Uma das ferramentas mais poderosas dos candidatos na busca por cargos políticos teve estreia nesta terça-feira. O horário eleitoral gratuito terá duas edições diárias na televisão, de segunda a sábado. Os programas, produzidos pelos partidos, vão ao ar das 13h às 13h50min e das 20h30 às 21h20min.
Nas terças, quintas e sábados, aparecem os candidatos ao cargo de presidente da República — nos primeiros 25 minutos — e a deputado federal — nos 25 minutos restantes. Nas segundas, quartas e sextas, falam aqueles que pleiteam vagas de governador, deputado estadual ou distrital (com 20 minutos para cada cargo) e senador (que ocupam os últimos 10 minutos). No rádio, os horários são das 7h às 7h50min e das 12h às 12h50min, com a mesma divisão entre cargos.
Especialistas indicam que os discursos devem começar comedidos. Candidatos devem falar de suas trajetórias políticas , apresentar as principais propostas e indicar ao eleitor que rumo suas campanhas tomarão.
A morte de Eduardo Campos — que provavelmente será substituído por Marina Silva na candidatura à presidência — deve ser tratada com respeito e cuidado, mas pode ser usada politicamente, tanto para bem quanto para mal, como explica o professor de Ciências Sociais e coordenador do Centro Brasileiro de Pesquisas em Democracia da PUCRS Rafael Madeira:
— Não fazer nenhuma menção pode ser interpretado como uma desconsideração da tragédia e passar uma mensagem prejudicial. Mas mencionar tentando fazer ganho eleitoral pode ser visto como oportunismo.
Em meio a tanto marketing, técnicas cinematográficas, discursos complicados e promessas de todo tipo, o eleitor pode acabar se perdendo. ZH consultou cientistas políticos de três instituições de ensino para listar dicas que podem ajudar a usar o horário eleitoral como mais um fator na escolha do candidato. Confira:
1. Informe-se
Desde o primeiro momento das campanhas, vão ser muitas as promessas e as acusações. Com isso, é bem provável que você vá escutar exageros, distorções e até mesmo inverdades. Por outro lado, é provável que candidatos tentem esconder parte de suas vidas. Para se precaver das dissimulações, Madeira dá uma sugestão que parece óbvia, mas é considerada primordial:
— Quanto maior for o volume de informação, maior vai ser a capacidade de julgar as promessas, constrastar o que se diz com o que foi feito, o prometido com as posições que o candidato teve no passado. Quanto mais informação sobre os candidatos, os partidos, as coligações, melhor a condição de o eleitor não ser iludido.
2. Imagem (não) é tudo
Além da diferença nos tempos disponíveis para cada um dos candidatos, a qualidade visual de cada gravação também fica clara logo de início. Enquanto alguns candidatos apresentam vídeos de baixa qualidade, áudio ruim e pouca edição, outros mostram filmes que parecem saídos de Hollywood. Algo intrínseco da corrida eleitoral, isso pode confundir o eleitor, indica o cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley Reis:
— Não tem remédio, nós vamos ter, sim, o trabalho de marketing, vamos ter teatro. As consequências disso são inevitáveis no processo eleitoral brasileiro. O fato é que a maioria do eleitorado é pouco atento, desinformado, pouco sofisticado politicamente, o que o torna passível de ser manipulado.
3. O ataque pode ser a melhor defesa — mas não basta
Nem só de propostas vive uma campanha política. Sempre houve, e é inevitável que haja, muito ataque. Principalmente entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, essa guerra já começou. É do jogo, mas analistas apontam que só isso não é o suficiente. É preciso propor novidades:
— Não adianta só criticar, se eu não apresento motivos para o eleitor votar em mim. Essa fronteira tem que ser dada pelo julgamento individual do eleitor. Existe uma separação entre o discurso positivo, que propõe, e o da crítica abaixo da linha da cintura, que acontece principalmente nas redes sociais — diz Madeira.
4. Promessas milaborantes devem acender o sinal amarelo
Propostas novas e revolucionárias que podem melhorar a vida de todo mundo são sempre bem-vindas. Porém, é muito fácil cair em um conto da carochinha. O cientista político e coordenador das Ciências Sociais da Ulbra Paulo Moura aponta um exemplo:
— Eu lembro de um candidato que propunha um trem-bala entre Porto Alegre e o Litoral. Se nem o governo federal conseguiu fazer um trem entre São Paulo e Rio de Janeiro, que são as principais cidades do país, imagina um entre Porto Alegre e Capão da Canoa. Se o candidato vem com propostas mirabolantes de gastar bilhões em um estado que está com dificuldades financeiras, é evidente que não vai conseguir cumprir.
Outro exemplo importante são candidatos que apresentam propostas em áreas que não são exatamente responsabilidade daquelas para as quais se candidataram. Então, atenção quando um candidato a deputado federal falar de pedágios em estradas estaduais ou quando o candidato a presidente falar em policiamento. Eles têm pouca ou nenhuma força para mudar isso.
5. Se correr, o bicho pega
Não dá para fugir, no ano passado os protestos que tomaram conta do país deixaram bem claro: a população pediu por um sistema de saúde mais eficiente, educação de qualidade, maior segurança nas ruas. Serão essas, essencialmente, as diretrizes que devem pautar a corrida eleitoral de 2014. E é por isso que Moura alerta para tomar cuidado com candidatos que fugirem desses assuntos:
— Se o candidato é evasivo em relação a questões centrais, o eleitor deve ficar alerta. Se a sociedade está reivindicando melhoria do transporte, da educação, da saúde, é preciso que haja propostas nesse sentido.
6. Converse
O processo político se dá por meio de conversa. E na hora de votar não é diferente: os analistas destacam a importância de conversar com amigos, familiares e colegas sobre as posições e propostas debatidas no dia anterior.
— Caso não se sinta seguro, é legal conversar com outras pessoas, gente que se sinta em melhores condições de informar. Dá para eventualmente pesquisar mais detalhadamente na internet, também — sugere Paulo Moura.
Fonte: Jornal Zero Hora