Líderes do PSB afirmaram, em entrevista nesta quinta-feira (14) ao UOL, serem favoráveis que a ex-senadora Marina Silva seja a escolhida pelo partido para disputar a Presidência da República no lugar de Eduardo Campos, morto ontem (13) em acidente aéreo ocorrido em Santos (72 km de São Paulo). Outros seis ocupantes da aeronave --dois tripulantes e quatro integrantes da equipe de campanha de Campos-- também morreram.
A definição sobre a candidatura presidencial será tomada pelo PSB somente após o sepultamento de Campos, de acordo com as principais lideranças da sigla. O partido, entretanto, tem dez dias para escolher um substituto. Além disso, na próxima terça-feira (19) começam a ser exibidos os programas eleitorais na televisão e no rádio.
A reportagem entrevistou três senadores que integram a Executiva nacional do PSB. Todos disseram que a definição sobre a candidatura só começará a ser tomada após o enterro de Campos, mas afirmaram que o "caminho natural" é a escolha de Marina.
"A questão é: quem é a pessoa mais preparada para assumir a direção desse projeto? O PSB vai tomar essa decisão, só vamos discutir isso após o sepultamento, mas, no meu entendimento, o caminho natural é a escolha da Marina", afirmou o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), candidato do PSB no Distrito Federal.
Para o senador João Capiberibe (AP), segundo vice-presidente da sigla, o partido avaliará os "prós e contras" de cada escolha, mas, em sua opinião, vai "chegar a conclusão de que o melhor caminho é a Marina".
"Até porque Eduardo e Marina tinham um entendimento profundo. Em nenhum momento Marina colocou em dúvida qualquer possibilidade de reivindicar a cabeça de chapa. O partido deve encaminhar a candidatura da Marina", afirmou.
O também senador Antonio Carlos Valadares (SE) vê "Marina bem colocada" para assumir a candidatura e afirmou que a ex-senadora "é uma vice que acompanhou todos os passos do Eduardo" e que deve o "conhecer de perto".
A senadora Lídice da Mata, candidata ao governo da Bahia, preferiu não manifestar sua opinião e disse que seu "compromisso é construir uma alternativa" aos petistas e tucanos. A candidata do PSB afirmou que o partido "sequer começou a conversar" e o que houve até agora foram "manifestações individuais."
Além os senadores, o advogado e escritor Antonio Campos, irmão de Eduardo e integrante do diretório nacional do PSB, escreveu uma carta aos correligionários em defesa da candidatura de Marina.
Partidos coligados
Também são favoráveis à ex-senadora os partidos que estão coligados com PSB na chapa presidencial, entre eles o PPS. "Não é só o PSB quem vai decidir, são todos os partidos da coligação. O PPS ainda não conversou, mas estamos trabalhando para manter a unidade. A candidatura de Marina seria o mais provável. Ela assumiu esse compromisso de manter a unidade em torno do programa", afirmou o deputado federal Roberto Freire (SP), presidente do PPS.
Para Freire, o nome de Marina é capaz de unificar o PSB e os coligados. "Ela está preparada para isso, entendeu o programa que unificava ela e o Eduardo e como dar continuidade a isso."
Controvérsia
Com Marina candidata, aumentam as chances de o PSB ir ao segundo turno, considerando o desempenho da ex-senadora nas eleições 2010, em que ela obteve 19% dos votos, e o fato de ela ser uma figura mais conhecida nacionalmente do que o pernambucano.
Ao escolhê-la, a sigla aumenta as chances de eleger, pela primeira vez, um presidente, quebrando a hegemonia de PT e PSDB e consolidando a aposta em uma "terceira via".
Por outro lado, o nome de Marina enfrenta resistência de setores do partido. A ex-senadora filiou-se ao PSB após o registro de sua organização, a Rede Sustentabilidade, ter sido rejeitado pela Justiça Eleitoral.
Na ocasião, Marina afirmou que seu ingresso na sigla tratava-se de uma "filiação democrática", mas nunca escondeu que migraria à Rede quando o partido fosse legalizado. Isso quer dizer que, no caso de uma vitória de Marina nas urnas, é provável que, mesmo na Presidência, ela troque o PSB pela Rede quando a sigla for fundada.
Além disso, Marina foi contrária à aliança do PSB com o PSDB em São Paulo e com o PT no Rio de Janeiro, tanto é que ela se recusa a participar de atos de campanha ao lado do tucano Geraldo Alckmin e do petista Lindberg Farias. Marina também incomoda os representantes do agronegócio, setor que exerce influência no PSB.
Para João Capiberibe, a definição dependerá também dos resultados das primeiras pesquisas eleitorais após a morte de Campos. O desempenho de Marina nos levantamentos, diz o senador, pode ser decisivo para unificar o partido em torno da ex-senadora.
"Assim como o Eduardo vinha crescendo, Marina vai ter uma grande recepção do eleitorado. Isso acaba ajudando na unidade. A voz da rua é decisiva neste momento. Teremos um ou outro foco de resistência, mas o caminho natural é que ela continue o trabalho do Eduardo", disse.
Capiberibe não vê problemas se Marina vencer o pleito pelo PSB e depois trocar a sigla pela Rede. "O desejo dela em fundar a Rede foi posto sempre com muita clareza desde o começo. Ela vai estar livre [para fazer a troca], mas no governo haverá uma aliança sólida. Não vejo qualquer incompatibilidade em ela manter o compromisso com a Rede e a nossa aliança. Isso não seria um obstáculo no futuro."
Pesquisas com Marina
Antes da definição das candidaturas, o Ibope realizou quatro pesquisas com Marina entre os candidatos. Em outubro de 2013, ela aparecia em 2º lugar, com 21% das intenções de voto, em outubro de 2013.
Em abril de 2014, ela caiu e apareceu com 10% das intenções, mas ainda tecnicamente empatada com Aécio, que tinha 14%. Dilma liderava com 37%. Os levantamentos de março e abril já incluíam candidatos nanicos nos cenários com Marina. Os anteriores apresentavam somente Dilma, Marina e Aécio (veja acima o gráfico com as pesquisas do Ibope).