No dia 3 de outubro de 2010, o sindicalista Jaques Wagner, ex-ministro do governo Lula, foi reeleito com esmagadora maioria em primeiro turno para mais um mandato à frente do governo da Bahia. Desbancou com facilidade o ex-governador Paulo Souto (DEM), aliado fiel do do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, e Geddel Vieira Lima (PMDB), então deputado e também ex-ministro de Lula. O PT comandaria por oito anos o quarto maior colégio eleitoral do país, com mais de 10 milhões de votos, reduto estratégico para a vitória da petista Dilma Rousseff.
Quatro anos depois, o antigo prestígio do PT derreteu. Por ter comprado sucessivas brigas com policiais militares e professores e ter prometido dezenas de obras que não saíram do papel, nem os candidatos do PT querem aparecer ao lado de Jaques Wagner no material de campanha. Entre aspirantes a deputado, banners com a foto do governador são raridade pelas ruas de Salvador – ao contrário da imagem favorita dos petistas, o ex-presidente Lula.
A aprovação do governo estadual não chega ao patamar de 30%, segundo pesquisas. Em quatro anos, Wagner não conseguiu preparar um sucessor e agora tenta aos trancos emplacar seu ex-chefe da Casa Civil, Rui Costa, neófito nas urnas.
Do outro lado, o trio DEM-PSDB-PMDB decidiu unir forças para retomar o comando do Estado. Costurada pelo candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, mas com articulação direta do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), estão juntos neste ano antigos desafetos. Líder nas pesquisas de intenção de votos, o ex-governador Paulo Souto, candidato ao governo, marcha ao lado do ex-adversário Geddel Vieira Lima (PMDB), que busca o Senado. Como vice-governador, o escolhido foi o tucano Joaci Goes.
“As divergências passadas começaram a ser superadas em 2012. Há muito desgaste do governo e houve o convencimento de que era importante que fizéssemos a aliança mais ampla possível para enfrentar o governo e a máquina do PT nas eleições. Essa aliança estruturou e consolidou politicamente a chapa e passou a ser mais competitiva”, diz o ex-governador Paulo Souto. “É evidente a exaustão do PT em relação à Bahia. Por isso, é como se as diferenças históricas entre os adversários se amenizassem nesse momento."
“O que explica essa aliança e também a liderança de ACM Neto são, principalmente, a repercussão no Estado da política nacional. Essa chapa para o governo da Bahia tem a ver com a formação de um campo antipetista que ganhou enorme espaço no Brasil na atual campanha e pode ganhar maior espaço após o resultado das eleições”, afirma Paulo Fábio Dantas Neto, cientista político da Universidade Federal da Bahia.
O desgaste contínuo do governo Jaques Wagner não só abriu caminho para a volta dos herdeiros de ACM como também pode transformar o território baiano no principal flanco de sobrevivência do partido – de maior legenda na Câmara Federal, com 105 deputados em 1998, o DEM hoje tem só 28 e virou uma agremiação satélite do PSDB.
Na disputa deste ano, sete anos após a morte de ACM, o espólio político do coronel baiano é utilizado apenas moderadamente e somente em momentos convenientes. “Fui o mais longevo dos amigos de Antonio Carlos que exerceram cargos políticos importantes e que não brigaram com ele. Tem certas coisas que foram marcas do que se convencionou chamar carlismo e que as pessoas sempre veem com simpatia, como o discurso de lutar pela Bahia, mas sempre me considerei alguém que tem independência”, diz Souto.
“O carlismo era o estilo de um homem. Mas agora o que há é mais do que isso, é uma sensação de ‘chega PT’”, dispara Geddel Vieira Lima.
Para Souto, Geddel e para o DEM, sobretudo, as eleições de 2014 são uma chance de sobrevivência.Fonte:Veja