenação regional para tocar a campanha, por ter a capacidade de conciliar onde há divergência, era eu. Por acaso sou nordestino e por acaso sou presidente do Democratas, que foi quem primeiro deu a mão para a campanha dele. Foi uma sucessão de coincidências, e não o fator geográfico de eu ser nordestino. Há mais de um ano estou costurando alianças para o Aécio.
O senhor já disse que a oposição não conseguirá ganhar as eleições se não estiver unida. Para essas eleições, seria mais producente se fosse apenas um candidato contra Dilma? No segundo turno, toda a oposição deve estar junta para vencer Dilma. Nesse momento, a oposição não está rachada. Ela tomou rumos paralelos, divergentes circunstancialmente, mas o que está na cabeça do eleitor do Eduardo Campos é um voto de oposição, um voto contra o establishment. Ele rompeu com a Dilma e adotou um discurso de oposição claro. No primeiro turno, a quantidade de candidatos de oposição leva à pluralidade do debate e força o segundo turno e a pluralidade de argumentos. Os argumentos de Aécio não são necessariamente os mesmos de Eduardo Campos ou do Pastor Everaldo, mas são argumentos que se somam e no final, no segundo turno, ficam todos contra a Dilma. O eleitor do Pastor Everaldo, do Eduardo Campos e do Aécio é o eleitor em busca da mudança. Esses eleitores deverão se encaminhar para o mesmo rumo no segundo turno e unir forças pela mudança e pelo conserto do que está errado.
Ao contrário da presidente Dilma, os candidatos de oposição submergiram durante a Copa. O Mundial, para a seleção brasileira, terminou em frustração. Isso pode tirar votos dela? Não acredito. Mas aquilo que o PT estava querendo fazer, que é o uso político da Copa, na melhor das hipóteses para o governo, estanca. Não haverá benefício e poderá até haver prejuízo por conta de frustrações e dos comentários e dos posicionamentos. Dilma preparou-se para usar politicamente a Copa e quis atribuir a si o sucesso de tudo, até do desempenho da seleção.
Diante da frustração com a derrota do Brasil, como fica o discurso dos candidatos sobre a Copa do Mundo e seu legado? Agora Dilma vai parar de tentar usar a Copa. E o Aécio não vai mexer nisso porque a Copa não deve ser um instrumento político. Ele entende a Copa como um episódio esportivo e, como candidato, pretende resolver as questões estruturais do Brasil. Pode-se criticar a Copa pelo custo dos estádios e pela corrupção. Mas na Copa em si, que deveria orgulhar o Brasil, não, porque não é uma matéria política. A Copa não será objeto da campanha, mas o que se fez na Copa e os erros cometidos poderão ser eventualmente discutidos. Podemos discutir que poderiam ter feito mais obras de infraestrutura para o Brasil como um todo, e não por causa da Copa. Deveriam ter feito estrada de escoamento de minério em Minas Gerais, duplicação de rodovias, a ferrovia Norte-Sul. Esse assunto Copa não vai ser objeto de campanha. Em matéria de saldo, a Copa já deu o que tinha que dar e o que a Dilma queria faturar, não vai faturar. Se aliados de Aécio vincularam Copa e eleição, fizeram isso indevidamente e é um erro.
A presidente Dilma terá mais do que o dobro do tempo de TV de Aécio e Campos somados. Como reverter essa desvantagem? Para quem tem argumentos e tem o que dizer para o eleitor, o tempo de TV de Aécio é um bom tempo. A Dilma pode ter 11 minutos de exposição, mas vai ter dificuldade de dizer a que veio, porque vai contar um bocado de conversas pela metade. Ela prometeu um mundo de coisas que hoje vemos que não saíram do papel. O tempo de TV muito grande é bom quando se tem histórias para contar com começo, meio e fim. Se a Dilma fosse uma candidata que tivesse entregado 80% do que prometeu, muito bem para ela. Mas o percentual do que ela fez é mínimo e o tempo de televisão pode ser uma faca de dois gumes, porque ela pode começar a falar coisas que não fez e apelar para meias-verdades. Quando disser que é realidade obras que não são, vai acabar sendo um tiro no pé. Na TV ela não poderá, por exemplo, falar que fez a ferrovia Norte-Sul, metrôs nas cidades, o trem-bala. É só ver o que está feito. O governo Dilma não cumpriu o que prometeu e, por isso, ter 11 minutos de propaganda ainda pode depor contra ela. Fonte:Veja